Nove - Luna

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O ar fresco invade meus pulmões e me obriga a soltar um gemido involuntário. Abro os olhos e demoro algum tempo para conseguir focar. O quarto está levemente escurecido. Giullia está sentada na cama, ela segura minha mão com força e tem lágrimas nos olhos.

Do meu outro lado, está minha avó, e um pouco distante da cama está Dylan e meu avô, que parece uma fera.

— E o maldito médico não chegou ainda, por quê? — Meu avô explode.

— Eu tô bem — digo, abrindo bem meus olhos e me sentando na cama. — Não quero médico nenhum.

— Me desculpe, Luna, eu não devia ter falado aquelas coisas, daquele jeito — Giullia começa a chorar e eu sinto muito por vê-la assim. Triste, vulnerável.

— Tá tudo bem. Pelo menos você me contou ou eu nunca saberia que somos mafiosos — respondo, sem estar realmente surpresa. O lado perigoso de Dylan já tinha me alertado de que havia alguma coisa errada e o fato de minha mãe deixar que todos pensassem que estava morta também foi um sinal.

— Como você está, querida? Você nos deu um susto enorme. — Minha avó toca meu rosto com delicadeza, ela parece triste também.

— Desculpe. Eu tô bem — respiro bem fundo e sorrio, mas me sinto cansada e meu sorriso não passa de uma careta.

— E o médico, Dylan? Ligue de novo — meu avô ordena.

— Não precisa, eu sei qual é o meu problema. Pode cancelar.

— Coração? Você disse que sua mãe tinha uma condição... — Dylan parece um pouco alarmado e é até meio fofo. Pra um cara durão, não precisa de muito pra tirá-lo dos eixos.

— Não é, já fiz exames. — Fecho um pouco meus olhos, porque me sinto exposta de um jeito que nunca antes fiquei.

— Você prefere que eu saia? — ele pergunta, se preparando para nos deixar sozinhos.

— Não, você já me salvou de me esborrachar no chão mais de uma vez, então, tudo bem se quiser ouvir.

Ele acena concordando e eu pressiono minhas têmporas por alguns segundos. Então crio coragem e começo a contar.

— Eu tinha acabado de sair debaixo do balcão, no bar... me abaixei pra pegar um abridor de garrafas que caiu e, quando me levantei, tinha esse homem estranho, apontando uma arma pra mim.

— Oh, Deus! — Minha nonna comprime os lábios com as mãos.

— Eu congelei... simplesmente não consegui sair do lugar. Então, quando ele viu meu pai, apontou a arma pra ele. Meu pai tentou lutar, desarmá-lo, mas o homem atirou uma vez e ele caiu. Desde então eu tenho ataques de pânico. Não é sempre, mas acontece.

— E a culpa é minha — Giullia se recrimina, mas eu a encaro com aquele meu olhar implicante.

— Não fique tão convencida — digo, para tirar do sério a prima que acabo de conhecer e de quem já me sinto próxima. — A culpa é do homem que tirou meu pai de mim. Além do mais, em que mundo vocês pensaram que esconder algo tão importante de mim era um bom jeito de me fazer ficar?

— É complicado — meu avô diz, mas eu trinco os dentes.

— Minha vida era complicada antes, com a gangue do Big na minha cola. Isso aqui é a porcaria da máfia italiana. Meu Deus, minha família é mafiosa. Eu sou mafiosa.

Meu Deus, eu sou uma mafiosa.

Dylan começa a rir de um jeito rouco e sexy que me deixa meio baratinada.

HERDEIRA DA MÁFIA - MaratonaOù les histoires vivent. Découvrez maintenant