Vinte e quatro - Luna

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— Por que eu não posso ir junto? — Cruzo meus braços sobre o peito e fecho a cara.

Meu avô me dá um olhar rabugento enquanto caminha, devagar, para sua cadeira. O escritório dele é muito refinado, com uma parede de estantes, cujas portas são de vidro e que exibem muitos livros de capas grossas. Algo me diz que nessas prateleiras que vão até o teto, devem ter várias primeiras edições. Faço uma nota mental de um dia vir bisbilhotar e levar alguns pra ler no meu quarto.

— Nonna, a senhora podia me dar uma ajudinha aqui? Como é que vou passar algum tempo com vocês se não me deixam ir junto?

— Teremos tempo, querida — minha avó diz, um sorriso suave no rosto.

— Você não vai, Luna, não quero que me veja como um velho fraco — o nonno confessa. Meu coração se enche de um sentimento profundo.

— Eu jamais o veria assim — digo e vou até ele e o abraço apertado. — Eu já amo muito vocês, sabiam?

Os dois sorriem e sei que, ainda que não falem sempre, já me amam também. Eu posso ver nos seus rostos.

— Eu sei que vocês me amam já, podem dizer, viu — provoco e minha avó sorri.

O nonno pega minha mão e beija o dorso.

— Amo você mia piccola luna, do mesmo jeito que amava sua mãe.

— Uau, isso foi lindo, nonno.

Saio de perto do meu avô e volto para o sofá, me sento, puxando as pernas pra cima e me estirando confortavelmente.

— Certo, agora que já somos uma família, vamos voltar ao debate.

— Você não vai — meu avô assume um tom de comando. — Vai ficar aqui onde é seguro.

— Mas, nonno, eu tenho que estar lá pra dar apoio.

— Não adianta insistir, Luna — vovó diz, vindo sentar no sofá e colocando meus pés no seu colo. — Seu avô é teimoso como você, nada vai fazê-lo mudar de ideia.

— Droga — resmungo e os dois me encaram com desconfiança. — Vou enlouquecer se tiver que passar mais uma semana aqui sem vocês.

— Logo sua prima virá pra casa e vocês poderão fazer coisas de garotas — meu avô declara, mas eu bufo em resposta.

— Por que você quer tanto ir junto, Luna? — a nonna pergunta, seus olhos apertados de um jeito que me diz que está desconfiada de algo. — Não me diga que é pra dar apoio, sua cara diz outra coisa.

— Ai, nonna... — resmungo e ela sorri.

— Vamos tomar um suco, acho que nós duas precisamos conversar. — Minha avó levanta e me puxa para a cozinha.

Assim que entramos, Mary, uma das empregadas mais antigas, já começa a preparar um suco e um lanche pra nós duas.

— Mary, leve pra nós na piscina, por favor.

— Sim, senhora.

— Vamos, querida, vamos bater um papo de garotas Ferrari — minha avó diz e eu sorrio, deixando que ela passe os braços ao meu redor e me puxe para uma das mesas do jardim, ao redor da piscina.

Não é um dia particularmente quente, mas não está nada mal o clima do lado de fora. Sento, obediente, e espero que minha avó acabe com o mistério e diga o que quer de mim.

— Está um dia bonito, eu gostaria de ter tempo pra fazermos coisas de avó e neta. — Ela olha ao redor, apreciando as flores do outro lado do jardim.

HERDEIRA DA MÁFIA - MaratonaWhere stories live. Discover now