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SYDNEY ABBEY, 2016

Doze anos morando em Outer Banks, e agora meu pai quer ir embora para o Havaí? Um lugar no meio do nada. Eu sei que o lugar é importante para meu pai, porque foi onde minha mãe e eles se conheceram, e lá é especial. Mas eu tenho amigos aqui, poxa.

Faz três anos que ela faleceu de câncer, eu tinha nove anos, e foi bem difícil pra mim, mas tenho certeza que para o meu pai foi mais difícil ainda. No começo ele se escondia no porão da nossa casa para chorar e beber um pouco, dizendo estar pintando a parede. Eu sofri, lógico, mas eu tinha amigos para me apoiar, e poder me abrir com eles, enquanto meu pai não conseguia se abrir com ninguém.

Nós conversamos pouquíssimas vezes sobre a morte dela, mas eu não fiquei nem um pouco chateada com ele. Deve ser difícil perder o amor da sua vida.

Agora JJ e JB estavam me ajudando a pegar minhas coisas, que estavam em várias caixas com etiquetas rotulando cada coisa certinha. Desço as escadas atrás deles, podendo ver que não tinha mais meus desenhos na parede de madeira, quando estou passando consigo ver a geladeira perto da porta de entrada, ela não tinha mais minhas notas altas e as fotos polaroids em família.

Sair de Outer Banks me deixa triste, porque eu nasci aqui, passei minha vida inteira surfando e brincando no quintal de casa com os meus amigos. Saber que eu não vou mais ter eles para me incomodar, ou até mesmo me protegerem dos babacas da escola me deixa angustiada.

— Você pode me ajudar, Jay? Por favor. - pergunto para o loiro que estava escorado no carro, com os braços cruzados e um sorriso maldoso, vendo que eu precisava de ajuda com a caixa pesada.

— Será que eu ajudo ela, JB? - pela caixa ser grande eu não consigo o ver direito, mas sei que está fazendo uma cara de sínico.

Odeio quando ele faz isso, ainda mais nessa situação. Me sinto culpada, por estar indo embora. Quando eu contei para eles sobre minha mudança, JB ficou triste, mas entendeu e pediu para eu mandar cartas todo mês; mas JJ ficou emburrado por uma semana, eu não entendi muito bem o seu mau humor de uma semana, mas depois ele ficou super grudento e protetor. Na maioria das vezes era irritante.

— Eu acho que não devemos ajudar uma traidora que vai nos abandonar. - JB diz brincando também.

Reviro os olhos com sua fala. Quando iria retrucar suas palavras, sinto um corpo grande se aproximando atrás de mim. Olho para cima podendo ver meu pai com um olhar amigável, sorrio verdadeiramente para ele que solta uma risada fraca. Ele pega a caixa dos meus braços e coloca na caçamba da caminhonete grande dele.

— Sejam mais compreensíveis, meninos. - meu pai pede para os meus amigos que fazem o nosso toque. — Eu comprei Donuts com cobertura, está em cima da mesinha de centro.

Antes que os meninos podem pensar em qualquer coisa, eu saio correndo na frente deles, subindo as escadinhas da varanda que a minha casa tem. Entro na casa podendo ver a caixa com os melhores Donuts da ilha inteira, era um pouco caro, então meu pai comparava em datas específicas. Foi nosso combinado.

Não sei se no Havaí terá esse Donuts dos deuses, mas espero que sim.

— Eu poderia comer isso todos os dias, nunca iria enjoar. - JB comenta mastigando um pedaço do doce, a cobertura dele era de morando com granulados coloridos.

— Quando eu for maior e tiver muito dinheiro, eu vou comprar duzentas caixas dessas. Essa é minha meta de vida. - comento levando meu dedão até a boca para acabar com qualquer resquício de recheio de chocolate branco.

— Pensei que sua meta de vida é virar Bióloga Marinha. - JJ comenta me olhando confuso.

— Ela ainda é. Eu vou ser uma Bióloga, com duzentas caixas de Donuts. - dou de ombros pegando os granulados que tinha na caixa de papelão.

she came back, cameron.Where stories live. Discover now