Convites para festas

35K 2.5K 243
                                    

Apoiei minhas mãos nos joelhos, tentando respirar. Finalmente na entrada da escola, consegui ver Agatha que estava na entrada principal da escola. Ela me olhava como se soubesse exatamente o que tinha acabado de acontecer.
O capuz preto, daquela vez não estava de fome. Ela me encarava, sem desgrudar os olhos de mim.
Me reergui, e olhei para trás, com relutância. Me voltei para Agatha, que continuava a me encarar. Suspirei, tentando fingir que eu estava calma.
Subi as escadas, e me aproximei dela, que me seguia com o olhar, com cara de tédio.
- Oi. - Eu disse, olhando para ela. Ela desviou o olhar para o nada. Como sempre fazia quando ia me dar uma resposta grossa.
- Pode parar de fingir que está bem. Isso é estranho. - Ela sussurou. Eu coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha.
- Mas está tudo bem. - Eu sorri, forçadamente. Ela se voltou para mim.
- Você não sabe nada sobre mim não é? Não sabe do que eu sou capaz de sentir. - Ela sorriu maldosamente. Eu balancei os ombros, e respondi:
- Eu realmente não te conheço tão bem assim. - Eu sorri. Agatha umedeceu os lábios, e pegou minha mão. Quando ela me tocou, senti um choque nas pontas dos dedos, e ela fechou os olhos, agora fechando minhas mãos. Eu não sabia o que ela estava fazendo.
A única coisa que me lembro, é que minha visão apagou. Tudo ficou fora de foco. Eu ouvia vozes e risadas animadas, barulho de crianças brincando. E então eu consegui enchergar uma criancinha no chão. Ela era a única que não sorria. Tudo estava confuso para mim naquela hora.
A criança estava vestida de palhaço. Mas em vez de esbanjar um sorriso alegre, estava desenhando com uma cor prateada, uma lágrima em seu rosto.
Quando a criança olhou para mim, senti como se meu coração fosse ser esmagado por um caminhão.
O palhacinho mudou a expressão. Sua expressão era de puro ódio. Ele segurava nas mãos, uma caixinha de música, que rodava um anjinho em cima. A caixinha era azul. E sua base preta. Ele segurava essa caixinha, como se fosse a última coisa que teria na vida.
Então algo atravessou a cena, levando a imagem triste do palhaço embora. Em seu lugar, estava a sombra de um rapaz.
Meu estômago revirou quando reconheci Logan.
Senti como se o chão tivesse sumido dos meus pés, e me vi caindo para trás.
Quando eu abri os olhos, um montinho de alunos me olhavam de cima, com expressão confusa no olhar.
Tentei sentar, mas minha cabeça parecia jumbo. Eu estava sentindo uma dor aguda e perturbante no alto da nuca. A tontura ainda continuava.
Agatha ficou na minha visão, me olhando com a mesma cara de tédio. Alguns alunos se afastaram, e um garoto me ofereceu ajuda.
Arregalei os olhos, ao lembrar que foi o mesmo que me salvou do Logan. Eu peguei a mão que ele oferecia em ajuda, e levantei com certa dificuldade.
- Você está bem? - Ele me olhou. Era impossível não se incomodar com o pertubante olho azul que ele exibia. Afirmei apenas com a cabeça, e olhei para Agatha, que franzia as sobrancelhas para o garoto.
Ele me estendeu a mão, e disse:
- Meu nome é Douglas. Prazer. - Ele sorriu. Tentei devolver o comprimento, ainda tonta.  Douglas sorriu, e disse, olhando para dentro da escola:
- Eu vou entrar. Se não me atraso. Tchau. - Eu observei ele se afastar, e me virei para Agatha.
- O que você fez?! - Eu perguntei assustada. Ela me olhou, e deu de ombros.
- Apenas te mostrei o oficio de todos os seus problemas. - Ela respondeu, olhando para o chão.
- Um palhaço? - Perguntei. Ela abriu um sorriso e disse:
- Você sabe que é bem mais que isso. - Eu franzi a testa.
- Você me deixou tonta.
- Mais do que já é? - Agatha respondeu. Revirei os olhos.
- Como você fez isso afinal? - Perguntei. Ela examinou as mãos, e um pedaço da sua blusa fina voou um pouco, com o ar frio.
- Eu te disse. Você não sabe nada sobre mim. Eu sei tudo sobre você. Sobre todo mundo. - Ela disse, olhando para os lados e abaixando a voz.
- Mas o que aconteceu comigo? Eu vi coisas que nunca vi antes quando você pegou em minha mão. - Balbuciei.
- Eu apenas peguei em sua mão, mentalisando tudo que você tinha que saber. Você viu. Agora decifre. - Ela sentenciou, se afastando.
Olhei para os lados. Eu simplesmente não estava preparada psicologicamente para ficar na escola. Dei uns passos para trás, mas esbarrei em alguém.
Me virei, lentamente, e vi a diretora da escola, me olhando com um simpático sorriso.
- Sam! Onde vai? - Ela perguntou, com uma voz amigável. Sorri, desconfortável, e vi Logan passar por nós, me encarando com uma expressão de puro ódio e repugnância. Engoli em seco, pensando em como eu poderia ter beijado aquele verme.
A diretora me examinou uma última vez, e sorriu de novo, se distanciando. Suspirei, e me virei. Logan estava agora encostado na parede, já dentro da escola, cercado de garotas patricinhas. Mas ele não prestava atenção em nenhuma delas. Ele me fuzilava com o olhar. Forcei uma cara de tédio. Passei por ele, sentindo seu olhar queimar minha pele.
Subi as escadas como se não estivesse ligando para a vida.
Lá em cima, esbarrei em uma garota.
Para melhorar meu dia. Caroline. Com os cabelos loiros longos, os olhos expressivamente verdes.
Ela me encarou, depois fingiu que limpava o ombro, onde eu tinha esbarrado. Revirei os olhos e tentei me afastar, mas ouvi:
- Antes que eu me esqueça... Olhe por onde anda. - Caroline disse, com voz superior. Juntei as sobrancelhas, e me virei lentamente, tentando ignorar o fato de que Logan estava ali na minha frente, me encarando zombeteiro.
- Me desculpe. Não esbarrei por querer. - Eu disse. Ela soltou um risinho. Vi que ela guardava um pacotinho nas mãos, que parecia estar de papel.
- Você não queria. Mas esbarrou, querida. - Ela respondeu, ironicamente. Soltei o ar, fazendo uma careta, e me virando, agitando as mãos.
- Há, vai, vai. - Eu disse, me distanciando. Ela riu alto.
- Até que eu admiro essa sua habilidade para fingir que nada está mal. - Ouvi ela dizer. Abri a boca, olhando de relance para Logan, que tinha o braço no ombro de uma garota, que nunca vi na vida.
- Como assim...? - Perguntei, desviando o olhar. Ela apareceu na minha frente, arrumando a franja.
- Olha isso aqui. São os convites para a festa de aniversário do Logan. Atrasado, claro. Mas você. Não foi convidada! - Ela disse, pausadamente, esfregando o pacotinho cheio de papéis.
Sorri, cinicamente, e respondi:
- Que ótimo que vocês voltaram. Mas eu ficaria mais de olho nele sabia. Porque enquanto ele finge na sua frente que "te ama", ele tenta comer os outros pela suas costas. - Eu desejei, passando do lado dela rapidamente, batendo em seu ombro propositalmente.
De uma coisa eu sabia.
De alguma forma, eu consigo gostar do Logan.
E mesmo que eu não deixasse transparecer, aquilo tudo me assustava, e principalmente me magoava.






Tem alguém aí? - Volume 1 Where stories live. Discover now