QUINZE

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Lore

O cheiro familiar de flores e charuto que a mulher gostava de usar inundou a sala de estar. A decoração continuava a mesma. Paredes das cores marrom e branco, e móveis brilhosos, deixando o cômodo acolhedor e bonito. Quadros com pinturas abstratas, e outros com fotografias de família estavam presos nas paredes lisas. Ruel estava em uma delas. Ele era criança e estava sentado no colo da Clary. O garoto tinha um sorriso largo e feliz. Suas bochechas gordas estavam avermelhadas e o cabelo loiro mostrava o quão lindo ele sempre foi. Eu não precisava estar presente para ver que o Vincent se sentia em casa e em paz.

Ele era tão feliz. O seu amor pela avó só crescia ainda mais apesar dos anos.

O homem ao meu lado respirou fundo antes de entrar. Seu aperto na minha mão deixava claro o seu nervosismo e agonia. Eu sei que a saudade dela comia seu corpo por dentro, mas ainda assim, Ruel se sentia inseguro para vê-la depois de cinco anos.

Atravessamos a sala e entramos na cozinha. Tobias saía pela entrada de vidro, indo para a parte externa, sumindo após se virar. Clary estava de costas para nós dois. Ela vestia um vestido folgado. Suas mãos estavam apoiadas na bancada da sua cozinha amadeirada enquanto seus olhos encaravam o seu marido sumir.

Olhei para o Ruel. O loiro tinha seus olhos claros vidrados na figura feminina de setenta e cinco anos em nossa frente. Sua expressão me deixava ciente que ele queria falar algo, mas não tinha coragem, ou se sentia culpado de alguma forma.

— Vovó! — chamei. — Vovó Clary!

Ela virou.

Espanto cresceu em seu rosto enquanto seu olhar não deixava de fitar o neto. Ruel engoliu seco em desespero, sentindo ansiedade reinar em seu corpo. A mais velha respirou fundo, analisando o loiro dos pés à cabeça.

Talvez ela estivesse se certificando se era real ou se a idade já estava querendo levá-la mais cedo antes fazê-la ver o neto.

Seus olhos claros, quase iguais os do Vincent, piscaram e pararam em mim. Ela agora me olhava com atenção, surpresa e confusão, com certeza notando a mudança drástica em mim.

— Viemos fazer uma visita inesperada. — comentei.

Seus lábios se curvaram para cima e um sorriso grandioso e brilhante apareceu.

— Oh, meu Deus! — sua voz cheia de sentimento e felicidade. — Meu menino.

Ela se aproximou em passos apressados e segurou o rosto do neto. Ruel fechou os olhos e sentiu o amor da sua avó, aproveitando tudo que conseguia, o afeto mais verdadeiro que ele tinha, exceto o meu. O homem não falava nada.

— Você cresceu tanto. — ela disse. — Meu Deus...

Vincent assentiu e deixou um beijo na bochecha da mulher. Permiti que um sorriso aparecesse nos meus lábios enquanto meus olhos observavam a cena. Ruel a amava tanto. Ela sempre foi a mulher mais importante da vida dele. As mãos da Clary alisavam suas bochechas e os beijos que ela dava em todo o seu rosto, fazendo meu coração doer.

Há quanto tempo eu não recebia isso?

Eu era uma garota que nunca mereceu tal coisa?

Ou, talvez, Carla não me amou o suficiente para me fazer sentir amada? Cuidada? Única?

Engoli seco e olhei para baixo, desviando meu olhar. Eu não queria que Ruel visse a minha reação. Ele ficaria preocupado.

O gosto ruim amargou minha língua, deixando-me desconfortável e estranha.

— Lore!

Clary tocou no meu braço e me puxou para um abraço quente. Meus lábios tremeram quando o calor dos braços da mais velha invadiu minha pele. Deixei me levar. Permiti que meu corpo duro amolecesse e sentisse o carinho dela.

O RECOMEÇOWhere stories live. Discover now