O RECOMEÇO

UM

Lore

Cinco anos atrás...

Madrid, Espanha, 05h10m.

Tudo estava diferente agora...

Desde que viemos para Madrid, era como se ainda estivéssemos em perigo, mesmo não estando. A desconfiança e o medo ainda moravam no meu corpo, assim como as sensações ruins. Mas, por um lado, agora eu sabia me defender. Eu não era mais a mesma garota ingênua e fraca do ano passado. Treino todas as noites antes de dormir para aprimorar minhas habilidades.

O tempo aqui era mais calmo e leve.

Eu já estava me acostumando a morar na Espanha. Era tranquilo e sossegado. Devido ao sobrenome do Noah, o meu pai biológico, ninguém nos conhecia. Meses se passavam e começamos a achar que era melhor assim, sermos pessoas desconhecidas e diferentes. Família nova tentando se acomodar em outra cidade.

A casa era enorme. Parecia um castelo dos tempos antigos. As paredes eram das cores cinzas e pretas, e também eram altas, muito inclusive. Na verdade, a maioria das casas de Madrid, tinha esse aspecto e estilo. A mansão era rodeada por um jardim esverdeado e enorme. Uma garagem espaçosa, a qual acomodava os carros que Carla comprou e deixou aqui. Os quartos eram largos e com a mesma decoração.

Não tínhamos vizinhos. Eu, Ruel e o Thomas morávamos aqui em plena paz.

Olhei para o meu reflexo no espelho do banheiro do quarto, encarando a pequena cicatriz do tiro que o Benjamin havia me dado, e outra deixada por Lola. Alisei a pele enrugada e mordi o lábio inferior, notando o quão mudada eu estava em tão pouco tempo. Meu cabelo havia crescido, e estava quase no seu tamanho original. Felizmente, eu tenho privilégio com o meu processo de crescimento rápido dos fios. Minhas olheiras não estavam tão fundas ou escuras, mas era nítido as noites mal dormidas por conta dos pesadelos que sofro todas as noites.

Ruel estava tão mudado quanto eu. Estava mais másculo e sua personalidade havia mudado também. Ele tinha vinte anos, enquanto eu, ainda dezenove. O loiro passava o tempo todo na sala de treinamento da casa, juntamente com o Thomas. Os dois viviam lutando e desafiando um ao outro. Pareciam duas crianças birrentas e briguentas. Era divertido morar com eles.

Eram cinco da manhã.

O céu já estava pronto para deixar que o sol desse as caras. Bocejei, voltando para o quarto e vesti um casaco grande e grosso. Encarei a cama vazia em minha frente, lembrando de como o loiro nunca fazia questão de mudar esse seu costume chato. Ele sempre saía na madrugada para socar a porra dos sacos de pancada.

Respirei fundo, cobrindo meu corpo pelado e totalmente exposto, e saí do quarto escuro. Caminhei até as escadas, logo descendo-as, sentindo o piso liso e frio em cada passada que meus pés davam. A casa toda estava escura. Passei pelo vestíbulo negro, logo caminhando para a área interna da casa e entrando sem demora na sala.

Os socos pairavam pelo cômodo grande. Seus punhos fechados se chocavam com o saco em sua frente. Os músculos dos seus braços tensionavam em cada movimento seu, juntamente com os das suas costas largas. A tatuagem de dragão estava cintilante por causa do suor que descia pela sua coluna.

Ruel usava uma calça de pano preta. Seu cabelo estava pequeno por causa do corte que ele mesmo deu dias atrás. Sinto falta dos seus fios grandes e grossos que faziam meu estômago pular, mas Vincent ficava lindo de qualquer jeito. Dessa vez, ele estava sozinho. Thomas provavelmente estaria no seu quarto, dormindo.

Como se soubesse que estava sendo observado, o homem se virou, logo forçando um sorriso ao notar minha presença. Percorri sem vergonha nenhuma o seu corpo suado. Barriga brilhando por causa do líquido salgado que escorria dela. Molhei os lábios já sentindo meu corpo ferver, necessitado dos seus toques.