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SYDNEY ABBEY, 2012

Acordo com papai me chamando pro café da manhã, me sento na cama, olho pra janela e consigo ver que o céu está claro. Levanto ponho o chinelo, saio do quarto, desço as escadas correndo e no último degrau dela paro e consigo ver minha mamãe abraçando o papai por trás, enquanto ele cozinhava.

Quando os dois percebem que estou olhando para eles, ambos abrem um sorriso, mas quem vem até eu é a mamãe. Ela usa a jardineira linda dela, que já estava suja de terra, mamãe se dedica demais as suas plantas.

— Bom dia, koʻu aloha. - ela me abraça apertado, tirando meus pés do chão. Ko'u aloha, significa "Meu amor" em havaiano, eu amo quando ela me chama assim. — Dormiu bem? Teve pesadelos?

Afasto o rosto do seu ombro, a olho nos olhos seus olhos escuros, mamãe está tentando falar comigo pelos nossos olhares, é uma coisa da vovó, mamãe estava me ensinando aos poucos. Quando vou tentar dizer a ela em silêncio, acabo deixando escapar uma palavra, me assusto quando percebi que não consegui segurar, coloco a mão sobre a boca, a encarando. Minha mãe sorri alegre e começa a cheirar meu pescoço, ela esfrega seu nariz em minha pele e sinto cócegas.

— Eu tive um pesadelo que você e o papai não estavam mais comigo, fiquei com medo. Mas um gatinho laranja venho me ajudar a achar o caminho onde vocês estavam. - conto devagar, para lembrar de tudo.

— Isso é bom não? - ela pergunta ainda cheirando meu pescoço. Concordo com a cabeça sentindo bastante vontade de rir. — Nossa! Como a minha menina está cheirosa! Que cheirinho bom de bebê. Papai, vem aqui sentir.

— Não sou um bebê. - digo entre risos, posso ver papai se aproximar de nós. — Tenho oito anos já.

— Para nós você ainda é o nosso bebê e sempre será. - papai esconde seu rosto junto com o da mamãe em meu pescoço, solto uma gargalhada ao sentir a fungada dos dois.

— Para por favor! - grito sentindo meus pés sairem no chão , como se eu pudesse voar. Fecho os olhos com força. — Por favor!

— Só se você falar que ainda é o nosso bebê. - escuto a voz da mamãe, fico pensando em uma resposta, mas não demora muito e ela aparece em minha mente.

— Eu sou!... - grito rindo mais alto. — Eu ainda sou o bebê da mamãe e do papai.

— Muito bem, pequena. - seguro firme no pescoço de papai, quando ele começa a me levar no colo até minha cadeira alta. Feita pelo papai, só pra mim.

Me sento, consigo ver panquecas em formato de estrela do mar, lambo os beiços, me inclino pra frente para pegar a embalagem transparente com uma calda vermelha dentro, abro e começo a despejar em cima da minha panqueca, abro um sorriso ao ver o que estava fazendo.

Mas uma mão de adulto o tira da minha mão, olho para trás podendo ver mamãe com uma cara apavorada. — Já deu de xarope pra você, mocinha. Amanhã vai ficar sem colocar xarope.

— Mas mamãe... - olho preocupada para ela. Não posso ficar sem xarope na panqueca. Mamãe me encara por alguns segundos, ela deixa um beijo em minha cabeça. — 'Tá.

Volto minha atenção para a panqueca gigante, pego meu garfo verde e abro um sorriso ao levar um pedaço de panqueca até garagem do aviãozinho. Faço uma dancinha, mexendo meu corpo para os lados, junto com a minha cabeça, ergo um pouco as mãos mesmo segurando o garfo.

A música "Here Comes The Sun" começa a tocar no rádio velho do papai, olho para trás, vejo os dois sorrindo e dançando juntos de uma forma lenta e engraçada, logo volto minha atenção para o café da manhã em minha frente. Dou uma garfada e sinto o gosto muito, muito bom da panqueca, junto do xarope.

she came back, cameron.Onde histórias criam vida. Descubra agora