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Mason's pov


Na noite de sábado Anne não apareceu no bar, eu contava com isso para esclarecermos tudo, assim que notou a minha inquietação, Marcus confessou que não conseguiu segurar a língua, então pude entender porquê Maddie não me olhava e Anne sequer atendia o telefone. Resisti fortemente ao impulso de ir até ela naquele momento porque sabia que precisava de um tempo. Quando recebi a ligação da amiga de Sarah eu só conseguia pensar em como explicaria toda a situação para Anne depois, sabia que ela entenderia, mas não acreditava que fosse querer ficar comigo depois de saber o mal que eu poderia causar nas pessoas. No final, Maddie sempre teve razão, ela alertara a amiga sobre mim, sobre como magoei pessoas que tentavam cruzar a linha que tracei a muito tempo atrás. Sarah havia recebido alta naquela manhã, ela retornaria com calma para as aulas de Segunda e prometera não tentar nada novamente, mas eu sabia que aquilo ficaria marcado para sempre em mim, mais uma vez alguém se machucou por minha causa, mais uma vez fui o culpado pela dor de outra pessoa.

Havia conversado com Joe nas últimas semanas e ele me lembrou que o aniversário de morte do meu pai estava se aproximando, Laura não fazia mais questão de me lembrar, ela sabia que não precisava, eu sempre aparecia, o evento seguia o mesmo roteiro a cinco longos anos: Chegávamos com Joe, mamãe resmungava algo sobre estarmos abandonando-a e Laura lhe assegurava que iria lhe dar alguns netos um dia, ela me abraçaria com relutância, me serviria o jantar e assim que terminássemos de falar com papai, entraria numa crise de choro, minha irmã cuidaria dela pelo resto da noite e me asseguraria de que estava tudo bem, que não tinha a ver comigo. Eu sabia que tinha, por isso só concordava com Laura e esperava pacientemente do lado de fora da casa até mamãe melhorar, por isso ignorava todas as vezes em que ela passava a dor que sentia só por tentar me olhar nos olhos e, também, evitava aparecer por lá. No fundo minha irmã sentia pena de mim, culpa também, se eu não estivesse guardando o seu segredo ele não precisaria de mim para dirigir naquela noite, mas eu discordava, ela era o orgulho dele, por isso brigávamos tanto, nosso pai queria que fossemos iguais. Eu não deveria ter sido tão teimoso com papai. Não deveria ter sido tão duro com Sarah...

- Ei, cara - Marcus tentava chamar minha atenção de sua cama, do outro lado do quarto. - Maddie e eu vamos sair do campus juntos hoje, talvez você queira ir conversar com Anne mais tarde.

- Ok. - murmurei encarando o teto.

- Mass, amanhã é...

Marcus é meu amigo desde a escola, mamãe e papai o adoravam, ele sabia o quão duro foi a perda para a nossa família e, nos últimos dois anos, presenciou minha quase desistência, ele era o responsável por eu não faltar às cerimônias.

- Eu sei - o interrompi. - Não vou faltar.

Anne ainda não atendia minhas ligações, então, por volta das cinco da tarde fui a pé até seu dormitório, ao subir as escadas me sentia cada vez mais nervoso, eu tinha medo do que ouviria dela. Bati na porta por cinco minutos, não tinha resposta, minhas mãos tremeram ao lembrar dos recentes acontecimentos, a imagem de Sarah desacordada em sua cama preencheu meus pensamentos e num estalo de nervosismo e medo peguei as chaves que Maddie sempre deixava embaixo do tapete para que eu pudesse entrar. Para o meu alívio o quarto estava vazio, imaginei que estivesse com Louis, então decidi esperar pacientemente por ela ali mesmo. As horas se passaram e mesmo prometendo que não ligaria mais para ela, senti muita vontade pois estava começando a me preocupar, às nove e meia da noite, quando olhei pela janela senti um mix de confusão e alívio ao vê-la em frente ao prédio, estava conversando com um cara, não era Louis, eles riam e ele não tirava os olhos dela por um segundo, trinta minutos depois se despediram e ele encarou a entrada do prédio e acenou várias vezes antes de se dirigir para o lado contrário. Quem é esse cara?

Me voltei para a porta quando ouvi os passos dela se aproximarem, ela não parecia com pressa para entrar, se arrastava pelo corredor. Fui ficando impaciente e passei a caminhar de um lado para o outro do quarto, estava ensaiando o que ia falar quando a notei parada na entrada me olhando hesitante. Anne respirou fundo e entrou no cômodo fechando a porta atrás de si, ela caminhou até sua cama e se sentou, esperou pacientemente até que eu fizesse o mesmo.

- Você não está brava comigo.

- Não.

- Quem é aquele cara? - parabéns, Mason!

- Eu acho que esse não é o motivo pelo qual você está aqui agora. - Ela me encarava com seriedade no olhar, com certeza estava chateada.

- O-ok. Me desculpe. - me endireitei ao seu lado e tentei me aproximar dela, ela parecia nervosa, mas a expressão dura não deixou o seu rosto, presumi que não seria confortável para ela se eu a tocasse naquele momento e me detive. - Naquele dia eu não pude encontrar você porque Sarah passou por um problema.

- Ela está bem? - Não era isso que eu esperava.

- Ah.. sim, está bem.

- Isso é bom. - Seu sorriso robótico estava de volta. Eu não queria isso, queria o som das risadas que o cara desconhecido estava ganhando ao invés de mim.

- Eu realmente gosto de...

- Mass, eu tô saindo com outra pessoa. - E foi nesse momento que paralisei completamente. Senti um buraco se formar em meu peito, o ar sumir de meus pumões. - Eu o conheci na quarta, passamos o dia juntos hoje. Eu não consegui contar ontem de manhã, você não me deixou falar quando...

- Eu beijei você. - Falei atônito. REAGE, IDIOTA!

- É. Sobre isso, eu... eu gostaria que por favor não fizesse mais. O Choi pode entender errado.

- Choi. Esse é o nome dele?

- W-wooshik, na verdade. - Ela pronunciou com seu sotaque. Senti o ciúmes crescer em minhas entranhas. Ela nunca pronunciou o meu nome coreano. você nunca disse a ela. meu subconsciente disse enquanto ria da minha derrota.

- É um nome coreano.

- Espero que não pense que eu tenho algo com isso, Louis me apresentou ele.

- Eu não pensei nisso.

- Ok.

Permanecemos em silêncio por alguns minutos e quando Anne finalmente se levantou, anunciando educadamente que precisava que eu me retirasse dali, reuni todo o meu orgulho e me despedi dela reforçando que nossa relação poderia confortavelmente se resumir em amizade. Ela concordou e me acompanhou até a porta, quando lhe dei as costas ela me puxou novamente e me prendeu num abraço, depois de alguns segundos confusos envolvi meus braços ao seu redor e a apertei perto de mim, permanecemos ali por um tempo, eu precisava daquilo e aparentemente Anne também. Ela aproximou seus lábios do meu rosto e selou um beijo casto em minha bochecha, senti minha pele se aquecer com o toque. Nos afastamos depois disso e eu me apressei escada a baixo.

Na volta para casa percebi que seria melhor para ela dessa forma, eu não era a pessoa que a faria rir como aquele cara fazia, trazer alguém para a minha vida significava dividir todo o peso que trago comigo, Anne não precisava disso. Eu seria um amigo fiel e assistiria conformado a sua felicidade.




P.S. I Need YouWhere stories live. Discover now