Dez - Luna

12 3 0
                                    

Faz alguns dias desde que descobri que faço parte de uma família e que não somos os bonzinhos, na verdade, se for pra colocar os pingos nos is, somos os vilões. É, vilões mafiosos, perigosos...

Tive uma conversa com meu avô na noite passada, ele me explicou um pouco de como as coisas funcionam, falou das famílias que pertencem a Aliança e, sem medo, acabou revelando o que houve com a tal família Gallo, que foi quem emboscou os pais de Giullia e minha mãe, há tantos anos. Não vou mentir, foi um pouco demais ouvir como meu avô destruiu a família, mas talvez eu não tenha nascido pra fazer parte dos bonzinhos também, porque não vou fingir que não gostei de saber que eles pagaram pelo que fizeram.

Talvez minhas origens tenham alguma influência ou eu apenas sou uma vilã também. Não sei, nem quero saber.

Meu avô também me contou alguma coisa sobre os negócios lícitos, mas ele não gosta de falar dos ilícitos, pelo jeito, a máfia é uma instituição bem machista. Insisti o tanto que deu, mas depois de várias evasivas acabei indo cuidar da minha vida.

Não que eu tenha muito o que fazer nessa casa imensa.

— Piscina? — Giullia pergunta quando passa por mim.

— Daqui a pouco.

Estou estirada no sofá, com um livro que encontrei no meio das coisas da minha mãe. Ironia ou não, o Poderoso Chefão está me ensinando algumas coisas bem interessantes sobre esse novo mundo em que acabei caindo de paraquedas.

Não que eu acredite em tudo, mas pelo menos estou entendendo um pouco dessa coisa de Don, e subchefe, e toda a hierarquia. Não posso negar que em vários momentos eu esqueço que decidi usar esse livro como referência para me entender nessa nova vida e me deixo levar por toda a ficção. Quem não ama uma boa ficção?

— Vamos, você não vai aprender mais sobre a nossa família lendo um livro do que vivendo com a gente, vem logo — Giullia reclama e eu acabo rindo. — Você está tão pálida.

— Tá bom, vamos lá.

Saio logo atrás de Giullia, que já vai tirando o short e a blusa e se jogando na espreguiçadeira ao redor da piscina. Começo a desamarrar o laço lateral do vestido quando sinto um arrepio percorrer minha espinha. Meus olhos correm instintivamente para uma das portas da varanda. Dylan está passando nesse momento.

Os olhos dele encontram os meus e sinto minha pele aquecer.

Como uma maluca, arranco meu vestido e empino os seios de biquini e a bunda grande que já o vi olhando, depois me deito na espreguiçadeira, lentamente.

Não sei o motivo disso, só que foi mais forte do que eu e quando dei por mim já estava agindo assim, meus olhos deixando os de Dylan e focando na cadeira ao lado da minha prima.

— Tá rolando alguma coisa entre vocês? — Giullia pergunta, olhando de Dylan, na frente da porta me encarando, pra mim.

— Entre quem? — Me faço de louca, mas sei exatamente o que ela está falando.

— Entre você e o Dylan rabugento Price.

— Não faço ideia do que você tá falando — respondo, mas meus olhos voltam para a porta.

Dylan não está mais lá e não sei se fico aliviada ou apenas chateada por não o ver me invadindo com aquele olhar penetrante.

Eu sei. Ele é o cara malvado que um dia vai mandar na máfia toda, mas meu corpo parece não entender o perigo, ou simplesmente não se importa com isso.

E, também, que culpa eu tenho se o cara é gostoso pra caramba?

— Bom, o jeito que ele tava olhando pra você... — Giullia começa, mas eu bufo. — E teve todo aquele showzinho no seu quarto, a forma como vocês ficam um perto do outro. Aquele homem é um turrão, mas pelo jeito gosta de você.

— Mas eu não gosto dele — minto, porque eu sei que não apenas me sinto atraída por ele, eu adoro provocá-lo, irritar aquele seu olhar arrogante.

— Sei. — Giullia dá de ombros.

— Não é nada do que você tá pensando, eu só tô curiosa. — Não chega a ser mentira. Ele me intriga. — A forma como ele e o nosso nonno são próximos...

— O pai do Dylan era o melhor amigo do nonno, ele era o segundo em comando.

— Isso faz sentido.

— O nonno viu o Dylan e o Declan crescerem. Depois que a mãe deles se foi, eles estavam sempre por aqui. Nossa avó praticamente criou os dois.

Suspiro, lembrando o jeito como meu avô falou com Declan, realmente havia muita intimidade, embora o tom de comando dele, ao exigir que o irmão do Dylan ficasse para o jantar, não tenha me passado despercebido.

— O que há com o Declan? Ele é meio caladão e naquela noite parecia que ia sair correndo a qualquer momento.

— Ele é fechado, mas é um cara legal. Gosto de conversar com ele, apesar de que quase sempre eu falo e ele só escuta.

— E o Dylan pode virar o Don sem ser italiano?

— Eles podem tudo, eles são homens — Giullia reclama. — Aposto que uma de nós seria tão boa quanto eles no comando dessa coisa toda, mas pelo jeito nunca vamos saber.

— Eu não sei se eu gostaria de comandar as coisas — falo com honestidade. — Mas quero ser dona da minha vida, estudar, trabalhar. Não vou abrir mão disso.

O vulto do meu avô chama minha atenção, viro o rosto e o vejo por outra das portas da varanda. Ele está no escritório com Dylan. Os dois são realmente muito próximos.

— Prepare-se para uma guerra então, Luna.

— Por quê? Você faz faculdade e longe daqui ainda por cima.

— Mas passei dois anos infernizando o nonno pra conseguir. Depois do que houve com os nossos pais, ele decidiu que ia me manter por perto, se pudesse me colocava dentro de uma redoma, intocável. É um saco, mas é o jeito dele de cuidar de mim.

— E mesmo assim você o convenceu.

— Isso porque eu sou ainda pior do que ele — ela diz, sorridente.

— Então é isso, eu serei pior do que vocês dois.


Livro do Mario Puzo

HERDEIRA DA MÁFIA - MaratonaOnde histórias criam vida. Descubra agora