HERDEIRA DA MÁFIA - Maratona

Dezesseis - Dylan

Há poucos dias fiquei sabendo o que tanto Giovanni vem escondendo de mim. Furioso, chocado, confuso até o último fio de cabelo, foi assim que fiquei. Eu sei que venho sendo treinado para assumir os negócios, mas nada prepara a gente pra saber que o mentor, a pessoa que amamos como um segundo pai, está morrendo.

Eu devia saber, um homem como Giovanni Ferrari não entrega o poder só porque decidiu que quer curtir uma aposentadoria. Claro que não. Ele está doente.

Giovanni Ferrari está morrendo.

Depois que voltei para casa comecei a pesquisar, queria entender o que o estágio três de câncer significa, mas apesar de saber que não é impossível uma cura, não dá pra dizer que não fiquei mais preocupado, estágio três é perigoso, o câncer está profundo, se preparando para se espalhar pelos demais órgãos se já não tiver feito isso, como uma erva daninha.

Pra piorar, o Don não quis me dar mais explicações sobre o que estamos enfrentando. Decidiu que vai travar essa batalha sozinho e que devo cuidar das suas netas.

Proteger Luna e Giullia, e Aurora se for preciso, é uma compensação pequena por tudo que ele fez por mim. Não apenas pelo dinheiro que ganhei ao longo dos anos, mas por ele ter cuidado de mim e do Declan quando perdemos nosso pai. Por ter feito de dois garotos encrenqueiros homens feitos.

Pra não pensar demais no fato de que podemos perdê-lo a qualquer momento, nem no choque que meu irmão teve ao saber da notícia, eu praticamente me afundei no trabalho, acirrando a segurança nos últimos carregamentos de armas e organizando os detalhes das próximas transações.

— O que houve? — Ryan pergunta quando entra na minha sala. — Você está pálido. Irlandês pálido não é comum.

— Não sou irlandês, sou americano.

— Descendência também conta — Ryan senta na cadeira de frente pra mim e dá um sorriso debochado.

— Você sabia? Sabia que o Don está com câncer?

— Sabia — ele diz, sem desviar os olhos de mim.

— Por que não me contou?

— Porque sou o conselheiro do Don, não seu.

— Mas eu sou a porra do subchefe! — explodo.

— E quando for o Don, eu guardarei seus segredos.

Droga, como é que eu fico com raiva do Ryan quando ele está claramente certo? Respiro fundo, passo a mão nos cabelos, empurrando-os para trás.

— Você acha que a situação é muito ruim?

— Acho que temos que estar preparados. Se alguma coisa acontecer com o Don, precisaremos mostrar que somos fortes pra manter a Aliança. Os Moretti vão criar caso e quando a gente menos esperar estaremos metidos em uma guerra. Quem vencer vai estar no comando.

— Malditos Moretti — resmungo e ele ri.

— Casar com uma garota Ferrari poderia ajudar...

— Você também?!

— Tudo bem, se você não está a fim da garota. — Ele aperta os olhos. — Mas ela está.

— Luna me odeia.

— Tem certeza?

— Chega — digo, e Ryan me dá outro dos seus sorrisos irônicos. — Vamos ao que interessa. Precisamos descobrir um jeito de me tornar o Don que vai comandar a Aliança, porque se aquele Joe pensa que vou permitir que ele destrua o que levamos anos pra construir, está bem enganado.