Quatro - Luna

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Abro os olhos, implorando para que tudo não tenha passado de um maldito pesadelo. Assim que vejo Dylan sentado em uma cadeira perto da cama, me observando, sei que não foi.

A realidade me atinge com força, como uma bofetada bem no meio da cara. Tudo foi por água baixo, meu sustento e das meninas, o meio que eu tinha para quitar as dívidas médicas da minha mãe. Acabou.

— Você está bem? — Dylan pergunta, os olhos profundos focados nos meus.

Talvez eu só esteja esgotada por causa de tudo que aconteceu, mexida com o fato dele ter me salvado, ou apenas precisando de uma boa noite de sexo, coisa que ele parece muito capaz.

O fato é que não consigo me mexer e por isso fico em silêncio, deixando o estranho que até agora eu conhecia como bonitão de terno, me analisando com seu olhar profundo e sexy.

E, Deus do céu, esse homem é mais do que sexy.

Respiro fundo e me sento, batendo de leve as costas na guarda da cama.

— Onde estamos? — pergunto, de repente, compreendendo que não faço nem ideia de como vim parar aqui.

— No meu quarto de hotel — ele responde. — Você está bem?

— Sim, obrigada por me salvar.

— Ótimo, então depois que você comer, vamos viajar.

— Viajar? Você tá louco? Acabei de perder tudo, minha casa, meu sustento. Tudo.

— Você não perdeu tudo — diz e eu me irrito ainda mais. — Você tem família.

— Claro, uma família que nunca ouvi falar. O que te faz pensar que vou entrar em um carro, ou um avião, ou a merda que for, com um estranho?

Dylan se levanta e, quase como um felino prestes a dar o bote, vem na minha direção. Ele senta na cama e seus olhos escuros me esquadrinham de um jeito que provoca uma onda de calor em mim.

— Talvez você não tenha escolha. — Ele sorri, mas de um jeito frio que me arrepia inteira.

— Eu sempre tenho escolha — devolvo, irritada. — E eu escolho ir embora.

Levanto da cama e tomo um tremendo susto quando me dou conta de que estou vestindo apenas uma camiseta comprida. Olhando para as minhas pernas, respiro fundo.

— Que porra é essa? — explodo. — Quem foi que tirou a minha roupa?

Olhando para as minhas pernas, viro para Dylan, que passa as mãos pelos cabelos, penteando os fios rebeldes para trás.

— Pedi ajuda para uma camareira. Não se preocupe, ninguém tocou em você.

— Por quê? Por que você tá fazendo tudo isso?

— Pelo seu avô — ele diz. — Tem um banheiro ali, pode tomar um banho e se trocar, meus homens compraram algumas roupas pra você e outras coisas. Nós sairemos depois do café.

— Já disse que não vou a lugar nenhum. — Fuzilo-o com o olhar, mas ele fica completamente indiferente.

— Você tem escolha, Luna, ir por bem ou ir por mal.

— Quer dizer que agora sou sua prisioneira? — Cruzo os braços sobre o peito.

Dylan levanta da cama e vai até uma mesa que fica do outro lado do quarto. Há qualquer coisa de perigosa nesse seu jeito frio e arrogante, mas se ele pensa que sou uma dessas garotas bobas que saem obedecendo o primeiro cara bonito que aparece, está bem enganado. Eu só faço o que eu quero.

E nesse momento eu quero muito dar o fora daqui.

— Seu avô pode ajudar com seus problemas financeiros — diz, me passando uma pasta fina com praticamente toda a minha vida. Fotos do meu pai morto no assalto, a ocorrência policial, as contas de hospital da minha mãe. Tudo.

Chocada, deixo a pasta cair e levo minha mão ao peito. Respiro devagar, tentando evitar que meu coração bata mais rápido do que consigo suportar.

— Você... quem é você? — É só o que sai dos meus lábios trêmulos.

— Escuta, Luna, o seu avô... — Dylan pega todos os papéis e a pasta e deposita em cima da cama, depois vem até mim. — Você tá bem? Tá pálida.

— Eu... não... me... sinto... be — E antes que eu consiga terminar de falar, tudo vai ficando escuro e não vejo mais nada.

Acordo com meu estômago roncando. Dylan anda de um lado para o outro no quarto, falando com um rapaz um pouco mais baixo e mais novo do que ele.

Solto um gemido quando me sento.

— Luna — ele fala ao parar do meu lado. — O que é que tem de errado com você? É algum tipo de problema?

Sacudo a cabeça negando e respiro fundo.

— Eu quero ir pra casa — sussurro, cansada demais para entrar em um embate.

Dylan pega a caixa que salvamos do incêndio e me entrega. Abro-a e vejo as poucas coisas que sobraram da minha vida, o envelope com a carta da minha mãe, as alianças dos meus pais, algumas fotos, recordações de momentos que tivemos juntos... é tudo que sobrou de uma vida inteira.

Suspirando, fecho a caixa e coloco ao meu lado, na cama.

— Você pode ir se quiser, aí estão suas coisas, mas saiba que vai ser um grande erro.

— Por quê?

— Seu avô passou os últimos vinte e dois anos achando que sua mãe estava morta, ele sofreu bastante, nunca se recuperou disso.

— E por que é que ele não veio pessoalmente? Talvez não tenha sofrido tanto assim, e você pode apenas estar enganado.

— Ele não sabe de você.

— E como você sabe que eu sou mesmo quem procura? Pode ter cometido um erro, confusão de nomes...

— Eu não cometo erros — ele enfatiza como se fosse o senhor perfeito do universo.

— Todo mundo comete erros.

Dylan bate com os braços ao lado do corpo, afastando-se de mim e começando a andar de um lado para o outro.

— É o seguinte, ficar aqui é perigoso, os homens do Big virão atrás de você. Além do mais, o bar e sua casa já eram. Vamos fazer um acordo, te levo pra sua família, você conhece seus avós, depois, se decidir voltar, eu mesmo a trago de volta.

— Avós?

— Sim, Giovanni e Aurora. E tem uma prima também. Uma prima doida, teimosa e linguaruda como você.

Não consigo dizer nada por algum tempo, Dylan faz sinal para o rapaz sair e então vem até mim e se abaixa ao meu lado.

— Você tem família, não precisa ficar sozinha.

E simples assim eu me vejo concordando com a maior insanidade da minha vida, viajar com um estranho que até pode ter me salvado, mas que, antes disso, quase matou de pancadas o homem mais perigoso da minha cidade.

Só espero não ter acabado de assinar minha sentença de morte.

HERDEIRA DA MÁFIA - MaratonaWhere stories live. Discover now