O RECOMEÇO

TRINTA E DOIS

Lore

O celular do Ruel tocou, e percebi devido a tremedeira que o aparelho fez em cima da mesinha de centro, qual se encontrava na sala da casa da Anne.

Vincent havia ido no fundo da casa com seu amigo Shawn, pois segundo Carter, colher temperos para o jantar era função dos homens, o que para mim, Anne e as duas crianças, era tudo verídico.

Eu estava sentada no sofá enquanto assistia um desenho animado que Liz me arrastou. Era sobre uma família de bichinhos. E pelos sorrisos e gargalhadas da pequena, a garotinha amava seu desenho.

Soltei um riso e alisei sua cabeça, enrolando uma mecha no meu dedo. Ela franziu a testa quando puxei seus fios sem querer.

— Doeu, tia cereja. — reclamou e fez beicinho.

— Desculpe, querida. — afastei minha mão e joguei as costas no sofá.

Voltei para televisão. Agora o porquinho chamado Macellus chorava porque seus amigos não o chamaram para brincar.

Encarei a tela do telefone quando ele vibrou outra vez, mas quando a porta da área de serviço abriu, avistei Ruel com luvas de silicone pretas nas mãos enquanto entrava, ao lado do Shawn. Seu casaco e calça estavam sujos de terra.

Ruel resmungou e tirou as luvas após entregar alguns legumes e folhas que serviriam para o molho do macarrão. Seus olhos logo me procuraram e depois pararam no corpo pequeno da Liz ao meu lado. Ele franziu a testa e caminhou até nós.

O telefone vibrou outra vez. Soltei um suspiro e peguei o aparelho, virando-o e vendo a tela.

"Nerd filho da puta."

— Vinnie está ligando há um tempo.

— Pode atender, querida. — falou.

— Por um momento achei que fosse mulher. — comentei.

— E se fosse? — provocou, com um sorriso sacana.

Deslizei o ícone e coloquei o celular na orelha. Antes que eu pudesse falar, Stewart gritou impaciente e agoniado na linha.

"Estou ligando há minutos, porra!"

— Nervosinho? — ri e olhei para Ruel, que deu de ombros e parou em minha frente.

Arregalei os olhos e afastei meu rosto do seu corpo.

— O que foi?

"Invadiram a casa da Clary há meia hora. Um carro passou pela câmera, mas os homens quebraram porque sabem que estou de olho. Mas, acho que eles não sabem do que sou capaz. Me subestimaram."

Minha garganta secou e minha mão suou.

Levei meus olhos para Ruel, procurando forças para falar com ele.

"Lore, meu drone não captou nenhuma fuga, mas não consigo ver nada lá dentro."

Fechei os olhos e cerrei os dentes, sentindo meus ossos doerem e a raiva crescer como se escuridão invadisse a porra da minha mente quebrada.

— Vinnie...

"Presumo que estejam vivos. Clary e Tobias. No entanto, não sei o que eles querem. Talvez ela como refém?"

Vincent me olhou de relance após responder uma pergunta boba do Shawn. Seus olhos captaram o meu olhar preocupado, e ele não demorou para entender que tinha algo errado.

"Já mandei nossos homens para lá, e eles estão vigiando para ninguém sair. Eles me alertaram que não notaram nenhuma fatalidade, mas isso não é garantia."