Os avisos da deusa do fogo

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P.O.V. Leo

- Será que dá pra vocês se controlarem... só um pouquinho!

Já fazia alguns minutos que eu, Piper e Jason caminhávamos pela ala leste do jardim e nada de anormal havia acontecido. Nada, além dos incessantes sussurros e risinhos dos dois às minhas costas além dos sons enjoativos de beijos molhados. Já era a décima vez que olhava para trás com as sobrancelhas franzidas em desgosto antes de explodir de vez. Jason me encarou com os olhos azuis arregalados em surpresa.

- Tudo bem, cara. – Ele ergueu as mãos em rendição se afastando de Piper alguns centímetros. A morena tentava segurar a risada para minha cara zangada. Jason ergueu uma sobrancelha. – O que deu em você? Não vai dizer que foi possuído mais uma vez!

- Claro que não. Eu só não aguento mais toda essa melação de vocês! – Bufei cruzando os braços enquanto desviava de uma garota chinesa que passou calmamente ao meu lado. Encarei o casal. – Eu sei que sou a vela do grupo, mas precisa deixar assim tão explícita a minha função?

Piper suspirou, as mãos na cintura. Cheia de autoridade.

- Jason acabou de voltar de uma missão que só os deuses sabem como poderia ter sido fatal e entrou numa luta com harpias logo em seguida. Estamos apenas mantando a saudade, comemorando por estarmos vivos. – Ela explicou calmamente entrelaçando os dedos ao do namorado com um sorriso apaixonado que me fez revirar os olhos. Ela desviou os olhos para mim com indagação – Nossa "melação" nunca te incomodou antes. Outra coisa tá rolando e é melhor dizer logo.

Ela estava certa como normalmente as mulheres estão. Apesar de eu reconhecer meu papel de alívio cômico das missões, aquele que não se abala e sempre tem uma piada para alegrar o dia, aquela missão era diferente. Eu me sentia diferente desde que saíra do acampamento. Apreensivo, preocupado de uma maneira que as poucas piadas que fiz eram forçadas mesmo que ninguém parecesse perceber. E apesar de que ser possuído pela segunda vez na vida tenha sido uma experiência tenebrosa e o tal mestre ser um verdadeiro pé no saco, algo diferente invadia meus pensamentos quando eu sentia essas emoções me inundarem.

Um rosto delicado e pálido. Olhos castanhos como chocolate e um cabelo negro que parecia brilhar. E aquele maldito sorriso.

Lucy. Era ela que invadia meus pensamentos.

Suspirei quando o rosto dela cintilou em minha mente junto com um aperto no peito. Um medo involuntário vinha surgindo quando pensava nela.

Depois do desastre de meu relacionamento com Calypso eu decidi não me apaixonar mais. A rejeição, a dor, foi tudo intenso demais e eu tentava com todas as minhas forças esconder tudo atrás de uma brincadeira, de um sorriso. Meus amigos me encaravam com olhares carinhosos mesclados com pena que me faziam sentir um completo inútil. E eu continuava a me esconder, a vida deles já era complicada demais sem meus problemas amorosos. Lucy foi a primeira e única a perceber o que se passava verdadeiramente em meu coração, a se importar com isso. Tínhamos isso em comum, a incompreensão de quem realmente éramos. Ela me entendia e me ajudava a superar sem ao menos perceber enquanto eu buscava adaptá-la à nova vida de semideusa. Nossa amizade cresceu com o tempo e nos tornamos confidentes. Ela me via além das piadas, percebia quando eu precisava conversar sério ou quando eu apenas precisava de um silencio amigo. E eu sentia algo a mais crescer em mim a cada risada dela, cada vez que ela lia para mim um dos clássicos que amava com sua voz serena ou mesmo nos nossos momentos de silêncio, quando ela apenas apoiava uma mão pequena em meus ombros e sussurrava que tudo ia ficar bem. Mas eu ainda era um covarde. Cada vez que eu pensava além da amizade sentia meu peito doer ao lembrar de Calypso e do fiasco de nosso relacionamento. Eu simplesmente não podia perder Lucy assim então apenas me calei, ignorei esse sentimento por tanto tempo que acabei forçando-o ao esquecimento e, sem perceber, me distanciei dela. Eu fui o culpado já que, apesar de tentar guardar o sentimento arrebatador que florescia em mim, não conseguia conter o coração acelerado ou o sorriso bobo quando a via. Nossa amizade, antes tão profunda, se transformou em algo simples, meros conhecidos que se saudavam quando se viam. E todas as vezes ela parecia tão triste.

Realidade ImagináriaWhere stories live. Discover now