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Foram dias péssimos, os últimos momentos antes de ir para São Francisco se resumiram em acordar e simplesmente não levantar da cama. Eu não queria ver meus amigos, Maddie falava só o essencial e me forçava a comer, tinha sorte de tê-la, era uma amiga muito compreensiva e cuidadosa, eu não merecia tanto. Entrei num estado de extrema tristeza, não pelo fim do relacionamento, mas pela forma como acabou. Bom, nos primeiros dias Choi teve a coragem de aparecer, ele gritava na frente do dormitório, prometia virar a noite ali, uma vez até fez mesmo, não sei como Maddie lidou com a situação mas em um determinado momento ele simplesmente parou. Eu ficava agradecendo pelo fato de que estávamos em período de férias e que por isso mais da metade do campus não presenciou as cenas bizarras do meu ex namorado.

Quando o dia de embarcar finalmente chegou, eu simplesmente tive um colapso, Maddie precisou ligar para Marcus e comecei a compreender mais ainda que de fato tinha bons amigos. Ele pediu para que ela saísse um pouco, foi a primeira vez que notei como parecia exausta, me senti culpada por isso, ela não saía a dias, me vigiar e alimentar era sua função. Sempre atendia impaciente telefonemas a cada meia hora e sussurrava coisas do lado de fora de nosso quarto. Aquele momento não foi diferente, assim que Maddie aceitou com relutância o pedido de Marcus para que se retirasse, o seu celular começou a vibrar em seu bolso, ela revirou os olhos e saiu.

Marcus me ajudou a fazer as malas e atendeu quando Louis ligou para o meu celular, ele teve que ir para a casa dos pais antes da hora porque tiveram um problema com seu irmão mais novo, mas sempre estava me ligando para saber como eu estava. Era a única pessoa que eu atendia. Não conseguia ouvir a voz do meu pai, estava envergonhada, esse era o motivo pelo qual me encontrava tão nervosa antes de viajar para vê-lo, eu não sabia como ele iria reagir, mas tinha uma pequena certeza de que se decepcionaria pela minha falta de auto cuidado e atenção. Ele ficaria irado por saber que me deixei enganar, se culparia também e isso era o que mais doía.
Enquanto me ajudava com as coisas, Marcus me acalmava com palavras que nunca imaginei que poderiam sair dele, Louis e Maddie sempre salvavam o discurso de "tudo isso vai passar" e "você é forte", Mas Marcus não disfarçava a sua raiva e repulsa por Choi, isso sempre me fazia lembrar que eu não era uma pessoa ruim por sentir o mesmo. Era a única pessoa que conseguia me fazer rir, ele até mesmo me tirou de casa para correr um dia, mas não consegui no outro e por isso ele só concentrou sua energia em me trazer filmes bobos sempre que possível.

Meus amigos não falavam sobre Mason, eu sentia muita falta dele. No fatídico dia do meu término bizarro, sua irmã, Laura, me levou para a casa dela e tentou de inúmeras maneiras me acalmar, mas ninguém conseguia tirar aquela sensação de dentro de mim. Eu me sentia suja, como se tudo o que me propus a fazer com Choi, tudo que acreditei ser fruto de um sentimento puro e mútuo, fosse uma mentira muito bem articulada com uma motivação específica. Eu chorava sem parar, sentia o buraco aberto em meu peito se expandindo cada vez mais e foi assim até finalmente cair no sono. Quando acordei estava no banco do fundo do Jeep de Mason, ele estava se despedindo de Laura do lado de fora.

- Foi uma péssima experiência - Laura murmurou. - Não deixem ela pensar muito sobre isso. Aposto que vai se sentir culpada.

- Não é culpa dela. - Ouvi Mason respondê-la. Sua voz estava diferente, a fala entrecortada, carregada.

- Ei...

- Preciso levá-la até Maddie.

Observei atentamente enquanto ele entrava no carro e ajustava o cinto de segurança, seus olhos encontraram os meus quando olhou pelo retrovisor antes de dar a partida.

- Oi. - Ele sussurrou, com um sorriso fraco nos lábios. - Volte a dormir, vou te deixar em casa.

Mas eu não consegui dormir novamente. Não conversamos no caminho, as vezes Mason olhava em minha direção pelo espelho e depois voltava a sua atenção para a estrada. Quando chegamos em frente ao meu dormitório, ele me ajudou a descer do carro, com muito cuidado para não me tocar de fato, isso não passou despercebido. Senti o buraco em meu peito se expandir mais ainda naquele momento pois sabia que ele já me enxergava diferente a partir dali, eu não era mais tão especial. Maddie surgiu rapidamente e me acompanhou até nosso quarto, não o vi depois disso.

Dentro do mesmo Jeep, com Marcus no volante dessa vez, eu olhava pela janela enquanto o campus passava diante dos meus olhos, não o enxergava como antes, as árvores, o extenso gramado, a cafeteria... nada daquilo me trazia lembranças positivas.
Depois de me despedir de Marcus e Maddie com um abraço já em frente ao portão de embarque, caminhei lentamente até meu assento no avião, me acomodei, posicionei meus fones no ouvido e me deixei levar pela melodia, tentando apagar a ideia do olhar triste do meu pai depois de saber o que passei.


P.S. I Need YouWhere stories live. Discover now