Você quer brincar com fogo?

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- Só faltava essa! - gemi, frustrada.

Continuei rodando pela floresta tentando achar alguma trilha. Qualquer trilha. E o vestido curto, que fazia os galhos arranharem minhas pernas, e as sapatilhas não eram de grande ajuda. Cada barulho era um susto e meu cabelo deveria estar tão bonito quanto um ninho de pássaros. E só para completar eu estava perdida! Pensei em gritar, mas a probabilidade de Nico me encontrar seria bem maior.

Nico...

O que tinha acontecido com ele? De uma hora pra outra ele se transformou no próprio Hulk. Ok, eu até tinha certa culpa nessa ira repentina, o assunto que entrei não era dos mais agradáveis, mas algo me dizia que não tinha sido o assunto que o deixara daquela forma. Aquela fina linha vermelha ao redor da íris dele não estava lá antes e nem depois que ele perdeu o controle. E eu tinha quase certeza absoluta que ela tinha algo a ver com isso. Mas o que?

Enquanto andava distraída e sem rumo certo senti meu pé afundar em algo quente. Areia. Olhei para frente e vi a imensa camada de água que quebrava em ondas na areia. Um sorriso aliviado tomou meus lábios ao sentir o aroma salgado novamente. Tirei os sapatos, que estavam mais marrons do que vermelhos depois da caminhada, e corri pela praia parecendo uma criança que via o mar pela primeira vez. Corri com os braços abertos e o riso solto, pulando as ondas e chutando a areia, me sentindo de alguma forma infinita naquele momento. Olhei para o horizonte e me sentei, há apenas alguns centímetros do mar, sentindo as ondas frias banharem minhas pernas e o vento desarrumar meus cabelos.

E pensei.

Pensei em tudo. Da minha infância até o momento com Nico. E ao lembrar daquilo minha mão automaticamente alisou meu pescoço. Eu nunca senti tanto medo de Nico quanto naquele momento. Nunca senti medo de ninguém como senti naquela situação. E medo era o último sentimento que queria ter por ele. E, além de tudo, aquele não era ele. Eu deveria ter percebido antes. E meu cérebro até percebeu, mas o desespero e o medo foram maiores que minha compreensão. "Que droga! Eu deveria ter ficado lá e apoiado ele depois que voltou ao normal e não ter fugido como se ele fosse um monstro!"E a cada pensamento, cada lembrança, eu me culpava mais e a raiva por mim mesma só aumentava. Mas no fundo eu ainda sentia medo, nem tanto por Nico, mas por aquilo que fez ele se transformar completamente. E se aquilo ainda estivesse....

Até que senti algo bloqueando minha visão. Depois do que passei, estava pronta pra gritar e sair batendo em quem estivesse me impedindo de ver, mas percebi que as mãos quentes e gentis que fecharam meus olhos eram familiares e a voz que sussurrou grossa em meu ouvido, me fazendo arrepiar involuntariamente, também era conhecida.

- Advinha quem é? - E eu sabia quem era. Reconheceria a voz rouca de Leo em qualquer lugar. Mas apenas sorri.

- Hum, deixe-me ver. Percy?

-Ehh... não.

- Quem sabe o Jason?

- Nope! - Pude ouvir ele bufar e sorri ainda mais.

- Ah, espera. Já sei! Só pode ser o... BlackJack!

- Mas o que? BlackJack?Que tipo de resposta foi essa? Como você pode me confundir com um cavalo? - Ele reclamou indignado e tirando as mãos dos meus olhos. Eu quase não conseguia conter a risada que tomava conta de mim enquanto ele sentava ao meu lado com uma cara zangada. Respirei, ainda com resquícios do ataque de riso e pousei a mão em seu ombro.

- Eu sabia que era você desde o começo! - Pousei os dedos em seus lábios e os abri em um sorriso - Não precisa fazer essa carinha zangada.

- Então você sabia? E o que me denunciou? Minha voz sexy e irresistível? - E ele mexeu as sobrancelhas juntas, insinuando algo.

Realidade ImagináriaWhere stories live. Discover now