Conto a história da minha vida

33.5K 2.5K 152
                                    

 Corri pelo corredor, tropeçando em meus próprios pés. Suspirei quando alcancei a sala. Fiquei olhando para a porta fechada por alguns segundos. Passei as mãos pelo cabelo, e olhei para o teto. O professor diria que eu estava cabulando, com certeza. A não ser que eu entrasse sem fazer fazer barulho, o que não adiantaria nada, já que a sala estava em silêncio. Bufei, e meti a mão na maçaneta, sussurrando: "Dane se..."
 entrei, lentamente, como se nada tivesse acontecido. Olhei para a professora que estava lá, e vi ela me olhar, por cima dos óculos. 
 - where were you? - Ela perguntou. Vi os alunos voltarem os olhares para mim, se divertindo com a minha expressão. Traduzi sua pergunta na minha cabeça. "Onde estava"?  Suspirei e tentei responder:
  - I'm just late. - Olhei para ela. Provavelmente entendeu. Respondi que apenas estava atrasada. Ela continuou a me olhar, até que balançou a cabeça e indicou uma mesa e uma cadeira. assenti, e fui rapidamente para lá.   
                                                                               ¨¨¨¨¨¨

 O sinal tocou. Suspirei, cansada. Eu não prestei atenção em nada do que os professores disseram. Simplesmente não conseguia pensar em nada que não seja o garotinho. Passei as aulas inteiras perguntando o que aquele garoto queria dizer. E eu sabia que a única pessoa que poderia me ajudar era a única que não queria conversar comigo.
 Levantei da cadeira, arrastando minha bolsa pelo ombro. Já estava escurecendo. Como tínhamos entrado no inverno, os dias eram mais curtos, de modo que quando eu saísse da escola, já estava escuro.
 Olhei para Agatha. Ela era a única pessoa que poderia me ajudar. Ela levantou rapidamente, colocando o capuz de sempre, e agarrou a bolsa. Engoli em seco, e fui atrás dela.  
 Cheguei do seu lado, e perguntei, andando:
 - Agatha! Er... Você mais do que eu, sabe que tem alguma coisa errada naquele banheiro né? Que... É assustador. Sabe, depois que você saiu, eu fui trancada lá dentro. - Eu disse. Ela parou, e me olhou, intrigada.
 - Ficou presa naquele banheiro? Meu deus. Isso deve ter sido muito engraçado. Queria ter visto. - Agatha disse, recomeçando a andar. Juntei as sobrancelhas, e a segui.
 - Aquilo não foi engraçado não, o.k? Eu quase morri lá dentro! - Eu disse. Sim, eu sei, eu estava exagerando, mas...
 - Entendi. Bem, o que exatamente você quer? - Ela disse, andando mais rápido. Engoli em seco, tentando desviar dos outros alunos, que desciam as escadas ansiosamente.
 - Como sabe que quero alguma coisa? - Perguntei, desconfiada. Ela deixou escapar um sorriso zombeteiro, e parou de andar, na entrada.
 - Eu sei bastante coisa. Embora não posso contar. Agora desembucha. O que você quer? - Ela disse, fechando a cara e se apoiando na parede. Sorri, sem saber o que dizer. Relutante, contei tudo o que aconteceu no banheiro. E depois, contei do Logan. Automaticamente contando sobre Alyce e Jack. E sobre meus pais. Quando eu vi, tinha contado tudo da minha vida para ela, que ouvia atentamente, mas com o olhar distraído pela rua já escura. Quando terminei de contar, já não tinha mais ninguém com agente. Apenas nós duas. Ela permaneceu em silêncio por um tempo, depois disse:
 - Você não faz idéia de como essa história da sono. - Eu a encarei por alguns segundos, e depois disse:  
 - Hã... e o que você achou? Também acha estranho? - Agatha me olhou com os olhos negros. Era praticamente impossivel ver suas pupilas. Ela sorriu misteriosamente.
 - Sim, claro que é estranho. E só de ouvir essa história, já sei como ela termina. - Ela disse isso, e se desencostou da parede, se virando e indo embora. Ergui uma sobrancelha, e fiquei vendo ela desaparecer na neblina da noite.
 Engoli em seco. Eu não sabia que horas eram. Apenas sabia que ficou muito tarde, e já estava escuro. Contrai os lábios, e comecei a andar. Senti o medo me invadir, quando percebi que Alyce e Jack poderiam estar em qualquer lugar, escondidos, apenas esperando uma chance de poder me pegar.
 E não é que eu estava certa, afinal?
 Em um segundo, quando atravessei a rua, para a direção da casa de Lolla, ouvi um latido. Gelei. O latido parecia tanto com o do Fluffly...  
 Parei, como uma idiota. Me virei, tentando ver algum cachorro. Mas não tinha nenhuma alma viva ali. Pelo menos não que eu soubesse.
 Minha respiração começou a ficar acelerada. Me voltei para a frente, e gritei. Jack estava no meu caminho. Aos pés dele, havia um cachorro. Fluffly. Ele me olhava tristemente. Choramingou, e eu arregalei os olhos, dizendo:
 - Fluffly! - Jack me segurou, me impedindo de tocar nele.
 - Ele está morto, tonta! - Eu ouvi ele dizer, violentamente. Abafei um grito, e me debati nos braços dele, gritando:
 - Me solta! ME SOLTA! - Eu tentava me desvencilhar. Chutei sua perna, fazendo ele recuar um pouco, mas não completamente.
 - Menina tola. Já estava na hora de dar um ponto final nisso. - Ele disse, me segurando com um dos braços, e puxando uma arma da cintura. Ia gritar, mas ele tapou minha boca. Senti meus olhos embaçarem, e o empurrei com mais força. Ele segurou no meu cabelo, e eu o chutei mais uma vez, dessa vez o empurrando com mais força. Ele cambaleou para o lado, me dando chance para tentar correr. Ouvi ele começando a correr atrás de mim, e o som do gatilho. Quanto mais eu tentava correr, mais eu parecia estar mais perto dele.
 Ouvi um tiro. Sem pensar muito, gritei, e corri para qualquer lado, sem enxergar direito para onde eu ia. Realmente, eu não sabia onde Alyce estava, apenas sabia que se ela surgisse na minha frente, e me desse um tiro, já era minha vida.
 Ouvi outro tiro. Dessa vez, tropecei em uma pedra, por pouco não caindo de boca no chão, sendo amparada por alguém a minha frente. Eu não sabia quem era, apenas ouvi uma voz masculina: 
 - Hã? Sa... Samantha? - Eu não quis parar para ver quem era. Agarrei a alça da minha bolsa, que escorregava do meu ombro, e continuei a correr. A pessoa que eu trombei, começou a correr também, com o barulho de outro tiro. Cheguei a amaldiçoar a prefeitura, por a rua não ter iluminação.
 Dobrando a calçada, consegui ver a casa de Lolla. Um pouco mais determinada a viver, corri mais rápido, sendo alcançada logo depois pelo garoto que trombei. Pela meia luz, reconheci os olhos cinzas, e vi, com alívio, que era Luke.
 Rapidamente, cheguei a frente da casa de Lolla, e praticamente pulei o pequeno portão, rezando para que Jack não fizesse o mesmo. 
 Como uma última olhada, vi que Jack já não estava mais na rua.

Tem alguém aí? - Volume 1 Onde histórias criam vida. Descubra agora