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Eu estava confusa, não sabia se era por culpa do álcool, mas o fato de Jisoo não me deixar claro o que ela quis dizer me irritou profundamente.
Ela queria ou não que tivéssemos algo?

-Isso não é um sim nem um não.

Ela me olhou e semicerrou os olhos.
Cheguei mais perto dela, me sentindo levemente mais confiante pelo vinho no meu corpo e não gostei de ela estar meio que me dando um fora antes mesmo de eu ter falado algo.

-Chaeyoung... - ela disse em um tom de aviso que eu ignorei. Gostava como meu nome coreano soava na voz dela.

Começou mais como uma provocação de brincadeira, mas agora eu estava acesa, queria que ela falasse com todas as letras que não queria nada comigo enquanto a provocava. Vamos ver se ela é tão certinha assim.
Jisoo nunca namorou ninguém, nenhuma das meninas sabe se ela gosta de meninas ou de meninos. Ou dos dois. A vida privada dela é mantida longe até de nós três, nunca sairam rumores ou tiveram que inventar namoros falsos para ela. Ela era a garota dourada. Sempre andando na linha. Mas isso está prestes a mudar. Jisoo nunca me teve provocando ela, e eu posso ser um tanto quanto persuasiva.

-Hmm? - respondi colocando aquele fio de cabelo rebelde atrás da orelha dela.
Ela arrepiou com meu toque e fechou o olho. -O que foi?

Ela respirou fundo e me olhou. Péssima ideia, eu estava bem mais próxima do que ela imaginava e quando virou o rosto na minha direção se esquivou para evitar um possível beijo.

-Chaeyoung - Ela repetiu. Coloquei minha mão livre da taça no pulso dela, que estava batendo rápido. Sorri de leve olhando pro pulso dela.

-Ah, Jisoo, o que é isso, huh?

Ela me olhou com um ar de desespero e tirou o braço da minha pegada, se levantando logo em seguida e dando uma cambaleada por conta do álcool e voltou a sentar. Fechou o olho e abriu, recobrando os sentidos e se levantou de verdade indo em direção ao quarto. Eu fiquei sentada, olhando pra frente e dando um sorrisinho convencido para mim mesma. Terminei minha taça e encontrei ela saindo do banheiro, quase trombando em mim.

-Você tem que ir - Ela me disse afobada colocando meu roupão com força em direção do meu peito.

-Por que? - Segurei os pulsos dela. Ela me olhou com os olhos arregalados.

-Por que sim, Rosé.

Mas agora eu já tinha ido longe, eu precisava ouvir da boca dela que ela não me queria. E pelo jeito que ela estava agindo me dizia que não era um "não" que eu ia ouvir.
Já tinha ficado com mulheres o suficiente para saber quando uma está com tesão ou não. Jisoo estava perdida, não sabia o que fazer com a informação de que estava com tesão por mim.

-Ok, eu vou. Mas primeiro eu preciso ouvir da sua boca que você não quer que tenhamos algo. -Disse ainda segurando seus pulsos.

-Presta atenção Rosé - ela disse levemente brava mas com um tom de súplica. - olha o que tá acontecendo com as meninas, acha mesmo que quero passar por isso também?

Soltei os braços dela. Ela tinha razão. Mas isso não respondia a minha pergunta.

-Ta, mas não foi isso que eu perguntei.

- Eu....eu não sei, tá legal?

Assenti. Desistindo dessa história. A consciência voltou com tudo na minha cabeça e todo o fogo pela provocação foi junto. Essa brincadeira trouxe mais perguntas do que respostas pra mim. Eu queria que ela me dissesse que me queria? Por que? Desde quando eu provoco a jisoo? E desde quando eu gosto disso? E desde quando eu quero que Jisoo goste de mim?

-Ta. Ok, desculpa - Peguei meu roupão eu fui em direção a porta. Antes de eu alcançar ela me parou, segurando meu braço ficando entre eu e a porta.

-Desculpa, não é que eu não queira, Rosie, é que é tudo muito complicado.

Eu entendo, de verdade eu entendia isso, mas algo dentro de mim queria que não existisse essa complicação e que ela fosse mais emoção do que razão pelo menos por 10 minutos, que se soltasse um pouco.

-Se você parasse de agir racionalmente por um minuto você faria o que?

Ela suspirou, meio que sorriu e grunhiu ao mesmo tempo.

-Eu não sei.

-Eu acho que sabe. Algumas vezes na vida a gente só precisa fazer merda depois de beber pra ter em quem por a culpa. Então se eu fosse você eu aproveitava essa chance que a vida tá te dando.

Ela ficou parada e eu passei por ela, indo para a porta. Ela me deixou ir. Não fiquei chateada, não ia pressionar mais. Ja entendi que ela não me quer, e tá tudo bem. Voltaremos a ser com éramos antes.

Entrei no meu quarto e Lisa estava esparramada na cama, entre os dois travesseiros, acima das cobertas de barriga pra cima com as pernas e os braços abertos parecendo um estrela do mar. O cabelo estava jogado na cara, e dava a impressão de que ela estava de barriga para baixo. Arrumei ela, coloquei de um lado e pus ela debaixo das cobertas. Eu até poderia ir dormir no quarto dela, mas não queria ficar sozinha aquela noite.
Olhei para o relógio que marcava 4:50 da manhã. Saco, amanhã tenho que acordar às 7:00. Fui tomar um banho rápido e quente para combater o frio que estava, escovei os dentes e deitei ao lado de Lisa. O relógio marcava 5:10, eu estava muito ferrada.

Jisoo POV

Ela me perguntou se eu queria algo com ela. Não sabia responder isso. As vezes eu pensava nela, mas não sei se estaria disposta a passar pelo que as meninas estavam passando.
Rosé era linda, com o cabelo loiro pintado que ela jura que é natural, ela tem um olho preto que contrasta com a pele branca, ela é alta e esguia, mas é forte. Mas pra mim a coisa que mais me encanta é a voz. Ou quando ela senta no piano para tocar e se perde no mundinho dela e nem repara que estou observando durante 15 minutos seguidos.
Quando Jennie disse que achava que a gente tinha algo neguei logo de cara. Não tinhamos nada, não teremos nada, duvido que a Rosé - que só pega gente gata e alternativa - teria olhos pra mim. Nunquinha.

Quando Rosie chegou perto de mim hoje mais cedo eu tremi, meu corpo me delatou, sempre acontecia isso, mas eu disfarçava bem, acredito. Hoje não sei se por causa do álcool ou a conversa, quando ela encostou na minha orelha, colocando o fio de cabelo atrás eu arrepiei toda. Ela reparou, lógico que reparou. Meu corpo é idiota pela Rosé. Quando ela pegou no meu pulso acelerado foi o fim, precisava levantar. Fui no banheiro, joguei água no rosto, me olhei no espelho e decidi expulsar ela no quarto. Não ia conseguir me segurar com toda aquela provocação e não posso baixar a guarda.

Quando ela me perguntou se eu pudesse agir emocionalmente por um minuto o que eu faria e nem precisei pensar. Eu teria agarrado ela ali mesmo, e eu quase fiz isso, mas demorei demais pra pensar e ela foi embora. E eu deixei. Quando ouvi a porta fechar, ainda de costas olhei pro vinho na mesa da varanda e acabei com o resto que tinha na garrafa. Uma dose de coragem pra por culpa na bebida depois.
Sai do quarto com minhas pantufas e de pijama e bati na porta onde Lisa e ela estavam.
Ninguém me atendeu. Bati novamente e falei baixinho:

-Sou eu, abre por favor.

Ouvi barulho de pés e uma Lisa descabelada abriu a porta.

-Chichuuu.

Agarrou meu pescoço e quase dormiu ali mesmo.

- O que tá fazendo aqui? - Falou abafado contra meu pescoço.

Apertei os lábios.

-Tentando aproveitar o meu um minuto para agir emocionalmente. Cadê a Rosé?

Ela apertou os olhos e me respondeu com sono:

-Eu não vi ela não, deve ter saído.

Assenti e dei boa noite para ela. Virei as costas e voltei para o quarto de Jennie. Deitei sozinha na cama e repensei no que fiz olhando pro teto branco. Poderia ter aproveitado a chance quando eu tive. Uma lágrima solitária desceu até de alojar na minha orelha.

Ela nunca mais vai me querer.

Hard To Love - Chaesoo I JenlisaWhere stories live. Discover now