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Bati na porta do banheiro três vezes e esperei uma resposta. Nada. Bati de novo.

-Chaeyoung. Tá tudo bem?

Escutei um arranhado na porta, provavelmente Hank querendo sair.

-Eu vou entrar, tá?

Girei a maçaneta e abri uma frestinha, tentando olhar o interior. Hank balançava o rabo e latiu, indo pra perto da dona que estava sentada no chão, entre a pia e a privada. Cheguei perto dela assustada.

-Ei, Chaeyoung! -Peguei o rosto dela entre as palmas e dei leves tapinhas em sua bochecha-Rosie!

Ela tinha o rosto vermelho e inchado, como se tivesse chorado.

-Rosé! -Ela acordou assustada e eu suspirei aliviada-Ah, que susto. O que está fazendo aqui?

-Eu...não sei exatamente. Acho que peguei no sono?

Assenti.

-Levanta, você tá gelada.

-Que horas são?

-4:30

-Eu fiquei aqui por uma hora??

-Aparentemente. O que veio fazer aqui?

Ela pensou por um momento.

-Eu vim conversar com Jennie.

-Por que?

-Tive um pesadelo, precisava ver se ela estava bem.

Eu sabia bem sobre essas crises de Rosé, ela sempre tinha esses sonhos estranhos, mas normalmente eu acordava com ela gritando ou chorando. Já teve vezes dela ter paralisia, aquilo sim era assustador, mas acho que dessa vez eu estava tao cansada que acabei não acordando.

-Vem, vamos deitar, sim?

Ela assentiu, cansada se levantando, levei ela pra cama, achei a outra meia dela jogada na cama e coloquei em seu pé, deitei ao seu lado e a abracei, passando as mãos em seus cabelos. Ela tremia levemente.

-Eu...se eu te falar uma coisa, você promete não ficar brava comigo?-Ela disse incerta, olhando pra coberta. Meu braço se alojava embaixo do seu pescoço e ela estava de barriga pra cima na cama, enquanto eu estava de lado, a observando.

-Pode me dizer qualquer coisa, sabe disso, não?

Ela assentiu, respirando fundo.

-Eu meio que odeio sua mãe, mas odeio muito mais o seu pai.

Soltei o ar que estava prendendo em um riso meio frouxo, nervoso.

-Eu entendo, eu meio que odeio eles também.

-Mas isso é uma coisa engraçada, sabe, sua mãe sempre foi uma querida comigo, nunca gostou do que fazíamos, mas ela me tratava muito bem. Depois do caso com a Suzy ela começou a me tratar diferente, quando íamos na sua casa ela sempre me dava kimchi para levar, desde então ela parou com isso. Eu achava que não tinha nada a ver uma coisa com a outra, mas depois de hoje eu tenho certeza que tem a ver sim. -Ela remexia os fiapos da coberta, falando baixo e fungando as vezes -E o seu pai é péssimo, qual é o problema dele, sério? Ele ia deixar sua mãe te bater e não ia falar nada? -Tudo ficou em silêncio por um instante, não sabia se ela ia continuar a desabafar ou pararia -Ai, meu deus, desculpa, eu tô aqui falando mal deles como se eles não fossem seus pais. Sinto muito, mas é que eu ainda estou meio estressada com isso.

Respirei e balancei a cabeça, como quem diz que está tudo bem.

-Eles são meus pais, e daí? Não significa que tenho que defender eles. Mamãe sempre foi muito preconceituosa, com tudo. Eu não sei se já te contei isso, mas quando eu era pequena, tipo, 5, 6 anos ela pegou cera e passou nos meus braços e no meu rosto para tirar os pêlos, porque ela dizia que pelo era coisa de homem. Isso ficou tanto na minha cabeça que demorou muito tempo para eu parar de raspar os braços, só depois de muita terapia eu entendi que minha mãe era abusiva -Ela me olhava com um rosto de puro choque- Outra vez ela denunciou os nossos vizinhos que eram colegas de quarto porque ela achava que eles eram gays e não queriam esse tipo de "contato" com os filhos dela. A polícia baixou lá e pediu para um deles se retirar. Descobri muito tempo depois que os dois eram héteros e só moravam juntos por conta da faculdade.

-E seu pai, fazia o que?

-Nada. Papai nunca fez nada. Ele sempre deixou minha mãe abusar de mim e dos meus irmãos, só observava. Nesse dia da cera, eu lembro do meu pai sentado tomando chá na cadeira longe, me vendo me debater nos braços da minha mãe. Eu tive alergia por um mês por conta disso, e ele nem sequer me levou para o hospital, disse que era "o preço da beleza". Papai nunca se meteu porque sabia que um dia ia se virar contra ele, então acho que ele preferia estar do lado dela do que contra. Hoje foi o único dia que vi ele fazer algo para impedir, mesmo que tenha demorado para tomar a decisão.

Sentia o olhar dela em mim, enquanto olhava pro teto.

-Eu sinto muito que tenha passado por isso.

-Eu também -Falei sincera - A coisa que mais sou grata nessa vida foi ter chegado onde cheguei sem nenhum apoio deles, nem financeiro, muito menos moral.

-Eu tenho muito orgulho de quem você se tornou, espero que saiba.

Olhei pra ela e vi que era sincero.

-Obrigada. -Dei um beijo em sua testa.

-Minhas costas estão doendo -ela disse num fio de voz. Senti meu coração apertar e o choro subir novamente, mas minha cota de choro já tinha passado.

-Eu imagino, meu peito também. Ficou roxo, sabia?

Ela se levantou em um braço e me olhou de cima.

-Por que não me disse?

-Não queria que soubesse, mas quando vi os seus nas costas achei necessário compartilhar.

-Posso ver?

-Não precisa, não tá doendo e nem tão feio igual aos seus, já que você tomou todas as pancadas por mim... sem necessidade -acrescentei. Meu peito estava sim, doendo, mas os machucados dela estavam tão piores que preferi fingir que estava tudo bem. Minha mãe tinha me arranhado também, e estava coberto pela blusa, por isso Rosie não viu.

-Por favor. -Ela pediu triste.

Revirei o olho.

-Sabe que eu aguento quando você faz essa cara né?

Ela me deu um selinho, sorrindo.

-Sim, por isso que eu faço.

Abaixei a gola da blusa mostrando o roxo acima do peito direito. Estava claro, mas iria escurecer. Era uma parte sensível e minha pele era muito clara. Ela abaixou e depositou um beijo ali, me fazendo arrepiar. Soltei a gola.

-O outro lado ela não fez nada?

Balancei a cabeça.

-Tem certeza? Sabe que não é pra me esconder as coisas, já contei tudo pra você, espero a mesma reação.

Assenti, puxando a gola novamente, mostrando o arranhão que ia do ombro até próximo entre os seios. Esse era vermelho e tinha bolinhas roxas em volta. Havia um menor, mais embaixo que estava mais fino e menos vermelho

-Meu Deus. -Colocou a mão na boca- Soo, isso é muito grande, como ela conseguiu?

-Adrenalina, eu acho. -Falei dando de ombros. 

-Eu sinto muito, de verdade, desculpa por não conseguir te defender antes, você pediu para eu não me meter, eu tentei, mas nao podia deixar ela te bater, e permiti mesmo depois de você ter recebido o tapa. Deveria ter pego sua mão e indo embora antes, desculpa.

-Não precisa pedir desculpas, você fez mais do que o necessário, te agradeço por isso, mesmo não concordando com a atitude. -ela assentiu, fazendo uma lágrima escorrer do rosto, passei o dedão de leve para limpar.

-Eu nem sei como eu tô chorando, não sabia que meu corpo comportava tanta água -Disse meio rindo e meio chorando.

-Deita aqui, vem.

Ela deitou nos meus braços, entrelaçando nossas pernas. Ela era meu lugar seguro, aqui ninguém podia nos alcançar. Senti Hank subir no colchão e afundar perto de nossos pés. Éramos uma família quase completa -faltava Dalgom.

-Foi um dia muito cansativo, tenta dormir um pouco. Eu te amo. -Disse contra seus cabelos.

-Eu te amo mais.

-Ja disse que não é possível -Respondi sorrindo.



Hard To Love - Chaesoo I JenlisaWhere stories live. Discover now