Bons sonhos

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Eu estava atônita com a história de Kate. E pensar que eu também poderia ter passado por isso. Se alguém não tivesse mandado me adotar. Esse alguém alguém salvou a minha vida ao mandar me adotar. Mas também me entregou nas mãos de outro problema.
Vi uma das cachorras de Lolla descer da escada. Ela veio com o rabinho balançando, em mimha direção. Sorri, e cocei sua orelha. Kate me olhava, em silêncio. Talvez relembrando a hora em que se matou. Eu não pensava que Kate seria capaz daquilo. Mas também não pensava que o Logan podia virar aquilo, de uma hora para a outra.
Lolla as escadas. Ela estava abatida, e pálida. Me olhou, e disse:
- Minha família vai voltar amanhã. Com uma prima. - Eu afirmei, com a cabeça.
- Já avisei para eles que você está aqui. Minha mãe implicou um pouco, mas depois que disse tudo que aconteceu com você, ela cedeu. - Ela continuou, sentado na escada, e encostando na parede, de frente pra mim.
Suspirei.
- O Logan mudou de uma hora pra outra. - Eu balbuciei. Lolla me olhou nos olhos, e disse:
- Eu falei com ele.
- O que ele disse?!
- Eu falei com ele, e...ele fingiu que não me conhecia. Ficou me olhando, com cara de tapado, e a menina que estava do lado dele disse para eu deixar ele em paz. - Ela respondeu, pausadamente.
Revirei os olhos, e disse:
- Ótimo. Ele não conhece agente. Eu também não queria conhecer alguém como ele.
- Será que ele acha que foi nossa culpa que ele levou aquele tiro? E resolveu virar outra pessoa? - Lolla disse.
Dei de ombros.
- Vamos combinar... O Logan só não chamava atenção antes porque não queria. Agora, praticamente todas as meninas estão atrás dele. - Lolla disse, olhando para o chão.
- Olha Lolla...O.k né? Vamos dormir. É melhor. - Eu disse, quase irritada. Ela me encarou por um tempo, e disse:
- É. Boa noite. - Ela levantou, e subiu, o cachorro indo atrás.
Soltei o ar, e olhei para Kate, que esteve invisível para Lolla durante a conversa.
- "Olha, eu preciso te contar uma coisa". - Kate disse. Esfreguei as mãos nos olhos, e disse:
- Qualquer coisa pode acontecer, que é impossível ficar pior do que já está. - Ela sorriu, e começou:
- "Eu te apresentei a Taylor. Mas...ela não era o que eu pensava que era". - Eu parei, e olhei para o teto.
- Como assim?
- Taylor se fingia de anjo pra mim. Era é . Ela tentou me mandar para o inferno. Por isso vim atrás de você. Com você eu me sinto segura". - Ela disse. Olhei pra ela.
- Então ela é do mal, mesmo!? Mas...Jane me disse que não. Alyce estava mentindo. Quem era do mal era Alyce, e não Taylor. - Argumentei. Kate balançou a cabeça.
- "Jane não sabe de muita coisa. Taylor realmente foi morta por Alyce, mas ela ficou presa na escola, como as crianças. E virou . Nunca confie nela. Se um dia eu não estiver perto, e ela aparecer, não atenção à ela, e corra. Ela é o segundo pior demônio que tem naquela escola". - Ela despejou, relutante. Agora eu estava ferrada de vez.
- E qual é o primeiro... Demônio da escola? - Perguntei, mesmo não querendo saber. Ela me olhou, soturna, e disse:
- "Você deve saber...o pior demônio que existe ali, é o Pianista". - Engoli em seco, e voltei a olhar para o teto.
- Boa noite Kate. Vou dormir. - Eu balbuciei. Ela afirmou, e se deu um tchau com a mão, sumindo lentamente.
- "Bons sonhos". - Ela disse. Sorri fracamente.
Fechei os olhos.
****
Acontece que eu não sonhei aquela noite.
Tive um pesadelo.
Começou com a pessoa que passei a odiar.
Ele sorria, e me olhava, cinicamente. Logan.
- Sam. Eu nunca gostei de você, fiquei com vontade de vomitar quando você me beijou. - Eu do sonho cruzou os braços, e parecia se segurar para não chorar.
- Você não é mais o mesmo. - Eu disse. Ele riu, e as outras meninas que estavam do lado dele também.
- Eu sempre fui esse cara que você está vendo. - Ele ergeu as mãos. As meninas sorriram, e abraçaram ele.
Então o ambiente ficou frio. E preto. Um raio caiu, e percebi que estávamos na frente da escola. Olhei de relance para Logan, e vi uma forma refletir esqueléticamente em volta dele.
Um outro raio rasgou o céu, e as meninas pararam de sorrir. Logan me olhava fixamente, sério.
O cenário mudou. Eu estava em uma sala escura. Ouvi passos, e sussurros. Depois, algo como alguém puxando uma cadeira. E logo em seguida, uma música. Uma música sendo tocada por um piano.
Era uma música macabra. Lembrava a morte. Lembrava um dia triste.
Então eu consegui ver em um clarão. Um piano, bem na minha frente. Destruído em alguns pontos. Sentado em um banco, estava um garotinho. Mas era um garoto diferente. Pálido. Sua boca estava estourada, um olho costurado. E mesmo assim, olhava pra mim, sorrindo friamente, enquanto tocava o piano.
Queria gritar, mas minha boca parecia presa, eu não conseguia fazer nada.
Com um baque forte, a cena de uma garota amarrada nos pulsos apareceu. Ela chorava, e a corda passava pela boca dela, de modo que ela só conseguia emitir grunhidos sofridos. Ela se debatia, e estava descabelada.
A menina era muito familiar pra mim. Eu não conseguia distinguir quem era. Mas então ela olhou pra mim. Seu semblante mudou de assustada para pavor. Eu reconheci. Taylor.
Lembrei do aviso de Kate, e arregalei os olhos.
Fui me afastando, me arrastando pra trás, até que eu consegui gritar. Taylor grunhiu, e começou a ser arrastar pra cima de mim. Abri a boca, e tentei gritar de novo, mas era impossível. Tentei me mover rápido, mas o tempo parecia parado. Taylor se aproximava mais ainda, e percebi que seu vestido estava cheio de sangue.
Então tudo apagou. Tudo ficou como um papel preto na minha mente. Esse papel começou a desbotar, desenhando um cemitério, na minha frente.
Eu vi, sete adolescentes.
Caminhavam lado a lado, rindo, e fazendo brincadeiras.
Um deles carregava um copo.
Continuaram caminhando, até chegarem em um certo ponto do cemitério.
Sentaram em roda, e colocaram o copo no meio, desenhando alguma coisa na terra.
Eles brincavam, e colocavam a mão no copo. A imagem me mostrou uma pessoa do lado de um dos adolescentes.
Alguém muito parecido com Alyce. Os mesmos cabelos loiros. Um pouco maiores. Mas não podia ser ela. Ela estaria velha.
Os adolescentes brincavam despreocupadamente.
Mas em dado momento, o copo rachou. Sozinho. Sem ninguém ter tocado nele.
A garota que parecia Alyce gritou. Ela não era tão nova assim. Parecia ter uns vinte e dois anos.
Quando ela gritou, a imagem apagou. Voltei a ouvir a música macabra do piano. Então ouvi uma pequena risada.
"Bons sonhos Sam!". - Eu ouvi, como um sussurro.
E a música acabou.













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