Revejo minha amiga camarada - Capitulo 6

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Quando eu abri os olhos, tudo estava escuro. A janela estava fechada, e eu estava embrulhada em um cobertor. Olhei por cima do banco, tentando ver alguém. Vi a cabeça de Alyce.

Suspirei e encostei-me no banco. Afastei um pouco a cortina da janela, e arregalei os olhos.

Lá fora, o mundo estava completamente diferente do mundo que eu conhecia.

Nevava, e parecia ventar um pouco. Tudo bem que estávamos no inverno, mas nevar e ventar tanto assim...

Era dia, afinal. Mas o avião continuava com as luzes apagadas, como se ainda fosse muito cedo pra acordar.

Fiquei olhando pra fora por um longo tempo. Passamos sobre florestas, cidades, e mais florestas.

Acho que depois de duas horas, é que tive a sensação de o avião estar pousando. Olhei pra baixo pela janela, e vi o chão se aproximando. Soltei o ar, aliviada, e ouvi uma voz masculina falar nos altos falantes:

- Attention passengers gentlemen, we will belandingin a fewminutes. Please useseat belts. -Tá, agora, me pergunte se entendi alguma coisa, Então eu só entendi que era pra usar cinto de segurança. Ajudou um pouco.

Prendi meu cinto, e fiquei observando o chão ficar mais e mais perto. Alyce já tinha acordado, e conversava com seu marido, em cochichos.

A luz do avião acendeu, e eu pude ver com mais clareza. Observei Alyce se endireitar no banco, e logo em seguida, quando eu voltei minha atenção a janela, o avião já tinha pousado.

Tirei o cinto, e levantei, indo em direção a Alyce. Ela também levantava, e assim que me viu, deu um sorriso forçado. Devolvi o sorriso, como se estivesse super à vontade.

A portinha no fim do corredor abriu, e o casal seguiu pra lá. Fui com eles.

Eu realmente queria que minha vida tivesse botões de play e replay. Se tivesse, eu queria apertar o botão de replay, e voltar no tempo que eu ainda estava com meus pais.

Alyce pareceu se esforçar muito pra fazer uma coisa. Quando eu estava descendo do avião, logo atrás dela, ela se virou pra mim lentamente, e sorriu me dando a mão. Eu engoli em seco, mas a segurei e desci de mãos dadas com ela.

Ela pareceu se ligar que eu ainda não sabia o nome do marido dela.

- His name is Jack. He is your new father... O.k? - Ela disse. Eu entendi. O nome dele era Jack, ele era meu novo pai. Mas eu não pensava assim. Virei-me pra ela e disse:

- But for me, he just is my new friend. I think. - "Mas pra mim, ele é apenas meu novo amigo. Eu acho".

Alyce suspirou, mas continuou andando. Quando chegamos lá em baixo, me surpreendi ao ver o carro que estávamos antes de pegar o avião, e o cara que havia levado o carro nos esperando.

Vejo Jack tirar uma quantia de dinheiro do bolso, e dar ao rapaz, que sorriu com ganância, e piscou para Alyce, logo em seguida se afastando. Jack abriu a porta do carro pra mim, eu entrei relutante, vendo o casal entrar em seguida. Alyce que ia dirigindo agora. Eu me encolhi no banco do carro, olhando pela janela. Alyce deu partida no motor, e continuamos a viagem.

Meus pais foram assassinados. Eu sei. Vou fazer de tudo pra descobrir que os matou. Principalmente agora que eu me lembrei de...

Raphael. Era o senhor que vivia atrás dos meus pais. Raphael chegou a ameaçar eles. Por causa de dinheiro. Meu pai devia pra ele. E pior é que ele foi para o Brasil na semana que meus pais foram mortos. Ele mora aqui. No Estados Unidos. Odiava meus pais. Foi ele. Agora eu tenho certeza. Eu preciso de um... Advogado...

O carro parou. Olhei para os lados, vendo casas que pareciam mansões. Jack saiu do carro, e abriu a porta pra mim. Eu desci, constrangida, e vi Alyce descer também. Perguntei-me porque ele só abria a porta pra mim, e não pra Alyce.

A rua era arrumadinha. Tinha asfalto, e uma calçada com o chão liso. Alyce abriu a porta de uma casa gigante, com a porta de vidro (vamos supor que aquilo seja blindado), a parede cor de pele, o que logo de cara deixava o ambiente mais aconchegante. Entrei depois de Jack, e vi um jardim, com alegres enfeites, gnomos, e um caminho que dava pra porta da casa. A porta estava aberta. Uma senhora com um semblante amigável, apareceu na passagem. Ela vestia uma roupa branca, com um avental rosa. Quando ela me viu, abriu um largo sorriso, e disse:

- Lady, this is the girl? - Ela olhou pra Alyce, que assentiu com a cabeça.

- She does not speak English. Teach it as soon as possible. - Alyce disse. A senhora sorriu ainda mais. Olhou pra mim, e disse:

- Venha menina. Não fique ai parada. Seus pais vão descansar da viagem agora. Logo você também vai. Se quiser... É claro. - Ela disse isso, e Alyce e Jack entraram na casa, me deixando sozinha com a senhora.

- Você fala português. - Eu disse.

- Sim. Vou lhe ensinar como falar inglês. Afinal, não dá pra morar aqui sem saber, não é? - Ela disse rindo - Meu nome é Jane. Sou empregada dos seus pais.

- Por favor, poderia parar de falar que eles são meus pais? - Eu disse, em tom desafiador. A senhora derreteu o sorriso, e disse:

- Claro senhora. Eu entendo. - Eu me liguei que fui muito grossa.

- Me desculpe. Eu não queria ser grossa. Só queria deixar claro. Afinal... que lugar é esse?

- Aqui é Califórnia, senhora. - Eu suspirei.

- Não me chame de senhora. Pode me chamar de você. - Eu disse, sorrindo.

- Bem... Você quer conhecer a casa? - Ela perguntou, voltando a sorrir. Eu assenti, e segui ela, que entrou para a casa. A entrada dava direto pra sala de estar. As paredes, de um suave tom lilás, o tapete cor de creme, três sofás com um tecido bege suave. A televisão enorme, mais parecia uma tela de cinema. Em cima de uma moderna mesinha, tinha uma luminária com uma calma luz branca, que deixava o ambiente convidativo. Na parede, um retrato de uma menininha, loira de olhos azuis...

Então eu quase tive um ataque cardíaco. A garota do quadro era a Taylor. A menina morta que eu conheci.

Minha respiração ficou acelerada. Arregalei os olhos, e fiquei olhando para a fotografia. Taylor tinha um suave sorriso nos lábios. Os olhos distraídos olhavam pra algum lugar fora da foto. Parecia ser uma foto antiga. Taylor, nessa foto, parecia ser muito mais velha do que eu tinha visto. Ela usava um vestido azul, que combinava intensamente com seus olhos. Suas mãos se apoiavam no parapeito de uma janela.

- Hã... Você está bem? - Jane perguntou, preocupada com a minha expressão. Eu contrai os lábios, e disse, com um nó na garganta:

- S-sim... Sim, estou bem. Você poderia me dizer... Quem é aquela garota? - Eu disse, apontando pra foto. Jane seguiu na direção do meu dedo, e, pra minha surpresa, ela fez o sinal da cruz pra foto.

- Essa é a finada irmã de Alyce. Taylor. - Eu estremeci. Irmã?!

- Taylor era egoísta. Violenta. Gananciosa. Tentou matar a irmã Alyce três vezes. - Jane completou. Eu quase desmaiei.

- Hã... Você está bem? - Ela repetiu, preocupada - Está tão pálida.

Eu fui me afastando. Cheguei à porta, e fui virando. O que eu queria, era sair dali, e nunca mais voltar.

- Senhora? Aonde vai? - Jane deu um passo pra frente, preocupada. Eu não esperei. Virei-me completamente, corri para o jardim, alcancei a porta, abri e sai correndo pela rua. Não me interessa se eu não conhecia o lugar. Eu preferia morar na rua a continuar ali.

Comecei a correr, e prometi a mim mesma que faria de tudo pra não voltar pra lá.

Tem alguém aí? - Volume 1 Where stories live. Discover now