Quinze - Luna

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   Giullia me abraça e, ainda chorosa, vai para o seu quarto, acompanhada da nossa avó. Quase não conseguimos comer durante o jantar, depois da bomba de meu avô estar lutando contra um câncer.

Não, depois da bomba dele dizer que está morrendo de câncer.

Foi difícil ver a tristeza no rosto da minha nonna, ver minha prima abalada, mas não foi fácil também ver a reação de Dylan. Eu sei que eles são próximos, mas o olhar dele... a forma como ficou mudo, respirando fundo... ele também foi pego de surpresa. E também ficou abalado.

Ele pode dizer o que for, que é perigoso, malvado, que machuca as pessoas, não duvido disso, mas seja o que for, ele ainda é um ser humano e sei que, mesmo que tente esconder, ele tem sentimentos.

Sentimentos bons e ruins. Porque se, por um lado, ele respeita meu avô e é de sua confiança, por outro lado, parece me odiar com todas as forças. E agora, ainda por cima, meu avô quer que uma de nós se case com ele.

Giullia tem namorado.

É claro que não vou me casar com Dylan, ele me odeia.

Sigo meu avô até o escritório, ele não diz nada enquanto me guia para sentar no sofá, mas seu olhar profundo me faz pensar que não vou me livrar tão facilmente do que quer que ele esteja tramando.

Sento e fico esperando pelo que tem a dizer. Meu avô fica algum tempo me observando, como se analisando meu rosto, minhas linhas.

— Você se parece com sua mãe — diz, depois de algum tempo. — Ela também tinha um gênio ruim, mas era linda por dentro e por fora, como você.

— Por acaso o senhor está tentando me amolecer?

Ele ri.

— Estou conseguindo?

— Não mesmo, não vou me casar com ninguém.

— Dylan não é um ninguém, Luna, é um bom homem, responsável, confiante e vai ser muito poderoso, poderá proteger você.

— Mas se o senhor vai se aposentar, vai sair da máfia, não vamos precisar de proteção.

— Isso não existe, mesmo quando passamos os negócios para nosso sucessor, coisa que a maioria de nós não faz por vontade porque morre antes, não deixamos de ser quem somos, sempre pertenceremos à família, ainda mais eu, que a ergui do zero com Billy, pai de Dylan.

— Então ter uma vida normal está fora de cogitação? — pergunto e meu avô suspira.

— Sinto muito, bambina.

— O Dylan deveria ter me contado antes de me trazer, assim eu teria uma escolha.

— Você escolheria não ter uma família?

— Eu não sei o que eu escolheria, sinceramente, mas eu gostaria de poder escolher. Acho que eu provavelmente ia encarar, mas pelo menos eu saberia aonde estava vindo me enfiar. Estaria nas minhas mãos essa decisão.

— Entendo — ele diz, parecendo triste. — Sua mãe escolheu nos deixar.

— Ela estava com medo, não sabia antes, mas agora que li a carta dela eu sei. Ela amava muito vocês, mas sofreu muito.

— Angela deixou uma carta?

— Sim, ela escreveu no hospital. Mas... não tô pronta pra contar o que ela escreveu lá, tudo bem? Quando estiver pronto esclarecer tudo, só saiba que ela o amava e sentia falta de cada um aqui.

— Tudo bem, quando quiser falar eu quero ouvir.

— Certo. Agora vamos negociar — digo e ele ri outra vez.

— Vamos negociar. Eu quero um casamento e em troca ofereço ajudá-la com as dívidas hospitalares.

— Não quero me casar e vou pagar minhas dívidas, mesmo que leve a vida toda.

— Não seja boba, Luna, temos dinheiro pra isso. Me tornei o que sou pra que pudesse dar tudo pra minha família.

— Mas o que o senhor está pedindo é muito caro. É a minha liberdade, minha vida.

— Então eu aumento a oferta. As dívidas, uma faculdade e crio um fundo fiduciário para sua segurança.

— Mas pra isso eu preciso me casar com o Dylan?

— Pra isso você precisa se casar com alguém que tenha condições de protegê-la, caso eu não possa.

— Ai nonno, isso não tá certo, eu quero mandar em mim, ser dona do meu nariz.

— Pode pelo menos considerar a oferta?

— Tudo bem, vou pensar, mas não vou prometer nada hoje.

— Ótimo, vou conversar com Dylan, vocês serão um belo casal juntos.

— Ah, não. O senhor já está decidindo por mim. Pera lá, Giovanni Ferrari. Eu não sou um soldado seu — cruzo meus braços sobre o peito.

— Vocês combinam — ele insiste.

— Ele me odeia!

— Duvido muito disso.

— Não pense que não notei o que o senhor e a nonna estão tramando, me contando como não iam um com a cara do outro, me fazendo sentar ao lado dele. Eu não sou boba.

— Ótimo, assim não preciso fingir que não aprovo, quando na verdade faço muito gosto. Dylan é filho do meu melhor amigo, é o homem mais leal e confiável que já conheci. E vai ser o Don em breve.

— Ele podia ser até o Papa.

— Luna! — meu avô me repreende, mas eu apenas bufo.

— Escute bem, seu teimoso, eu escolho o homem com quem vou me casar.

— Por mim está bom assim, temos um acordo — ele declara, satisfeito.

— Como? Ah, não, isso foi armação. Não foi isso que eu quis dizer.

— Você escolhe com quem casar, eu pago a faculdade e tudo mais que quiser, compro até um castelo se você quiser ser uma princesa.

— Nonno! Isso é trapaça.

— Não mesmo, foi você quem disse, eu gostaria que fosse com Dylan, mas estou disposto a aceitar até mesmo um Bianchi.

— Que droga! — digo, deixando meu avô no escritório e indo embora.

Maldita conversa fiada. Ele sabia que me irritar com Dylan ia acabar por me distrair. Era tudo uma armação e eu caí como uma boba.

Até parece que vou me casar. Vai sonhando.

HERDEIRA DA MÁFIA - MaratonaWhere stories live. Discover now