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A Segunda Feira chegou voando e quando eu menos esperava já estava me aprontando para o primeiro dia de aula do semestre. Com certeza não era a mesma pessoa do semestre anterior, as inseguranças haviam mudado, fazer amigos não era mais o maior problema, encontrar as antigas desavenças sim. Mason me tirou do devaneio batendo delicadamente com o nó dos dedos na bancada da cozinha de sua irmã.

- Alô, Anne? Será que tá aí? - Falou despreocupado com um traço de sorriso nos labios

- Desculpa, estava aqui pensando nas milhares de coisas que vou precisar fazer hoje. Por que as férias tinham que ser tão curtas?

- Porque não estamos no país das maravilhas. - Ele afirmou, divertido, enquanto pegava sua bolsa de cima do balcão e caminhava em minha direção. - A gente ainda precisa passar na fraternidade e no seu dormitório pra pegar nossos saudosos colegas. - Selou delicadamente nossos lábios enquanto me ajudava a descer do banco alto.

- Ok. Vamos lá.

O caminho até a fraternidade foi barulhento, mas não por minha causa, eu ainda estava receosa com o primeiro dia mas Mason parecia uma criança na Disney. Embora soubesse que aquilo era porque ele acreditava que tínhamos algo sério e isso me incomodasse muito, ponderei que talvez aquele não fosse um bom momento para ter uma conversa franca, estava com saudade dos nosso amigos e apreensiva para o início do novo semestre, com medo também, mas por incrível que pareça, não tanto quanto imaginei.

Marcus me surpreendeu ao abrir a porta do carona e me puxar de lá para um abraço muito apertado, novamente a sensação de lar preencheu meu peito, eu realmente tinha bons amigos. Mason também pareceu surpreso pelo afeto exagerado do amigo por mim, mas quando ele fez menção de dizer algo que pudesse entregar nossa atual relação o cortei de forma sutil. Quando chegamos ao meu dormitório insisti que os garotos ficassem no carro enquanto eu subia com minha mochila e a mala, para que pudesse ter alguns minutos a sós com Maddie. Quando abri a porta do nosso quarto ela pulou em mim como um filhote de gato, depois se afastou o suficiente para me avaliar de cima a baixo com cautela.

- Ok, está ótima, pensei que Mason a tivesse despedaçado. - Riu, satisfeita.

- Você sabe. - Afirmei revirando os olhos

- Somos melhores amigos, Anne. Só não posso dizer que fui a primeira a saber porque há um código masculino que impede isso. - Ela deu de ombros e me entregou minha bolsa com cadernos e tudo que aparentemente eu precisaria no dia. - Fiquei entediada enquanto esperava.

- Obrigada. Mas, Maddie, eu...

- Sei que está com medo e, acredite, ele também sabe. Vamos todos aproveitar esse primeiro dia de volta ao inferno e... não sei, esquecer algumas preocupações não acadêmicas, que tal?

- Ótimo. - Murmurei

- Ótimo. - Ela me abraçou novamente - Agora vamos embora, eles devem estar furiosos lá embaixo.

Nós corremos até o carro de Mason e seguimos viagem fazendo do trageto o mais barulhento possível, depois de deixar os dois na ala oeste do campus, nos dirigimos até nosso prédio e quando finalmente estacionamos, ele respirou fundo enquanto tirava o cinto de segurança e se voltava para mim, eu já o encarava.
Sua mão encontrou a minha e com delicadeza subiu pelo meu braço, passando pelo cotovelo, ombros, até chegar na nuca. Ele acariciou suavemente a área da raiz de meus cabelos, pude sentir meu corpo todo se ascender, era assustador o poder que o toque dele tinha sobre mim.

- Não está nervosa, está? - Perguntou suavemente enquanto me olhava nos olhos, a voz era serena e acolhedora, me senti tão confortável naquele momento que por uma fração de segundos pensei em não ir a aula.

- Não acho que nervosa seja a palavra - Murmurei - Talvez apreensiva?

- Vai ficar tudo bem. A minha primeira aula é na sala ao lado. O Louis ligou e, bom, você já deve ter falado com ele, mas... ele vai estar lá. Mas, Ann, se quiser voltar pro dormitório...

De repente percebi que Mason estava mais nervoso que eu, se fosse em outra época eu acharia tudo aquilo ridículo, mas àquela altura já sabia o quão importante era para ele.

- Vai ficar tudo bem. - Sorri a fim de conforta-lo.

- Não faz isso. Não sorri desse jeito.

- Mass, vai ficar tudo bem. Não é como se... não é como se o Choi fosse estar sentado ao meu lado.

Mas ele estava. Ele teve a audácia de se sentar ao meu lado naquele dia, de falar comigo como se não tivesse feito nada contra mim. Mesmo depois que Louis chegou e pediu cuidadosamente para que ele saísse dali, depois de eu mesma implorar para que ele o fizesse.
Decidi que aquilo também não poderia me abalar mais, pedi para que Louis se sentasse pois a movimentação em volta de mim já estava atraindo bastante atenção. Por mais que não tenha conseguido ouvir a aula, fingi manter minha atenção no professor, não respondi as perguntas que Choi me fazia sem se importar se me magoavam ou não.
Assim que a aula acabou, saltei o mais rápido que pude da cadeira e, com Louis logo atrás de mim, corri até a saída. Choi conseguiu nos alcançar por conta da concentração de pessoas próximas à saída com o mesmo intuito. De repente me toquei que Mason poderia estar nos aguardando na saída, não seria uma cena agradável de se presenciar. Respirei fundo, me afastei da saída e o encarei de perto depois de semanas, Louis se apressou para perto de mim.

- É o seguinte - Me dirigia a Choi com toda a força de vontade que resumi em poucos segundos. - Só tô aqui dentro falando com você porque talvez lá fora não te dêem a chance de sequer chegar perto de mim. Não fala mais comigo, não olha mais pra mim, esquece que eu existo.

- Você tem que me ouvir - Ele suplicou e tentou se aproximar, Louis o impediu. - Estão me tratando como um monstro!

- Porque você agiu como um, droga! - Nesse ponto as lágrimas já rolavam em meu rosto e eu já não me importava mais com os olhares que se voltaram para nós quando o meu tom de voz se alterou. - Você traiu a minha confiança, me tratou como um lixo e depois agiu como se a culpa fosse minha.

Meu corpo todo tremia, eu sentia a raiva fluindo dos fios dos meus cabelos até a sola dos pés.

- Cara, você tem que sair daqui. Ela não quer falar com você. - Louis se dirigiu a ele de forma dura.

- Por que? É você que tá comendo ela agora? - Choi cuspiu com raiva. - Não apagou os videos, não é? Deve ter ficado com eles só pra você. Deve assistir todas as noites enquanto...

E foi tudo muito rápido, de repente Mason o havia derrubado com um soco e mesmo quando eu implorei para que parasse de bater em Choi, ele não parou. Os alunos que já haviam saído da sala retornavam afoitos e foi preciso que outro rapaz ajudasse Louis a tirar Mason de cima de um Choi ensanguentado, mas nada arrependido. Ele ria como um louco e gritava para todos o que havia feito comigo, Marcus chegou de repente e somente ele foi capaz de fazer o amigo se acalmar, antes disso ele se debatia e tentava a todo custo fazer com que o soltassem quando escutou o meu ex namorado expôr com orgulho as barbaridades.

Eu nunca o tinha visto daquela forma, ele poderia matar Choi com apenas um olhar se tivesse o poder, mas no momento em que esses olhos se encontraram com os meus, seus ombros relaxaram e o vi piscar várias vezes antes de respirar fundo e vir resignado em minha direção. As lágrimas ainda escorriam pelo meu rosto quando seus dedos o acariciaram, ele me envolveu em um abraço enquanto acariciava o alto de minha cabeça, seus lábios encostaram levemente no alto de minha testa antes dele se voltar para mim novamente.

- Me desculpe, eu prometi que não faria isso. Me desculpe.

Sinceramente naquele momento eu não me importava, me senti protegida, nada do que Choi fez foi minha culpa e a maior preocupação que passei a ter depois que todos se dispersaram e estávamos sendo escoltados pela segurança do campus, foi com a situação de Mason na instituição. Uma briga como aquela na sala de um dos professores seria um prato cheio para a instituição, não éramos alunos comuns, sabíamos dos riscos.
Uma coisa era certa: as pessoas já me conheciam. Não consegui ignorar os celulares voltados para nós durante toda a confusão, saber dos abusos de alguém em quem confiava era doloroso e viver com um estigma poderia ser um peso a mais que não sabia se conseguiria lidar.

P.S. I Need YouWhere stories live. Discover now