CAPÍTULO 30

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Valery e eu estamos paradas à entrada do labirinto, já amarradas. Estou vendada, pois não tive escolha, respirando com dificuldade e tremendo mais do que antes.


Jason e Kelly estão num grupo diferente do nosso. Assim como a feiticeira. E Marv e Kim também. Cada um com a sua dupla.

Antes de entrarmos, ouço a última ordem: ninguém deve falar alto demais, apenas em sussurros, pois isso pode despertar criaturas perigosas. Se uma dupla falhar, todo o grupo perde.

Engulo em seco ao pensar no tipo de criaturas que podem despertar se fizermos barulho. Apenas o fato de não enxergar nada já me dá arrepios e um medo quase tão grande quanto o que senti na manhã em que Dylan me sequestrou.

- Isso não me anima muito - digo nervosa, numa falha tentativa de conversar, mas não obtenho resposta.

Um pouco chateada, transfiro o peso de um pé para o outro. A ação faz com que a corda em meus tornozelos aperte, me lembrando quão vulnerável estou. Sinto-me cega e impotente. Talvez nunca tenha sido refém da escuridão, nem mesmo quando era menor e saía correndo pela casa, gritando, depois que o sol se punha e esperávamos uma hora inteira até a lua levantar, brilhante, no céu. O breu da Hora Negra jamais me atormentou a esse ponto.

Dou um passo, insegura, e o dedão do meu pé esquerdo bate em alguma coisa, fazendo-me cair de encontro ao chão.

Solto um gritinho ao mesmo tempo que ouço Valery fazer o mesmo.

E ela cai por cima de mim. Com os seios bem na minha bunda. Seu rosto encosta na base da minha coluna e ela tenta se levantar, grunhindo e se arrastando sobre meu corpo.

Fico imóvel, esperando que se afaste, mas me lembro que estamos amarradas muito próximas.

- Acho que temos que fazer isso juntas - sussurro, com a voz repentinamente rouca.

Aguardo em silêncio enquanto ela tenta se desvencilhar de mim, em vão, e xinga várias vezes.

- Valery, eu...

Ouço o que parece um palavrão numa língua que desconheço, provavelmente Irlandês, e ela começa a me dar instruções para levantar.

Contamos até três e levantamos juntas. Mas talvez tenha sido rápido demais, pois caímos para o lado contrário. Desta vez minha bunda pousa com força no colo dela, que fica desconcertada. Sei disso porque ela arfa e seu peito sobe e desce nas minhas costas.

Envergonhada e com um latejar suave na minha região íntima - que eu tento me convencer de que é porque não fiz xixi nas últimas horas -, subo e desço algumas vezes, tentando encontrar apoio para me erguer, mas sou tão desequilibrada que consigo deixar a situação ainda mais constrangedora.

- Desculpe, isso não era para ser assim.

- Apenas saia de cima de mim e se recomponha. - Sua voz soa esganiçada, com um toque de raiva e alguma outra coisa que não consigo identificar.

Em poucos segundos estamos novamente de pé, e o silêncio desagradável retorna.

- Me desculpe por isso. - Faço um gesto vago, indicando o que aconteceu, e ignoro o fato de que ela está bem atrás de mim, não à frente. - Mas se você tivesse me avisado que tinha um obstáculo, eu não teria tropeçado.

Ouço-a bufar. Fica em silêncio por alguns segundos, matutando algo. Por fim, ela solta uma risada seca.

- Qual é a graça?

- Não tem obstáculo algum - diz, como se fosse a coisa mais simples do mundo e eu não passasse de uma tonta por não saber.

- O meu dedão é prova de que... - começo a protestar, mas ela xinga de novo, batendo em algo com as botas. - O que houve?

CORAB 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora