TRINTA E OITO

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Lore

Ruel cruzou os braços, um dos seus pés inclinando para frente enquanto chutava o pé da poltrona de couro marrom. Atenção focada no piso escuro da sala, sua mente provavelmente vagando pelas recordações e momentos que teve nessa casa.

Clary havia nos recebido com alegria e saudade. Seus braços envolvendo o corpo do neto em um aperto firme e intenso, sem intenção de soltar. Vincent retribuiu com a mesma intensidade, abraçando a mulher com necessidade e dependência. Eu sorri enquanto assistia a cena, mas não tive muito tempo, já que Tobias me puxou, levando-me para um abraço em grupo com os outros dois.

Ralph estava no seu escritório. Após a morte da sua esposa, ele não era o mesmo. O homem havia perdido sua vida no momento em que soube da morte da Kate. Agora ele era apenas uma casca fria e ainda mais insensível. Passava maior parte no seu escritório, recusando-se a aceitar, e vive no seu luto eterno.

Saber do estado atual do Evans me deixa aflita em pensar que Vincent ficaria do mesmo jeito. Eu sei que ele nunca aceitaria a minha morte, ele morreria comigo. Porém, no fundo, saberia que eu, jamais, concordaria com sua morte. Ele merecia viver mais do que eu. No entanto, eu sou egoísta por não querer que ele vivesse sem mim.

— Quer mais um, querida? — Clary perguntou, sua voz assobiando em minha orelha.

Virei o rosto para encará-la.

— Não. — sorri.

O charuto apagou, o cheiro afrodisíaco pairando no ar, inundando a sala. Vincent ainda com os olhos no piso escuro.

— Ruel adorou o cachecol. — comentei. — Ele amou usar para vir.

Os olhos verdes me fitaram com descrença, repreendendo a minha mentira descarada.

— Oh, sério!? — ela exclamou.

Assenti, alimentando minha falácia. Um riso saiu dos meus lábios.

— Ele ficou lindo, não é? — perguntei. Ruel me encarava. — A cor escura é algo que realmente combina com ele.

— Não é? — Clary riu, assentindo. — Meu garotinho é um homem feito.

Vincent desviou os olhos, fitando os sapatos pretos. Seus lábios tremeram, querendo se curvarem em um sorriso.

— Querido, — ela chamou. — Eu quero que saiba.

— Vó, não precisa...

— Mas eu preciso que saiba. — ela alegou, sua voz firme e ressentida. — Eu não suporto você se negar a me encarar, Ruel. Eu te criei e assisti você crescer.

Vincent cerrou os dentes, seus olhos se fechando enquanto ele aceitava que Clary tinha poder sobre ele também.

— Você se culpa pelo o que aconteceu, e tudo bem. — continuou. — Tudo bem você se culpar, querido. No entanto, eu preciso que você saiba que não foi você que entrou em minha casa para me assustar. Não foi você que mandou ninguém atrás de mim.

— Clary, por favor, — ele suspirou. — Eu...

— Não é sua culpa. — a mulher sibilou. — Você chegou a tempo, e não importa o que teve que fazer. Você me salvou.

Meus olhos tremeram, lágrimas querendo aparecer no fundo dos meus olhos. É tudo como uma roda gigante. Uma hora estamos em cima, mas no dia seguinte, podemos estar em baixo. Nesse dia, estávamos no chão, a sensação de perda batendo no seu corpo. A possibilidade de perder Clary fez meu coração doer e Ruel perder a sanidade.

Ele ficou louco.

— Você me salvou. — ela repetiu.

Vincent engoliu seco, sua boca se abrindo quando um suspiro pesado e cansado escapou. O peso dos seus ombros se esvaindo, a dor aguda subindo por suas veias para poder pular da sua pele e ir embora.

O RECOMEÇOWhere stories live. Discover now