Ouço uma história de terror - Capitulo 15

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Eu lembro que sai do banheiro cambaleando. A ideia de eu estar perto de um lugar onde um garoto foi assassinado, me dava arrepios, assim que sai dei de cara com Logan, que estava encostado na parede. Ele me olhou, e perguntou:

- Porque diabo está tão pálida? - Eu encostei-me à parede, e disse, secamente:

- Morreu alguém aí, não foi?

- Andou falando com a Agatha, não foi? - Ele retrucou, rindo. Ele parecia saber exatamente os meus costumes, meu jeito, e sempre que perguntava as coisas, ele me surpreendia.

- Cadê a sua adorável princesa? - Eu perguntei. Ele me olhou com olhar travesso.

- Boba. Ela não é nenhuma princesa. - Eu notei que ele estava se segurando para não rir.

- Há, desculpa, é que às vezes você parece ser um príncipe, e ela uma princesa. - Eu disse irônica.

- Estava com fome, mas depois daquele gato, perdi a fome. - Ele disse, mudando de assunto. Eu ri, e disse:

- Aquele gato era da Helena né?

- Realmente, andou falando com a Agatha, né?

- Para, é sério! - Eu disse, rindo.

- Sim... Era da Helena.

- Quem é Helena? Na parede, estava escrito Helena. Agatha me disse Helena, mas não tem nenhuma Helena aqui. - Ele se aproximou de mim, e abaixou a voz, dizendo:

- Serve aquela ali? - Eu olhei para o lado. Lolla estava agachada, no chão, com a cabeça apoiada no joelho.

- Helena? – Como assim, mas ela não era a Lolla?

- Sim. - Logan disse brevemente.

- Mas o nome dela é Lolla. Isso não faz sentido - Eu realmente não estava entendendo nada.

- É que você não sabe ainda da vida dela... Mas se você soubesse, iria fazer um grande sentido pra você. - Ele disse, sentando no chão. Ele me encarou com os olhos azuis.

- Você tem olhos bonitos. - Ele disse. Eu ergui uma sobrancelha.

- Olha quem fala. - Eu ri, sentando do lado dele. - Você e a Lolla sabem muita coisa um do outro né? - Eu disse. Logan olhou para a Lolla, depois pra mim de novo.

- É... Somos amigos desde criança. É impossível não saber um do outro.
- Será que, bem, vocês poderiam dividir essas histórias comigo? - Eu disse, sorrindo. Ele suspirou, e disse:

- São histórias bem macabras, sabia?

- Não me importo, sabia? - Eu respondi. Logan riu.

- Bem... Vamos começar por mim? Que tal? - Eu me virei pra ele, mostrando que eu estava ouvindo.

- Meu nome é Logan Miller, tenho dezessete anos.

- Porque tem dezessete anos, e estuda comigo? - Eu disse - Tenho dezesseis.

- Porque eu repeti. - Ele fez cara de indiferença. - Bem... Quando eu tinha dois anos de idade, meu pai tentou me matar. - Ele recomeçou. Eu olhei pra ele, pedindo mais.

- Meu pai era louco. Ele... Gostava de matar crianças e comigo, não foi diferente. Ele tentou me matar muitas vezes, mas a vez mais forte foi quando ele me jogou embaixo de um caminhão. - Logan me olhou.

Enquanto ele falava, sua feição mudava de um menino alegre e descontraído, pra um garoto cansado, e triste.

- Um dia... Ele se irritou com a minha mãe. Como ele sempre tentava me matar, e ela não aceitava e sempre impedia, o meu pai disse exatamente isso: Se ele não for embora, você vai primeiro. Então... Ele tentou matar minha mãe com um martelo. - Ele contou. Nessa última frase, ele ficou meio em dúvida, se me contava ou não.

- Ele não conseguiu. Minha mãe se defendeu, e em vez dela, foi ele. Minha mãe bateu na cabeça dele com o martelo. Em legitima defesa. - Eu levei a mão à boca, horrorizada.

- É, eu te avisei - Ele disse, conseguindo sorrir. Eu não conseguia sorrir. - Depois disso, minha mãe ficou louca. Ela... Dizia que via meu pai com uma arma na mão, e a cabeça sangrando, acusando ela de assassinato também dizia que... O espirito dele a possuía, pra ter vingança. Até ai, nós morávamos no Brasil. Depois que viemos pra cá, essas visões pioraram. Ela diz que vê o meu pai correndo para cima dela, com um martelo na mão. Às vezes, ela diz que ele a sufoca. Que toda a vez que ela vai me desejar boa noite, ele está lá, no pé da minha cama, me encarando, sorrindo. Com a cabeça aberta. - Ele completou. Senti minha cara queimar.

- Eu... Sinto muito? - Eu tentei dizer. Ele sorriu, mas de modo triste.

- E minha mãe é louca até hoje... - Ele vai falar alguma coisa, mas para na metade. Olha pros lados, apreensivo.

- O que foi? - Eu pergunto assustada. Ele se inclina mais pra perto de mim.

- O que eu vou te contar agora, eu nunca contei pra ninguém. Por favor, não conte pra ninguém também. - Ele diz. Eu balanço a cabeça, afirmando.

- Meu pai... Matou a mãe de Caroline. - Ele disse. Eu senti minha alma querendo fugir. - Quando Caroline cresceu, e soube, ela ameaçou denunciar minha mãe por isso, já que meu pai não estava mais vivo, como cúmplice do crime. - Eu engoli em seco, querendo terminar de ouvir, mas ao mesmo tempo não.

- Ela ameaçou denunciar. Mas... Minha mãe fez de tudo. Minha mãe prometeu fazer tudo que ela queria. Caroline pensou por algum tempo, e depois voltou, já dizendo o que queria. - Ele disse.

- Ela queria... Que eu namorasse com ela, em troca do seu silêncio. - Ele terminou de dizer. Pensei que minha boca ia cair, de tão aberta que estava.

- Meu deus, que história horrível! - Eu disse, levando a mão a cabeça.

- É... Eu ainda tenho pesadelos com meu pai. Sempre. - Eu respirei fundo, e apoiei a cabeça na parede. Lembrei-me das palavras de Agatha. "Aprender a ser humilde." Há tanta gente com problemas maiores que o meu... E eu aqui pensando em me matar virei-me pra Logan, e vi-o com lágrimas nos olhos.

- Me desculpa. - Eu disse de modo delicado. Ele se virou pra mim, cansado, e perguntou:
- Por?

- Eu pensei que você era um cara metido. Um desses que gostava de se exibir, só porque namorava uma menina bonita. - Ele franziu a testa, e disse:

- É quem me dera fosse só isso. - Uma lágrima escorreu sem que ele pudesse segurar, e ele automaticamente olhou para o chão. Eu sorri, e abracei-o, lentamente. Ele pareceu se espantar, mas sorriu, e me abraçou, soluçando.

O sinal tocou.

Tem alguém aí? - Volume 1 Where stories live. Discover now