Irmãs, moram em cemitérios

34.3K 2.4K 301
                                    

Eu acordei zonza. Tudo girava. Um leve barulho de chuva se fazia ouvir.
Tentei ver alguma coisa. Tudo que eu conseguia ver, ela uma chama na minha frente. E mais além, o rosto de Agatha me observava, como quem não estava se importando com nada.
- O que... Foi aquilo? - Gaguejei. Ela continuou a me olhar. Depois de alguns segundos, suspirou e respondeu:
- Você viu o que aconteceu. Agora se vire para desvendar. - Continuei a olhar para ela, sem expressão. Depois revirei os olhos.
- Você poderia... Só uma vez. Me ajudar realmente!? - Perguntei, irritada. Ela não emitiu nenhuma emoção.
Ela abriu a boca, depois a fechou. Parecia estar em um misto de confusões dentro de si mesma, mas ainda do que eu. Passou a mão no fogo da vela, e voltou a me olhar.
- Tudo que você viu Samantha. Aconteceu. Não foi um simples... "Sonho". - Ela balbuciou. Sua voz carregava um tom de angústia.
- Eu sei. Percebi. Mas nada daquelas pessoas, eu conheço. - Respondi.
- Você pensa que não conhece. - Ela retrucou.
- Eu só vi um menino no sonho inteiro!
- E você conhece ele. Bem, até de mais. - A franja negra com um tom roxo dela, caiu na metade do rosto. Pensei por aguns segundos, depois balancei a cabeça.
- Tudo que eu sei, é que... Aquele garoto é... Pianista? É? - Perguntei. Agatha olhou para as próprias mãos, e sorriso no canto da boca.
- Você é tão inocente... Mas ao mesmo tempo, tão inteligênte. - Eu ergui uma sobrancelha. Olhei ao redor, tentando ver alguma coisa. Percebi que a vela já estava no final. Não havia ninguém ali. Será mesmo que Agatha morava sozinha?
- Isso não é da sua conta. Mas mesmo assim, irei te dizer. Sim, eu moro sozinha. - Ela disse, como se lesse minha mente. Naquela altura, eu não duvidava.
- E seus pais...? - Perguntei, mesmo sabendo que aquilo poderia não ser uma pergunta boa. Ela fechou mais a cara, e apagada a vela, assoprando.
Ficamos em silêncio por um tempo. Eu não sabia que horas seriam.
Ouvi Agatha bater alguma coisa no chão, e depois ela disse:
- Eu não tenho pais.
- Não precisa me contar.
- Eu sei que não.
- Então... Er... Pois é. - Eu disse, sem graça. Ela não emitiu nenhuma palavra.
Suspirei, e levantei, sem saber o que fazer.
- Onde você vai? - Ela perguntou.
-Hã... Vou embora. Não tenho mais nada para fazer aqui. - Respondi. Ela levantou.
- Eu odeio ajudar os outros Sam. Mas o que eu vejo para você, não é legal. - Ela sussurou. Engoli em seco.
- Se quer mesmo ajuda, ouça o que eu vou dizer. Nada é o que você pensa que é. O mal está em todo o lugar. Em cada passo que você da, ele a dois atrás de você. Você está mais que cercada. Se você se deixar levar pelo... Amor, você irá afundar cada vez mais. - Ela disse, firme. Olhei para meus pés, e ele esperou eu votar meu olhar para ela.
- Você não consegue ver as coisas no duplo sentido. Não consegue pensar em tudo que é possível acontecer. As coisas estão no meio da fuça, e você nem enxerga! - Agatha gritou.
- Eu não sei o que é isso que você fala! Eu não tenho essa sua percepção! - Devolvi. Ela me fuzilou com o olhar, cerrando os punhos.
- Você é tão otária. Que vai acabar afundando antes mesmo de perceber. Que você está no meio de uma tempestade. - Eu ouvi ela dizer, pausadamente, tentando disfarçar a raiva na voz.
- Já aconteceu várias coisas. Nada mais pode ficar pior. - Respondi, abaixando a cabeça.
- Se é assim que você pensa, ok. Depois que as trevas te engolir, você vai ficar sozinha. Presa. Que nem seu... - Ela ia falando, mas parou no meio da frase.
- Que? Meu oque? - Perguntei franzindo a testa, erguendo a cabeça. Agatha fechou os olhos, balançando a cabeça, e me virando para a porta.
- Nada. É melhor você ir. - Ela abriu a porta, me jogando para fora. Senti algumas gotas de chuva no rosto. Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, ouvi a porta se fechar atrás de mim. No momento que a porta fecha, produz um barulho seco, e um raio atravessa o céu, acompanhado de um trovão.
Quando o clarão do raio refletiu na minha frente, arregalei os olhos, e dei dois passos para trás.
Eu não sei como eu não tinha reparado ainda.
Na frente, à apenas alguns passos da casa de Agatha, se via a entrada para um cemitério.
Senti meu fígado dar voltas, pulos, e querer sair correndo. Me virei para a porta, um pouco assustada, vendo que ela estava fechada.
Tudo parecia um cenário perfeito para minha morte.
A noite, tarde, eu em frente a um cemitério, a porta trancada atrás de mim.
Alyce e Jack soltos por ai.
Horas Sam, quer mais do que isso?
Fechei os olhos, tentando não pensar nisso. Eu tinha que ir embora. Não podia ficar ali. Eu não queria ficar em frente a um cemitério, mas também não queria correr o risco de me deparar com Alyce. Ou Jack.
Contraí os lábios. Me virei.
- A-Agatha...? - Perguntei, balbuciante.
Nenhuma resposta.
- Agatha, por favor... Eu estou com... - Ok. Eu não queria admitir que estava com medo.
- Agatha, será que você poderia me deixar entrar? Er... - Ganguejei, olhando para os lados. E depois para trás. A chuva não facilitava minha visão.
Suspirei, tentando desviar meus pensamentos. Mas não deu tão certo, quando olhei mais uma vez para o cemitério.
Não dava para ver tão bem. Nas no meio da neblina, era fácil se enchergar alguma coisa. Que se movia.
E parecia vir em minha direção.
Arregalei os olhos, dessa vez mais assustada.
Fiquei mais assuatada ainda, quando percebi que a "Coisa" tinha forma de criança.
E carregava algo na mão. Algo que parecia ser um ursinho de pelúcia.
Com um nó na garganta, abafei uma exclamação de terror, e pensei em bater na porta. Mas e se a coisa ouvisse? Ela iria me pegar...
Aquilo andou para frente. Depois parou. Parecia olhar ao redor. O bicho de pelúcia balançou em sua mão.
Então aquilo pareceu me ver.
Senti meu coração quase parar de bater. Ao mesmo tempo que eu queria respirar, e eu não queria chamar atenção.
A coisa recomeçou a andar. Mas dessa vez, parecia decidida em vir para cima de mim.
Eu estava quase gritando, quando a porta abriu violentamente, e senti uma mão me puxando para dentro. Com terror, vi de relance, antes de eu entrar na casa, que aquilo começou a correr, dessa vez com a intenção de me pegar antes de eu entrar.
Eu ia gritar assim que entrasse de novo. O grito já não podia mais ser segurado. Mas assim que eu pisei dentro da casa, senti a mão de Agatha tapar minha boca.
Ela bateu a porta, e agachou, me levando para o chão também. Notei que ela parecia nervosa. Fez um sinal para eu ficar em silêncio.
Com horror, vi que na fresta em baixo da porta, apareceu uma sombra, que parou bem na frente da casa, no momento que um trovão ribombou.
Apertei meu próprio joelho, tentando esquecer onde eu estava.
Depois de alguns segundos, a sombra andou para o lado, vacilante.
Suspirei, fechando os olhos, nervosamente.
Olhei para Agatha, que tinha a expressão apreensiva.
- O que era aquilo?! - Sussurei. Ela balançou a cabeça, tirando a mão dos meus lábios.
- Se eu te contar, você não vai acreditar. Já me acostumei. - Agatha respondeu, o lábio, nervosamente.
- Me conte. Por favor. - Insisti. Depois de alguns segundos que pareceram eternidades, ela respondeu:
- Aquilo, era uma criança. - Prendi a respiração. Sim, eu tinha percebido isso.
Com um olhar soturno, ela se virou, dizendo:
- Aquilo... É minha irmã mais nova. Ou pelo menos era.



















Tem alguém aí? - Volume 1 Where stories live. Discover now