Capítulo 4 - Hormonas

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Camila

Quando cheguei ao hospital peguei minha liberação na recepção e fui até o quarto onde Arthur estava, me aproximei da cama e segurei sua mão gelada e fiquei passando o polegar enquanto olhava para seu rosto sem nenhuma expressão, os machucados que haviam sido causados pelo acidente estavam bem melhores, ele só não acordava, mas estava vivo, segundo os aparelhos do hospital pelo menos.

Soltei uma respiração profunda e ainda segurando a mão dele senti meus olhos cheios d'água - Você foi um tremendo filho da puta comigo Arthur, meus sentimentos por você estão todos embaralhados, sinto ódio, mas também sinto sua falta, como pode isso? Era pra te odiar, era isso que eu gostaria, mas não consigo, estou com saudades de você, apesar de você não merecer nada do que eu sinto por você a tanto tempo, vê se acorda logo, pois vamos ter um filho e preciso da sua ajuda - sequei meu rosto com a mão livre e ouvi a porta do quarto ser aberta devagar o que me chamou a atenção

Soltei rapidamente a mão de Arthur e limpei melhor o meu rosto, não queria que ninguém percebesse que ainda chorava por ele, quando olhei pro lado dei de cara com um dos médicos que acompanhava o caso dele - Bom dia doutora - soltei um sorriso de canto

A médica sorriu simpática e aproveitou pra verificar a aparelhagem de Arthur e depois me olhou nos olhos - Bom dia Camila, como estamos hoje? - perguntou enquanto colocava a ficha de acompanhamento no lugar correto - Vamos nos sentar um pouco? Ou está com pressa? - se sentou em um dos sofás que havia na lateral do quarto

Me aproximei e sentei na outra ponta do sofá, deixando assim uma distância entre nós duas e direcionei meus olhos atentos a ela - Aconteceu alguma coisa doutora? Esses dias conversei com o doutor O'Maley e ele disse que não havia nenhuma novidade no quadro clínico dele, não houve melhoras, mas também não ocorreu pioras - soltei devagar e mordisquei meu lábio em ansiedade

A médica se sentou melhor no sofá e acenou positivamente enquanto cruzava suas pernas - Sim, o quadro clínico dele continua na mesma, estamos sempre repetindo os exames dele para saber como está a sua recuperação, mas continua lenta, quase nenhuma mudança significativa, mas não é sobre isso que gostaria de conversar com você - piscou em minha direção com um sorriso leve nos lábios e apenas acenei para que prosseguisse - Certo, vejo que vem até aqui, as vezes chora bastante e o culpa por toda a bagunça que ele deixou, estou certa? Desculpe me intrometer assim, mas as paredes do hospital têm ouvidos - riu baixo discreta

Eu concordei sem jeito e respirei fundo, não queria que as pessoas ficassem comentando sobre a minha vida, logo senti as lágrimas voltarem aos meus olhos, não queria chorar na frente de uma desconhecida, apesar de ela estar sempre me tratando bem.

- Eu sinto Camila que você não quer ter os sentimentos que tem dentro de você, se culpa por ter eles, não mandamos em nosso coração, o amor ele acontece de diversas formas e não é só porque a pessoa que demos nosso amor e coração nos machuca que ele deixa de existir automaticamente, se permita sentir tudo que tem dentro de você, sei um pouco da história que aconteceu entre vocês, hospital né? - fez uma careta culpada e prosseguiu - Se deixe sentir o que esta preso dentro de você, até pra você conseguir curtir esse serzinho que está crescendo dentro de você nesse momento, antes de você sentir todo rancor que tem dele agora, você sentiu amor, alegria, felicidade, normal que você sofra pelo sofrimento dele, só se deixe sentir ok? - segurou uma das minhas mãos e apertou me passando forças

Enquanto ouvia tudo que a médica carinhosamente me dizia não consegui segurar as lágrimas, deixei que elas viessem e não sabia se era todo o sentimento que estava prendendo dentro de mim ou somente os hormônios aflorados, chorei feito um bebê sentada naquele sofá com uma estranha me segurando a mão e falando palavras amorosas.

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