Dois - Luna

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Dias atuais


Se tem uma coisa mais irritante que bêbado com mão boba eu ainda não descobri. É a terceira vez que esse idiota tenta esfregar suas mãos em mim quando pega a cerveja. Encaro-o com muita seriedade e me aproximo dele por cima do balcão. O homem lambe os beiços quando percebe a aproximação, certo de que estou prestes a confidenciar algo sexual, eca.

— Escuta bem o que vou te dizer, espertinho. Se você não quiser acabar essa noite sem mão, é melhor não tentar tocar em mim de novo, estamos entendidos?

O beberrão sai resmungando, sem me oferecer uma resposta direta. Só o fato de ele sair de perto sem tentar esticar as mãos nojentas pra cima de mim outra vez já me diz que entendeu o recado.

Satisfeita, passo um pano na madeira lisa do balcão e paro diante do bonitão de terno. Não é a primeira vez que ele vem, pelo contrário, tem sido frequente sua aparição por aqui nas últimas semanas, o que é, sem dúvida, a coisa mais interessante que me aconteceu em um bom tempo.

Ele sempre se senta no mesmo lugar, pede um whisky e passa um bom tempo me observando. Embora nunca tome a iniciativa de me chamar para sair, sempre deixa gorjetas legais, o que me intriga é a forma como ele passa um longo tempo me analisando.

Ainda por cima, é um homem de tirar o fôlego, daqueles que você acha que só vai ver no cinema e nunca cara a cara, mas aqui está, bem diante de mim, sem qualquer expressão, analisando-me enquanto espero que ele peça o de sempre.

Definitivamente, o bonitão de terno não pertence a este lugar, os cabelos escuros e bagunçados parecem ter sido empurrados para trás pelas mãos de alguém, a barba reserva um charme a mais, e a roupa cara me diz o bastante para saber que ele está aqui por algum motivo.

Além disso, nunca está sozinho. Ainda que tentem disfarçar, são sempre três caras que aparecem aqui. Logo depois que o bonitão de terno se senta, um de cada vez vai entrando e se posicionado em uma mesa, respeitando as garçonetes que pago com tanta dificuldade e pedindo apenas uma bebida. Seus olhos correm ligeiros pelos arredores, como se estivessem em alerta o tempo inteiro. Talvez sejam os seguranças dele.

Ou talvez seja uma gangue acostumada a se vestir bem, justamente por roubar garotas indefesas.

Enfim, só me resta esperar. Se bem que esta noite estou mal humorada...

— Whisky? — pergunto e ele acena, sem disfarçar que seus olhos estão me esquadrinhando. Não posso mentir, a sensação é quente, quase como se eu fosse capaz de sentir as mãos dele em mim, acariciando minha pele.

Afasto o pensamento e sirvo a bebida, ele agradece e não toca nela por um bom tempo. Fico parada, olhando-o, então deixo pra lá o bom senso e decido partir para o ataque.

— Você não vai me chamar pra sair, vai? — Agora é a minha vez de analisar as expressões dele, que apenas acena em negativo. — Então o que quer?

— Não posso querer apenas o Whisky? — pergunta, me deixando mais irritada do que o bêbado conseguiu. A voz dele é sensual, suave e séria, e eu gosto de como ela ressoa por toda a minha pele, arrepiando todos os pelos do meu corpo.

— Claro, se for isso que você e seus amigos quiserem mesmo. Só a bebida.

O bonitão de terno ergue uma sobrancelha na minha direção, visivelmente curioso ou apenas se fazendo de tonto.

Ignoro sua expressão e indico com a cabeça os caras que sei que o estão acompanhando. Ele segue meu movimento com os seus lindos e profundos olhos e, quando volta com eles para mim, tem o princípio de um sorriso nos lábios, mas desaparece bem rápido.

HERDEIRA DA MÁFIA - MaratonaWhere stories live. Discover now