CAPÍTULO 1

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Emily aparece quando estamos tomando o desjejum e beija as bochechas dos pais - é um hábito que temos desde pequenas.

- Bom dia, mamãe, papai - diz ao sentar-se na cadeira restante.

- Bom dia - eles respondem em uníssono.

Limpo a garganta, porque sei que estou sendo solenemente ignorada.

- Ah, oi, Amanda - diz minha prima, fingindo surpresa ao me ver.

- Oi, Emy - suspiro.

Ela volta sua atenção para a mesa à frente.

- Humm, tofu - comemora, um sorriso verdadeiro no rosto. Ela começa a se servir e, em seguida, a comer. E volta a fingir que não existo, obviamente.

Meus tios voltam a falar sobre seus respectivos trabalhos.

- Annie é uma aluna aplicada, admito, mas não consegue fazer amigos em nenhuma turma - tio Jeff explica, referindo-se à estudante que foi transferida recentemente para a Universidade Pública daqui. Ele é professor de literatura.

- Ela devia estudar menos, querido - responde a mulher loira ao seu lado, sua esposa. - Incentive os meninos a fazer atividades em grupo, fora da sala.

- Que tal um clube do livro? - sugiro.

- Boa ideia - continua tia Carlie. - Poderiam ler livros escolhidos por eles próprios e todo fim de semana discutir sobre.

- Então, fariam relatórios em duplas valendo nota - complementa o professor, que adora ler relatórios.

- Isso aí.

Ambos sorriem, as bocas cheias.

Olho de lado a minha prima. Ela está concentrada na refeição, dando uma de surda. Seus cabelos claros ainda estão presos por um elástico no alto da cabeça, um pouco arrepiados nas laterais. As bochechas estão coradas da corrida matinal.

Limpo a garganta, tentando chamar sua atenção.

Não funciona.

Repito, dessa vez um pouco mais alto. Minha garganta dói.

Emily revira os olhos e me fuzila enquanto mastiga.

- Você não pode me ignorar para sempre, Emy.

Ela engole e faz sua expressão mais cínica, o que me faz querer rir. É tão fofa!

- Qual é a graça? - grunhe, cruzando os braços.

Tento relaxar meu rosto e falho miseravelmente. Para ajudar, respiro fundo e tomo um pouco do meu suco de laranja.

- Você fica uma gracinha assim. -
Ela sorri involuntariamente, mas logo retorna à sua carranca original.

- O que você quer?

Há tensão sobre todos na cozinha. O casal parou de conversar, percebo.

- Você - repito - não pode me ignorar para sempre.

- Ela tem razão - intromete-se seu pai, apontando o garfo na minha direção.

Tia Carlie meneia a cabeça em concordância e Emily bufa.

- Pai, por causa dela eu tive que ir correr sozinha a semana inteira. - Ela descruza os braços e me encara com raiva.

Desta vez, sou eu quem revira os olhos.

- Já expliquei o motivo de não poder ir.

- Emily, querida, não vê que sua prima está triste com essa coisa toda?

CORAB 1Where stories live. Discover now