CAPÍTULO 31 - POV EMY

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Subo as mangas do pijama rosa claro numa tentativa de aliviar o calor, mas até os cangurus-rappers da estampa sabem que é inútil. As previsões do tempo para este verão estavam mais do que corretas. Isso é tão irritante como ter a mãe da Eveline aqui em casa noite e dia, mesmo que ela seja uma pessoa razoável. Ah, poxa, não gosto de pessoas razoáveis.


Conformada com a situação - e suando como um atleta durante as Olimpíadas -, dou uma mordida no meu sanduíche de tahine doce e volto-me para a tela do computador à minha frente. Theo me encara preocupado, seus profundos olhos negros se dirigem aos meus e ele tenta sorrir.

- Se eles tivessem apenas resolvido dar um longo passeio - diz - já deveriam ter voltado.

- Tem razão. - Encolho os ombros e olho para o sanduíche, que repousa na escrivaninha, mas não sinto vontade de comê-lo. Não mais. Sinto apenas um arrepio incomum nas extremidades do corpo. - Talvez tenham decidido viver juntos fora da cidade, o que é uma grande loucura, e pensaram que seria melhor não avisar a ninguém. Acredito que meu pai tentaria impedir. E a mamãe. E eu...

Faz-se uma pausa, e ouço apenas os sons dos pequenos animais noturnos do lado de fora.

Olho por cima do ombro, para a janela aberta do meu quarto, imaginando se Amanda teria coragem de pular a sua para ir embora. Não. Ela é louca, não idiota.

Theo suspira, chamando minha atenção.

- Sinto falta do meu amigo - ele sussurra.

Fito-o de supetão, quase derrubando o prato com o sanduíche ao apoiar as mãos sobre o móvel.

- Eu também. Quero dizer, não do Jason, especificamente, mas eu adorava implicar com eles. Era tão... divertido.

- Não acho que seja boa ideia usar o verbo no passado.

Cubro a boca com uma mão, finalmente percebendo as palavras que saíram dela.

- Cansei dessa merda toda - murmuro entre as lágrimas que ameaçam cair no meu rosto. - Vou atrás deles eu mesma.

- Isso, definitivamente, não é uma boa ideia.

- Eu não iria sozinha. - Franzo as sobrancelhas. - Grey concorda comigo e prometeu me ajudar. Conversamos durante toda a semana, e ele acha que algo muito ruim pode ter acontecido.

- Como o quê?

- A teoria dele é que sobrenaturais invadiram a cidade, secretamente, e sequestraram adolescentes.

Theo parece incrédulo.

- Por que eles fariam isso? O que ganham tirando humanos de suas casas?

- Não sabemos. O palpite do italiano é que querem iniciar uma guerra. Foi assim no país dele.

Theo considera minhas palavras por alguns minutos. Depois fixa os olhos em mim, decidido.

- Se vocês forem atrás deles, quero ir junto. É do meu amigo que estamos falando.

Sorrio, confiante, pois acredito que podemos desvendar esse mistério.

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- Me avisa se tiver alguma ideia. Preciso ir dormir daqui a pouco, senão meus pais me põem de castigo. - Reviro os olhos.

- Até logo, linda.

O calor no quarto aumenta ao ouvir suas palavras.

- Até.

Ele encerra a chamada de vídeo com um sorriso discreto, o que me faz sorrir também. E suspirar.

Verifico meu email.

- Que chatice! - Recebi alguns da escola, me parabenizando pelas notas excelentes nas provas finais. É ridículo e entediante.

Desligo o computador e me inclino para desconectá-lo da tomada.

E, então, sinto.

No início é apenas um formigamento nas pontas dos dedos e um chiado peculiar que nunca ouvi antes. Vem de dentro da minha cabeça!

Solto o fio e me agarro no assento da cadeira. Meu coração está à mil, retumbando como um tambor da aula de capoeira. Todo o meu esqueleto sacode, emocionado, e percebo que gostei do que senti.

Sei que não deveria, que provavelmente é tolice, mas pego novamente o fio e conecto-o.

A sensação se expande pelos meus braços, arrepiando cada pelinho na superfície e causando repentina alegria.

Fecho os olhos, apreciando o momento. É como se a própria eletricidade estivesse me chamando para si, me cativando suavemente para me tornar sua. E eu permito.

Logo minha temperatura corporal aumenta, mas não é incômodo, pois sinto-me acolhida. Abro os olhos novamente, e fico surpresa ao notar uma fraca luz lilás saindo das pontas dos meus dedos. Sim, dos meus dedos!

Sorrio largamente, esquecendo todos os meus problemas.

Mas volto à realidade de forma brusca. A energia atravessa meu corpo e eu solto o fio do computador, para que não queime. Uma dor lancinante me faz arquejar e quase gritar. Sinto como se meu cérebro estivesse fritando. É a pior coisa que já senti.

Abraço meu próprio corpo até a dor diminuir, abrindo e fechando os olhos rapidamente.

- Puta merda! - Meus pais devem ter ouvido o grito, tenho que inventar uma desculpa.

Aguardo em silêncio que venham perguntar o que houve, mas a casa permanece quieta.

Preocupada, pois normalmente eles correm até mim quando faço qualquer barulho, me dirijo à porta no fim do corredor pé ante pé.

Eles estão cochichando algo, e minha curiosidade me faz encostar a orelha na porta para ouvir melhor.

- ... devíamos ter dito a verdade quando ela fez 15. - É a voz da minha mãe.

- E desobedecer às ordens do rei?

Fico confusa com as palavras do papai. Então aguço a audição para, talvez, entender melhor.

- Ela poderia se defender se soubesse do que é capaz - mamãe responde, cortante.

- Nem mesmo nós sabemos, Caleena. Se os poderes dela ainda não se manifestaram, provavelmente não os têm.

- Em toda a história da linhagem Saing, somente uma pessoa demorou a manifestar os dons. - Ela soa sugestiva.

- O que quer dizer com isto?

- O príncipe caído era inábil, até que foi diagnosticado como um Manipulador. E se ela for igual?

Prendo a respiração. Será que estão falando de mim?

- Minha irmã não se deitaria com aquele... urgh! vifucknohuc.

- Jefik, conheço Vane. Sei que não faria isso. O que quero dizer é que isso pode estar no DNA dela. Talvez haja um cofator, não sei bem, mas algo nela é diferente. Você mesmo não consegue sentir o que ela é com o escudo, e já sentiu Emily.

Então é sobre Amanda?

- Está certa. Conversarei com Raphael sobre. Ele pode estudar melhor isso. Mas sem uma amostra do sangue de Eeron, não dá para fazer muita coisa. Vou ligar pela manhã e...

Me afasto, atordoada. Acho que somos todos loucos, afinal.

 Acho que somos todos loucos, afinal

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⏰ Last updated: May 11 ⏰

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CORAB 1Where stories live. Discover now