Seis - Luna

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Eu tenho um avô. E uma avó. E uma prima.

Caramba, eu tenho uma família.

Já estou sozinha há algum tempo e tenho que confessar que mesmo antes, quando tinha meus pais, éramos apenas nós, nunca houve uma grande família, parentes, ninguém para encher a casa na Ação de Graças ou no almoço de Natal, nem nos aniversários.

Tive bons pais, minha mãe me ensinou a ser forte e linguaruda, e meu pai me ensinou a amar o beisebol e a vida.

Não posso dizer que seria uma boa jogadora de beisebol, mas ao menos posso dar algumas tacadas, principalmente na cabeça dos imbecis que tentam me ferrar.

Sinto tanta falta dos meus pais. Perder os dois em um prazo de menos de um ano destruiu uma parte do meu coração e da minha alma, e não tem um dia que não sinta vontade de abraçá-los, de ouvir suas conversas e até as brigas.

Olhar assim de perto para esse homem grandalhão que sei ser o meu avô é de arrepiar.

Eu não poderia negar que tenho a genética desta família nem se quisesse. Mas também sou uma Davis e, nós Davis aprendemos desde cedo a sempre perceber que a vida, o mundo, é mais do que as aparências dizem ser.

E eu sei que ele não é apenas um homem poderoso, ele tem jeito de ser muito perigoso. Meu instinto me diz para ficar alerta.

Respiro fundo, afastando os pensamentos e tentando me concentrar no olhar triste do meu avô.

Esse encontro me fez lembrar da minha mãe.

Tem qualquer coisa nele que traz minha mãe de volta, o jeito de olhar, as covinhas, mas a semelhança verdadeira é com a minha avó. Com certeza minha mãe e eu puxamos muito dela e foi isso que me fez reconhecê-la imediatamente quando entrei na mansão. E é justamente o que me enche de mais saudade.

Meu pai sempre foi fácil de lidar, divertido, forte, minha mãe era pequena e falante, adorava as Spice Girls e cantava muito mal. E eles se amaram até o final, se amaram tanto que perdê-lo destruiu a minha mãe.

— Você pode me contar o que aconteceu? — Me vejo perguntando ao meu avô, antes de sequer pensar direito.

— É uma longa história, mas sua mãe estava indo para a universidade com seu tio Lorenzo e Anna, minha nora. Houve um acidente e nós passamos os últimos vinte e dois anos achando que sua mãe também estivesse morta.

— Não pensaram em procurar o corpo?

— Nós procuramos, houve muita comoção, a polícia do estado todo em busca, mas depois de um tempo eles simplesmente desistiram e nem todo dinheiro do mundo foi capaz de resolver o mistério.

— E como é que minha mãe foi parar em West Virgínia? — pergunto para mim mesma. — Caramba, pelo jeito, tem um monte de coisas que eu não sei sobre ela.

— Como Angela era? — meu avô me questiona e eu suspiro.

— Ela era parecida com a mãe, pequena, linda, mas tinha algo de seu nela, só não sei o quê, exatamente. — Ele suspira conforme vou falando. — Quando eu era pequena, um cliente do bar passou a mão na bunda da minha mãe. Meu pai nem teve tempo de ver o que estava acontecendo, mamãe pegou a bandeja e bateu na cabeça do homem, expulsou ele do bar, xingando em italiano. Nunca mais alguém tentou nada do tipo.

— E como seu pai era? Era um bom homem?

— Era o melhor. Além de lindo, ele tinha um coração bom. Eu nunca entendi bem como os dois se conheceram, mas minha mãe deixou escapar, quando estava no hospital, que ele salvou a vida dela e cuidou dela desde então. Os dois se amavam muito.

HERDEIRA DA MÁFIA - MaratonaOnde histórias criam vida. Descubra agora