Capítulo 11

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Son se sentia melhor que ontem. O rosto ainda doía, mas estava sensivelmente mais suportável. O médico o havia garantido que, dentro de quatro ou cinco dias, as dores iriam passar. A intervenção não foi severa, contudo é necessário cuidado em campo. A máscara especial - que seria a sua proteção - estava sendo enviada para o Catar, região onde ele estaria em curto período de tempo. Ignorando a enjoada dor de seu rosto, estava animado e confiante. Independentemente de como a Coreia se sair, ele irá dar o seu melhor.

O atleta sul coreano passou parte de sua manhã enviando mensagens para a sua família e amigos. Seu irmão o alugou por horas, não que ele odiasse, pois sentia tremenda falta de estar com ele. Son reconhecia a natural preocupação de seus pais e teve que escutá-los dissertar acerca dos riscos de voltar a jogar logo após a lesão. O seu pai aceitou a decisão do jogador depois de saber acerca dos cuidados e da afirmação do médico. Não esperava menos do velho que sempre o aconselhou dentro e fora dos campos.

No todo, o seu dia passava enfadonho. Não poderia se esforçar como o usual dentro de uma semana, então utilizava o seu tempo de repouso assistindo a filmes, jogando - mesmo que não fosse muito a sua praia - e nas redes sociais lendo as mensagens dos fãs.

O final de sua tarde melhorou exclusivamente pela presença surpresa de Richarlison. O rapaz estava ali, diante dele, na sala de estar. A enfermeira, que havia o ajudado com os medicamentos e algumas dicas para quando ele estiver no Catar, logo se recolheu com a chegada do não convidado.

Incontidamente, Son repara nas roupas de Charli, que trajava um conjunto esportivo preto e tênis brancos. Ele parecia muito bem com aquela vestimenta e Son restringe os seus pensamentos aí.

- Sonny, a sua cara está mais inchada que o normal.

Sorrindo, acena. Não esperava nada menos do que esse tipo de comentário dele.

- E você está fazendo o que aqui? Não tem um voo para pegar?

Richarlison enfia ambas as mãos nos bolsos da calça e levanta os ombros.

- Daqui a pouco. Mas vim te ver. - Parecendo um tanto aflito, Richarlison retira uma de suas mãos do bolso e toca a própria nuca. - Eu queria ter trazido um presente, mas eu não sei o que te dar. Você meio que já tem tudo. Se talento fosse transferível, eu poderia arranjar um pouco para você.

- Olha como você fala bem o idioma quando quer me elogiar. - A réplica de Son sai apoiada na ironia.

- É verdade. - Richarlison parecia desaforadamente inocente para alguém que acabou de ofender o jogador suporte de seu clube.

Son lembra-se do que enviou de madrugada para o outro atacante de seu time. Ficou aliviado que parte do que disse estava indecifrável e de que não falou nada que pudesse o comprometer. Mesmo que, conscientemente, assinasse embaixo de tudo o que disse quando não estava na sua retilínea linha de razão.

- Olha, vem cá.

Richarlison surpreende Son quando o puxa para um abraço. Nunca antes o rapaz foi o responsável por iniciar qualquer contato entre eles. Quando o choque da ação suaviza, Son consegue aproveitar o raro momento e, quem sabe, único entre eles.

- Por isso, o mais velho envolve Richarlison e o aperta, aproximando-o mais de si.

- Fique bem logo, Sonny. - Sussurra lentamente antes de criar espaço entre eles. Richarlison sorri amigavelmente, sem nenhuma carga da zombaria usual.

- Eu vou ficar, Richi. Eu te disse isso. - Son dá leves tapas nas costas largas de Richarlison, consciente demais para tentar qualquer outra movimentação.

- Isso dói? - Estendendo o dedo indicador, Richarlison toca suavemente a pele abaixo dos olhos de Son.

- Sim, sim. Senti a minha alma ir e voltar. - Mente, se aproximando e apoiando a testa no pescoço do mais novo. Aproveita e inspira o aroma viciante de Richarlison.

- Você é muito besta, parece brasileiro. - Richarlison continua surpreendendo a Son quando apoia a mão larga na nuca do amigo e acaricia o cabelo dele.

Son sentiu um arrepio agradável perpassar por todo o seu corpo.

- Não existe palavra no inglês que você possa traduzir? - Son aproveita desavergonhadamente enquanto Richarlison acariciava o seu couro cabeludo. O toque de Charli não era suave e ameno, era do tipo descomedido e autêntico. E essa era a definição que vinha a sua mente.

- Não. É muito específico. - A voz do brasileiro vai, gradualmente, diminuindo. Son percebe o exato momento em que Richarlison aproxima o rosto da lateral do seu.

Se Son sentia-se agitado antes, o comboio de sensações convulsionam-se pela forma como Richarlison estava, literalmente, cheirando o cabelo de Son.

Se mover tornou-se um ímpeto de necessidade. Son encara os olhos grandes e atentos de Richarlison. Ele não estava imaginando aquela situação, estava? Era difícil para Son ler através das expressões de Charli, ainda mais quando o rapaz só sabia mostrar no máximo quatro: indiferença, alegria, ansiedade e raiva. Naquele momento, não repousava sobre a sua face nenhuma das quatro listadas, então qual seria?

Son esqueceu-se da dor, todos os seus sentidos ocupados centrados em um único foco: Richarlison. O garoto desvia os olhos dos de Son para, de modo impudico, averiguar o rosto do atacante mais velho. Son redesenhou o mapa formado pelos olhos curiosos de Richarlison, que passaram pela testa, sobrancelhas, nariz, bochechas, queixo e boca do mais velho. Mantiveram-se, insistentemente, presos nos lábios de Son pelo o que pareceu um absurdo de tempo.

Son observa uma nova expressão ser apresentada a ele, seja consciente ou inconscientemente.

Será?

Quando Richarlison retorna os seus olhos para os de Son, havia um mundo de dúvidas que Son desejava sanar.

Cada uma delas.

Um súbito barulho rompe a incógnita troca de olhares e proximidade entre os atacantes do Tottenham.

Em reação ao estrondo repentino, Richarlison dá incontáveis passos para trás, como se estivesse próximo ao fogo em brasa.

- Oh, desculpe. Não quis interromper. - A enfermeira catava os remédios que havia derrubado, evitando olhar para os dois.

Son vai até ela de prontidão e a ajuda a recolhê-los.

- Perdão. - Ela diz mais uma vez. Sem esperar uma réplica, apressa o passo para o corredor.

Ao virar-se para Richarlison, Son o encontra encarando cegamente o chão, as mãos de volta aos bolsos da calça. O mais velho repara no homem tão alto e tão corpulento como ele. Aonde estava com a cabeça?

Ao vê-lo com a distância necessária, a ficha cai de um modo diferente de quando estavam perto. Son estava agradecido pela Copa do Mundo estar chegando, assim ele poderia focar em algo mais concreto e que, possivelmente, ocuparia todos os seus pensamentos.

- Então, ela é a sua enfermeira? - Questiona com um traço de zombaria na voz.

- Sim. A Lily é bem gentil.

- E bonita. Muito gata. - Richarlison abre um sorriso embora não parecesse tão natural.

Son pisca, compreendendo o que estava acontecendo. Ou ele achava que sim. Seja como fosse, opta por marginalizar o desgosto nascente em si.

- Obrigada pela visita, Richi. - Son caminha até o amigo e estende a mão. O garoto olha para a ação por alguns segundos, quase como se decidindo se iria aceitar ou não, mas no fim bate a própria mão de encontro com a do outro atacante.

- Te vejo nas finais. - Richarlison volta a sorrir, agora mais genuíno do que antes.

- Se der sorte, nos vemos. Besta.

Richarlison gargalha, parecendo gostar da pronúncia, provavelmente errônea, da palavra que usou mais cedo. 

Gol no seu coração (2son fanfic)Donde viven las historias. Descúbrelo ahora