Manual de Aterrisagem para Portais Infernais

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- Certo, chica, o que tá rolando?

Contive o revirar dos olhos, meus lábios crispados em desgosto. Leo riu da careta que tomou meu rosto.

Fazia poucos minutos que havíamos chegado ao México, especificamente a Teotihuacan, o antigo centro urbano de cidades incas marcado por enormes pirâmides de pedra com topo quadrado, como Leo fez questão de explicar antes que Annie pudesse abrir a boca, o que não a deixou tão satisfeita. No entanto ela foi a responsável por confirmar que aquela era precisamente a próxima parada da nossa missão: Teotihuacan significava deliberadamente "local onde os homens se tornam deuses".

Um problema a menos. Só restava sobreviver ao próximo desafio: a batalha do labirinto. Ou o que quer que aquilo significasse.

Sendo um ponto turístico do México ficou decidido que atuaríamos durante o final da tarde onde o fluxo de turistas era menor, evitando contratempos desnecessários. Com as poucas horas livres até o fim da tarde o grupo se dispersou: Annie, Piper, Jason e Percy seguiram para um frondoso carvalho a leste das pirâmides, Annie em busca de mais informações sobre o Mestre depois do que foi revelado por Héstia enquanto os outros curtiam o pouco tempo de descanso.

Em poucos minutos estávamos apenas eu, Leo e Nico. E um silêncio perturbador. Era difícil ignorar os olhares intensos do filho de Hades sobre mim, era como fogo vivo sobre minha pele, mas resisti bravamente pronta para implorar para Leo passear comigo pelas ruínas, qualquer coisa para me afastar daqueles olhos negros que aqueciam meu peito ao mesmo tempo que me quebrava por dentro, mas Nico logo murmurou "vou conseguir comida" e sumiu na sombra mais próxima num piscar de olhos.

O alívio e a tristeza lutavam dentro de mim, mas puxei Leo e passamos a caminhar tranquilamente como meros turistas admirando as formações enormes. Até o moreno soltar a fatídica pergunta. Na verdade, ele conteve sua curiosidade mais tempo do que eu esperava, mas era óbvio ela viria mais cedo ou mais tarde. Não era como se eu e Nico escondêssemos muito bem. Os olhares intensos seguido do desviar dos olhos, o silêncio automático sempre que estávamos próximos, a distância entre nós. Qualquer um estranharia para um casal que um dia antes não conseguia ficar longe um do outro.

Deixei o silêncio durar mais um pouco, torcendo para que Leo mudasse de assunto diante da minha clara aversão a falar. Ergui os olhos. O filho de Hefesto ainda me encarava com as sobrancelhas erguidas, ele não desistiria tão fácil. Suspirei.

- Não foi nada...

- Nem me venha com "não foi nada demais" – Leo falou ao mesmo tempo com uma imitação ridícula da minha voz que me fez rir um pouco. – Você é minha amiga, Duda. Sei que tem algo de errado. Até porque o di Angelo volto a ser o carrancudo de antes. Então fala logo.

- Certo. – Admiti derrotada e dei de ombros, amenizando o assunto com um descaso fingido. – Eu e Nico... a gente se desentendeu. Foi só.

- Ah, não! Pode melhorar isso! – Leo exclamou exasperado enquanto se recostava na base de uma das pirâmides, os braços cruzados no meio do meu caminho. – Detalhes, chica, quero detalhes.

- Tudo bem, gossip girl! – Resmunguei e parei a sua frente, os olhos baixos enquanto sentia minhas bochechas corarem. – Quando estávamos na China, procurando pistas em um dos jardins, as coisas entre nós ficaram mais... intensas.

- Oh, agora tá explicado porque o Percy encarava Nico como se fosse mata-lo com a força da mente. – Leo falou consigo mesmo, acenando e sorrindo zombeteiro. – Não me diga que ele viu!

- É, ele viu... só um pouco. Mas esse não foi o problema. – Confessei e voltei os olhos para Leo que apenas inclinou a cabeça, um ouvinte atento me incentivando a prosseguir. – Antes de Percy surgir na mensagem de íris eu soltei uma frase maldita que foi o que causou tudo isso. Eu...eu disse para Nico que o amava.

Realidade ImagináriaWhere stories live. Discover now