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Os dias se passavam calmamente, Jennie estava se recuperando bem. Lisa ficava com ela a maior parte do tempo e Rosé ficou em casa, cuidando de Hank com Alice que veio de viagem só para vê-la. Eu estava pensando em como ia falar pra ela que não podíamos fazer mais o que quer que fosse que estávamos fazendo. Precisava de opiniões sobre o que fazer e não conseguia pensar em ninguém que pudesse me orientar. Jennie e Lisa literalmente apostaram que eu e Rosie iríamos nos pegar, não podia falar para minha mãe por motivos óbvios e não tinha muitos amigos fora o círculo da YG.
Bufei com raiva com esse pensamento analisando o que deveria fazer. Minha mãe bateu na porta entreaberta do meu quarto e colocou a cabeça para dentro.

-Oi filha, quer vir comer?

Minha mãe nunca foi de me dar muito carinho. Quando eu era pequena ela literalmente me chamava de macaca por ter muito pelo. Meus irmãos tiveram fotos tiradas quando novos, álbuns completos, enquanto eu se tivesse 2 ou 3 fotos aleatórias era muito. Mamãe não gostava muito de mim até eu ficar famosa e ganhar dinheiro, mas mesmo assim ainda me cobrava muito para largar a carreira, casar e ter filhos, um homem bom que me bancasse o resto da vida. Eu fiz terapia por um bom tempo até conseguir falar sobre isso com as meninas e um dia soltei sem querer isso em uma entrevista. Minha mãe assistiu e ficou brava comigo, me ligou e me disse que eu era uma péssima filha, que não tinha sido assim que tinha acontecido. Pois bem, é assim que eu me lembro, como diz o ditado: quem bate esquece, quem apanha não

-Já vou -A respondi, respirando fundo me preparando psicologicamente para o jantar.

Sentei na mesa em frente a ela e meu pai, meu irmão e minha cunhada ao meu lado esquerdo e minha sobrinha do direito. Minha irmã trouxe as tigelas com jjamppong para cada um de nós e se sentou na cabeceira da mesa. Começamos a comer conversando atravessado um em cima do outro, como sempre fazíamos quando nos juntávamos depois de muito tempo sem nos vermos. A conversa estava leve e animada, parecíamos uma família de comercial de margarina. Eu deveria ter previsto.

-Soube que Jennie se machucou, Chu, ela tá bem? -Minha irmã perguntou colocando comida na boca e me olhando. Engoli o que estava na minha e assenti.

-É, ela torceu o pé descendo a escada, mas a fisioterapia tá resolvendo. A YG é doida de por uma escada no palco, tentei convencê-los de que era uma ideia estúpida, mas não me deram bola. Agora eles vão me dar razão, eu acho -dei de ombros.

-Minha filha, poderia ter sido você. -Disse minha mãe preocupada, o que eu estranhei - imagina a humilhação de cair no palco! -Ah tá, a preocupação era eu me humilhar, não eu me machucar.

Minha mãe me disse colocando a mão no coração.

-É, mas não foi. E se eu caísse, tudo bem, fazemos muitos shows, seria estranho se nunca desse nada errado. -Falei dando de ombros.

Minha irmã concordou, mas minha mãe continuou.

-Tinha que ter acontecido com Jennie, mesmo, essa menina é muito preguiçosa, vejo algumas apresentações de vocês, ela sempre parece cansada.

Mamãe nunca gostou das meninas e do modo que vivemos, nunca aceitou que a filha dela vive indo de país para país cantar as mesmas músicas. Ela adorava o dinheiro em si, mas não a forma com que ganhava.

-Não acho que esteja certa, mamãe. Jennie sempre foi muito dedicada, sempre pega a coreografia antes de nós e tem um vocal estável enquanto dança. O problema é que o que a senhora vê é o que a mídia publica. Se você fosse pelo menos uma vez no nosso show veria com seus próprios olhos como nos comportamos no palco. Todo mundo pega muito no pé dela, não precisa de você também. -Disse com calma, mas com uma raiva crescente - então antes de você falar mal de uma das minhas meninas, por favor, lave sua boca.

Falei entredentes, com os olhos semicerrados. Normalmente nós brigávamos, mas nunca falei com a minha mãe desse jeito. Ela fez um som de desdém com a língua e continuou sem se abalar.

-Fora os rumores que ela e Lalisa se enfiaram. Namorando? Duas mulheres? Aí, por favor, que vergonha. Esse mundo moderno está perdido, depois vai ser o que? Você e Roseanne?

Agarrei minha cadeira com força enquanto imaginava a cabeça de minha mãe batendo na mesa a frente dela.

-Mamãe, já chega.

Minha irmã disse em um tom calmo.

-Ja chega nada, Ji-yoon, eu não consigo ficar vendo minha filha entrando nesse mundo depravado cada vez mais sem falar nada. Que vergonha, Jisoo, agora você participa de um grupinho de sapatão de merda e uma menina de pé quebrado que já nem dançava direito antes, imagina agora. -Ela falava com nojo.

Meu olho ardia, mas eu nunca ia dar para ela o prazer de chorar em sua frente. Engoli com dificuldade e levantei da mesa. Não era obrigada a ouvir isso, toda vez era a mesma coisa. Tinha me esquecido que minha sobrinha estava ali ouvindo tudo com os olhos arregalados. Dei um beijo em sua cabeça.

-Desculpa meu amor, a vovó é assim as vezes.

Minha mãe me olhava com raiva.

-Eu vou embora daqui, ok? Nunca mais vai precisar me ver. Não aguento isso toda vez que volto pra casa descansar. Já não basta tudo que eu já...quer saber, esquece. Só quero que saiba que essas "sapatão de merda" -Fiz aspas com as mãos e falei firme, mas não gritando- são minhas melhores amigas sua preconceituosa, e se vai falar assim delas aproveita e me chame assim também, já que sua filha é tudo menos hetero. -Falei sem pensar, mas não me arrependi. Semicerrei os olhos e sorri com desdém quando ela levantou da cadeira- É mamãe, parece que sua filha não vai casar com um homem que a banque e a dê filhos, por eu vou estar fazendo dinheiro rebolando a minha bunda em cima de um palco para milhares de pessoas quer você queira ou não.

Senti meu rosto arder. Não vi quando a mão dela acertou minha bochecha direita, só senti a ardência. Ela levantou a mão para me acertar de novo, mas minha irmã segurou. Meu pai e meu irmão continuavam parados. Minha sobrinha gritava para a avó parar e ela se debatia no aperto da minha cunhada que segurava ela.
Minha mãe fez menção de dar a volta na mesa, mas minha irmã impediu, fez um aceno com a cabeça e eu retribui saindo da cozinha. Entrei no meu quarto, coloquei as roupas na mala de qualquer jeito e peguei a chaves do carro.
Quando cheguei na porta principal meu pai me falou:

-Por favor, filha, não faz isso. Conversa com sua mãe direito, ela não falou sério, só se expressou mal.

-Nao, papai. Não defenda ela como se você não pensasse do mesmo jeito.

Dito isso sai de casa e entrei no carro, indo para nenhum lugar específico, apenas longe dali.

Hard To Love - Chaesoo I JenlisaOnde histórias criam vida. Descubra agora