HERDEIRA DA MÁFIA - Maratona

Um - Dylan

Alguns meses antes

Sentados ao redor da mesa de reuniões, na sede das empresas Ferrari, estão os quatro homens mais poderosos de toda Nova York e seus capos de confiança, além de dois consiglieres. Há uma década esse encontro teria sido realizado num galpão escuro e altamente protegido, mas os tempos são outros, assim como as famílias que dominam a máfia italiana também são outras.

Tudo é feito com a maior segurança, só que ninguém mais se esconde como antes. Para todos os efeitos, importantes empresários se reúnem para tratar de negócios. A questão é quais os negócios que estão sendo de fato discutidos.

E quanto a mim... estou parado em pé perto do homem que considero como um pai, apenas escutando. É claro que tenho voz, mas hoje estou particularmente mais fechado que o de costume. O Don, Giovanni Ferrari, está falando e gesticulando, como o bom italiano que é, enquanto eu apenas observo os demais.

— Espero que não tenhamos mais problemas nesse sentido — ele diz, encerrando o tema da conversa com um gesto grande de mão.

Algum tempo depois que meu pai morreu, assumi a posição de subchefe e há cerca de uma hora o Don me chamou para conversar, ou melhor, para jogar uma bomba no meu colo. Depois de anos e anos como o cabeça da Aliança Italiana de Nova York, o clã das famílias mafiosas que comandam o estado, ele decidiu que vai se aposentar e que serei seu sucessor.

Tudo bem, eu já estava esperando por isso, todo mundo sabe que ele vem me preparando há anos para ser seu sucessor, só não pensei que ia ser logo agora, justamente quando estamos enfrentando um momento tão complicado, com o herdeiro dos Moretti causando tantos problemas.

Então você entende porque estou calado, remoendo a novidade e pensando que, em breve, serei eu lutando para me manter na posição diante das famílias. Serei eu a ter de me provar como a cabeça do clã, a conciliar as brigas e a evitar que alguns deles façam merda.

Pra piorar meu estado de espírito, o velho Moretti fica me encarando, com piadinhas de mau gosto, provocando-me a iniciar uma briga. Há dez anos ele teria conseguido isso sem qualquer dificuldade, não hoje.

Ele me olha de soslaio, esperando que eu diga alguma coisa, quando na verdade tudo que quero é meter uma bala na sua cara idiota. Se ele controlasse aquele imbecil que chama de filho não precisaríamos estar aqui, enfatizando a importância de nos mantermos dentro de um código.

— Esse seu garoto tem uma cara mal encarada — diz Moretti, olhando-me outra vez com aquele sorrisinho imbecil. — Parece um cachorrão prestes a morder.

— Puxou ao pai — contrapõe Giovanni, com seu sotaque suavizado pelos anos morando nos Estados Unidos. — E é capaz de bem mais do que apenas morder.

— Mas será que é tão inteligente quanto o velho Billy era?

— Suponho que teremos de descobrir — retruco, indo assumir meu lugar à mesa. — Sinceramente e com todo respeito, Don Moretti, acho que o senhor deveria estar mais preocupado com seu filho Joe, ele tem provocado os federais e chamado atenção desnecessária.

— Quem você pensa que é pra falar de mim assim? — Joe, sentado ao lado do pai, bate na mesa, ameaçando começar uma confusão.

— Eu sou o subchefe da família Ferrari — respondo no tom mais frio que disponho e mostrando que, assim como Don Giovanni Ferrari, sei exatamente qual é o meu lugar, agora e no futuro.

Preciso de toda minha paciência para não pegar o imbecil pelo colarinho e fazê-lo entender que eu sou o homem que um dia vai comandar a Aliança. Por enquanto, apenas o encaro, se ele fizer um movimento brusco vou meter uma bala na cara do idiota e, foda-se, se eles quiserem uma guerra, terão. Já faz um bom tempo que estamos aturando as palhaçadas desse cretino e não tem saco que aguente tanto.