Saudações e Adeus

484 33 1
                                    

- Eu estou bem, então parem de me olhar como se eu fosse desmaiar a qualquer momento! - Rachel respirou fundo e apoiou a cabeça no encosto da cadeira alternando o olhar entre mim e Quíron. Seus olhos verdes estavam cansados como se ela houvesse envelhecido anos em minutos. Subitamente ela cerrou os olhos e apoiou a cabeça entre as mãos. Dei um passo para frente, mas ela ergueu a mão ainda com a cabeça baixa. - Eu... eu só preciso parar de ver dois de vocês que logo estarei novinha em folha.

Ela ergueu a cabeça lentamente e forçou um sorriso que saiu mais como uma careta. Alcançou a xícara de chá sobre a mesa e deu um longo gole suspirando em seguida. Seus cabelos ruivos estavam banhados de suor que os deixavam ainda mais parecidos com fogo enquanto sua mão livre estava cerrada e jogada ao lado da cadeira, o único sinal que ela deixava transparecer de seu cansaço. Ela voltava ao normal aos poucos e tentava nos passar que estava bem, mesmo que eu visse que estava quebrada por dentro. Como ela conseguia suportar tanto e ainda estar de pé todos os dias? Ser tomada pelo espírito de Delfos não parecia ser nada saudável e aquela profecia....

Meu coração ainda batia acelerado pelas palavras que saíram quase como uma música de terror da boca de Rachel no estúdio de arte. Perplexa, eu escutei tudo e no fim o espírito partiu do corpo da ruiva levando consigo as forças dela. Ela desabou de joelhos, com os olhos cerrados e respirando com dificuldade, mas ainda acordada. Com as mãos tremendo, apoiei o braço da garota sobre meus ombros e a levei a passos lentos em direção à Casa Grande. Meus pensamentos pareciam um furacão enquanto eu atravessava o acampamento pela parte mais isolada com Rachel tropeçando entre as pedras e gemendo. Graças aos deuses nenhum semideus nos viu, o que foi um alívio e uma preocupação, onde todas haviam se metido? Rachel ainda balbuciava palavras desconexas quando subimos a varanda da Casa Grande e eu abri a porta sem cerimônia. Minha surpresa foi ver Quíron parecendo furioso em frente a dois garotos ruivos que pareciam envergonhados. Com certeza eu acabara de interromper mais um castigo dos Stolls. As três cabeças se voltaram assustadas para a porta quando pousei Rachel gentilmente sobre uma das cadeiras de madeira. Em poucos minutos eu contei a Quíron sobre a profecia e desabei sobre em outra cadeira ao redor da mesa de ping pong. Rachel havia parado de balbuciar e seus olhos estavam fechados. Quíron a encarou preocupado e mandou que os Stolls chamassem o resto do grupo, mas não antes que Travis me contasse, com um sorriso maroto no rosto, o que haviam feito para estarem mais um vez de castigo. Colocar pó de mico na maquiagem das filhas de Afrodite o que as fez correr as cegas pelo acampamento os rendeu um mês trabalhando nos estábulos. Agora estava explicado o sumiço de todos no acampamento! Forcei um sorriso que não saiu tão verdadeiro e os irmãos saíram porta a fora, Quíron entrou nos fundo da casa e logo voltou com uma xícara que exalava o aroma doce de chá. Rachel gemeu e abriu os olhos enquanto Quíron a entregava a xícara e ela agradeceu em um sussurro. Agora sua face não estava mais tão pálida, mas eu ainda a encarava ansiosa como se a qualquer momento o espírito pudesse voltar para aumentar minha coleção de más notícias. Senti uma mão firme apertar meu braço e logo vi os olhos castanhos e calorosos de Quíron sobre mim. Ele se mantivera calado até o momento, apenas observando a cor voltar ao rosto de Rachel e minha preocupação diminuir. Antes que pudesse manifestar qualquer uma de suas palavras tranquilizadoras vozes foram ouvidas da varanda junto com passos que faziam a madeira ranger.

- Só estou dizendo que passamos mais tempo em reunião do que treinando em si. - A voz de Nico, grave e tipicamente irritada, soou acima dos risos dos outros que o acompanhava. O som da maçaneta sendo girada pareceu um gemido fraco no meio de todo o silêncio que girava dentro da sala. - Espero que seja algo de extrema importância para me tirar do meio de uma aula e....

A porta se abriu lentamente e Nico se interrompeu ainda segurando a maçaneta. Seu olhar entediado foi substituido por supresa quando ele me encarou sentada sobre a cadeira. Eu com certeza deveria estar suada e descabelada, mas apenas firmei o olhar do filho de Hades.

Realidade ImagináriaWhere stories live. Discover now