DOIS

466 43 1
                                    

Ruel

Quatro anos atrás...

O vento gelado soprou, fazendo o cabelo escuro da Lore voar e tapar sua visão. A garota estava em pé. Com uma pistola na mão enquanto mirava no seu alvo. Há alguns metros em sua frente, garrafas de vidros estavam posicionadas. Orlando afundou o dedo no gatilho. A bala saiu em direção no alvo, acertando-o e fazendo o vidro se quebrar. O barulho do tiro ecoou pela propriedade. Os pássaros voaram, fugindo do som irritante e do eco.

Continuei ali, observando-a enquanto ela abaixava seus braços e respirava fundo. O tempo escuro anunciava que iria chover hoje. O sótão estava frio, assim como o vento também. A ventania levava as folhas, arrastando-as para o lado direito.

Arremessei o cigarro fora e molhei os lábios. Eu estava diferente. Lore também estava. Mas, algo me preocupa. As imagens do Benjamin, que rondam a garota, eram preocupantes. Tirar a vida de alguém era ruim. É como se uma parte da sua alma fosse embora junto. E o fardo de ter matado alguém estava consumindo a Lore. E, ela como uma mulher, que antes era doce e ingênua, agora estava fria e distante. Olhar morto e sem vida. Era como se fosse outra pessoa.

Observei Thomas entregar uma metralhadora. A garota pegou e ajeitou a arma nos braços, logo posicionando e apontando para o segundo alvo em sua frente. Mirando e acertando outra vez.

Travei o maxilar, sentindo um gosto amargo na boca. Mesmo sabendo que Thomas a tratava como uma irmã, ou até mesmo, a única mulher que ele se importava, o ciúme e a irritação crescia. Era incontrolável.

Mas droga...

Como não sentir?

Eles já transaram. O Cooper já provou Lore. Já tocou nela e fez tudo aquilo enquanto eu estava longe.

Suspirei e cerrei os dentes. Tirei outro cigarro na carteira e também o isqueiro, acendendo o rolo emrm seguida. Coloquei na boca e traguei. Saí do sótão e fechei a porta. Desci as escadas, parando no segundo andar e me aproximando dos degraus, que levavam ao vestíbulo. Cruzei o lugar, passando da porta de saída e soltei a fumaça.

Levei meus olhos para os dois. Lore em pé, ainda com a arma nos braços, e Thomas ao seu lado, com os braços cruzados.

Traguei outra vez e respirei fundo.

Orlando usava calça escura. Jaqueta de couro da mesma cor. E, provavelmente, uma regata clara por baixo do couro. Nos pés, ela tinha um coturno negro.

Ela deu outro tiro, acertando o quarto alvo.

Andei em sua direção e parei no seu outro lado. Ela não virou para me encarar. Ficou aenas continuou atirando e acertando as garrafas.

Eu sabia que isso era para distrair sua mente para, talvez, seu pai morto, a deixasse em paz por algumas horas.

— Você comeu algo?

Ela deu de ombros e parou o dedo no gatilho.

— Lore... — suspirei. — Me diga que não comeu aquela porcaria.

— Ok. — falou, com a voz simples. — Não comi barrinha de cereal.

— Orlando, ajeite e arma no seu braço. — Thomas advertiu. — Ruel, você está atrapalhando...

Olhei para ele e estreitei os olhos.

— Saia. — pediu.

— O quê? — ri amargo. — Vá se foder, Cooper!

— Lore fica tensa quando você está por perto. — alegou.

— Thomas... — a garota respirou fundo. — Estou bem. Apenas continue me orientando.

O RECOMEÇOOnde histórias criam vida. Descubra agora