TRINTA E SETE

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Ruel

O dedo da garota percorreu os desenhos, subindo o caminho dos galhos até a parte abaixo da minha axila, fazendo-me soltar uma pequena gargalhada pela vontade boba de rir. Envolvi minhas mãos em sua cintura fina, carregando-a e colocando seu corpo pequeno no meu ombro. Liz soltou um grito fino enquanto ria.

— O desenho é bonitinho.

— Bonitinho, querida? — questionei. — É a tatuagem mais foda que você viu e verá.

— Você não pode falar palavra feia perto de crianças, sabia?

— É, né? — entortei os lábios. — Desculpe, pequena.

Ela pressionou os lábios e virou o rosto para rir. Atitude fofa.

— Será nosso segredinho, está bem?

Coloquei Liz no chão e a seguir enquanto seus pés pequenos caminhavam pelo jardim da mansão da Lore. Shawn e Anne vieram nos visitar de surpresa. Lore adorou a ideia, já que em dois dias iríamos colocar nosso plano em ação. Como já tínhamos o segredo do Bianco em nossas mãos, e resolvemos as últimas pendências na semana passada, precisávamos ter um pouco de sossego antes de entrarmos em guerra, como uma válvula de escape.

Eu e minha garota precisávamos disso.

Os outros viriam também.

— Tio, quem é aquele?

Franzi a testa, meus olhos percorrendo pelo caminho do jardim e indo até a entrada do portão, avistando-o. O homem vestia seu terno azul marinho. Luxuoso, eu presumo. Expressão firme enquanto seus pés caminhavam em minha direção, com intenção de se aproximar. Pedro tinha sua postura erguida, queixo em cima e cabelo tingido de castanho escuro. O filho da puta não queria mostrar sua velhice, sendo que seu rosto é cheio de rugas.

— Tio Vin... — Liz murmurou, correndo para ficar ao meu lado.

Meu estômago se revirou quando avistei os olhos do Bianco descerem para garota, seus lábios se abrindo em surpresa e um brilho estranho aparecendo no seu olhar. Apertei os dentes, cerrando-os, querendo arrancar aqueles olhos claros e fodidos.

Tire os olhos dela.

— Entre na mansão, querida Liz. — falei. — E avise a sua cereja que temos visita. Bianco.

— Está bem, tio Vin. — seus lábios abriram um sorriso largo quando me ouviu falar o apelido que ela deu a Lore.

Liz virou e andou, correndo para a porta principal e entrando na mansão.

Voltei para Pedro, que agora já estava a alguns metros de distância. Ele abriu um sorriso vitorioso e juntou as mãos, esfregando-as antes de estender para mim. Apenas o olhei com desdém e quebrei o contato visual. Uma das suas sobrancelhas se arqueou, um suspiro foi dado por ele enquanto seu braço se abaixava.

— Não gosta da minha presença, Evans?

A pessoa que gosta de se familiarizar com pedófilo é ainda pior.

— Acho que minhas atitudes já respondem sua pergunta. — falei, sentindo-me estressado com sua visita.

Com certeza, ele queria saber como estava nosso trabalho em recuperar seu segredinho sujo.

— O que você quer?

— Ah, sim... — respirou fundo. — Precisamos conversar. Não só eu e você, é claro. A Lore também.

Ri sem humor, segurando seu olhar usado por alguns segundos antes de virar a cabeça. Olhar para ele por muito tempo me deixava com uma enorme vontade de estrangulá-lo por fazer o que faz.

O RECOMEÇOOnde histórias criam vida. Descubra agora