Go to sleepy

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 Arregalei os olhos, e prendi a respiração. Levei a mão a boca. Me virei, lentamente, tentando fazer o menor barulho possível. Não adiantava muito. A sola da minha bota, ecoava um som seco e alto, toda a vez que eu pisava no chão.

Tentei ver alguma coisa. A única luz que tinha ali, entrava pela pequena fresta da porta. Não dava para ver muita coisa. E mesmo se desse, eu não queria ver o que tinha ali.

 Tirei a mão da boca, tensa. Eu não ouvia nada vindo de fora. Ouvia lá dentro. O que me causava pânico. Bem, não adiantaria ficar ali, tentando não fazer barulho. O que quer que estivesse ali, já teria me visto. Gelei quando ouvi mais um som de roda arrastar pelo chão. Com a palma da mão, forcei de novo a maçaneta. Realmente, estava trancada. Senti minha garganta fechar aos poucos, e uma sensação de pânico me invadir. 
 - ...Oi? É... estou presa aqui. - Eu disse, tentando pensar que aquele deficiente não era mau afinal. Kate não disse nada sobre ele.
 - Eu sei. - Eu ouvi. Senti meu rosto queimar. Não esperava resposta. A voz era gélida e fria. Ecoava na minha cabeça, se arrastando. A resposta foi tão alta, que pensei que meus tímpanos iriam estourar.
 - V-você sabe quem me prendeu aqui? - Perguntei, relutante. A resposta não veio de imediato. Consegui ouvir um sussurro abafado. Como se ele fizesse certo esforço para falar.
 - A mesma pessoa que me prendeu aqui. - Eu ouvi de novo. Dessa vez, a resposta foi mais agressiva, e automaticamente mais alta. Apertei os olhos, com o volume da voz.
 - E quem te prendeu aqui? - Perguntei, agora mais confiante, dando alguns passos para frente, mais parando logo em seguida. O banheiro ficou frio. Quer dizer...mais frio do que costumava ser.
 Ouvi um som abafado, mais parecido com um choro. Um choro de uma criancinha. Um garotinho.
 Então começou a ecoar um som de caixinha de música. Suave. Ao mesmo tempo, triste. Lembrava uma criança brincando, mas logo em seguida, uma criança triste. Era lenta, e chegava a dar sono.
 A música se misturou com o choro. Eu não via muita coisa, mas em um segundo, no único feche de luz que eu podia ter, eu vi, o vulto de uma cadeira de rodas, manchada de sangue. A roda, um pouco enferrujada. Não consegui ver com clareza, o garotinho. Tudo que eu consegui ver, é que ele estava de pijama.
 Com um frio na espinha, prestei atenção na leve música que soava nos meus ouvidos. Era uma uma canção de ninar. E o garotinho estava de pijama.
 - Você só atrapalha! GH... Você nunca vai conseguir desmascarar eles!!! NUNCA!!! - Eu ouvi. A voz estridente do garotinho torturava meus ouvidos. Fechei os olhos, e a cada palavra dele, eu sentia minhas pernas fracas. Até que eu cai de joelhos. Sua última palavra, quase fez eu perder meus sentidos. Levei as mãos aos ouvidos. Agora até o som da caixinha de música parecia querer me torturar.
 Me encolhi no chão frio, tampando meus ouvidos fortemente. Eu não entendia o que ele estava falando. Desmascarar eles? Eles quem?! 
 - Ninguém nunca conseguiu! Eu nunca vou poder sair daqui! E daqui a pouco, você também vai ser uma de nós! - A voz dele berrou nos meus ouvidos. Senti que eu fosse desmaiar.
 - E-eu... Não entendo o que você está dizendo. - Eu sussurrei, fracamente. Ouvi ele rosnar, e depois tudo parar. A música cessou. A voz irada do garotinho também.
 Abri os olhos lentamente. Tentei ver alguma coisa. Não tinha mais nada no feixe de luz. Apoiei as mãos no chão frio. Levantei. As pernas tremendo. A respiração falhando. Eu não queria passar mais nem um segundo sequer ali. Ele estava irritado. E ficava repetindo aquilo. Mas eu não fazia idéia do que era.
 Rapidamente, agarrei a alça da minha bolsa, corri para a porta, batendo incansavelmente nela. Comecei a berrar. O banheiro ficava afastado das salas, mas próximo da diretoria. Com sorte, alguém ouviria.
 Com sorte...
 Chutei a porta. Meus pulsos já estavam doendo. Era a segunda vez que eu ficava presa em um lugar. Só que agora eu estava com um fantasma, irritado.
 comecei a socar a porta. E quase quis morrer quando ouvi a cadeira de rodas novamente.
 Gritei alto, e ia bater de novo, se a porta não tivesse sido aberta. Arregalei os olhos, ao encontrar o único professor que falava português. Ele me olhou confuso, e me examinou. Meus pulsos estavam vermelhos, e meu dedo indicador sangrava.
  - Samantha? Mas o que está fazendo aqui? E ainda mais gritando desse jeito? E porque estava trancada ai? - Ele foi perguntando. Olhei por cima do meu ombro, e sai, quase que imediatamente, para fora do banheiro.        
 - D-desculpe professor, depois eu digo. - Eu disse, com pressa. Ele umedeceu os lábios, e disse:  
 - Não senhora. Vamos para a diretoria. Então está matando aula no banheiro? - Eu arregalei os olhos, e disse:
 - Não! Professor, não é isso. É que alguém me trancou ai dentro, eu não vi! Por favor, não me leva para a diretoria. - Eu disse, gesticulando, e querendo sair o mais rápido de perto do banheiro. O professor pareceu pensar um pouco, depois olhou para os lados, e disse:
 - Muito bem. Mas da próxima vez, você irá para a diretoria. - Eu suspirei, aliviada. Olhei para o banheiro uma última vez, e me virei, dizendo rapidamente:   
 - Obrigada professor.
 Eu corri assim que sumi de vista. Prometendo a mim mesma que nunca mais ia voltar a entrar naquele banheiro. E evitar ao máximo ficar sozinha em uma sala vazia, com a porta fechada.

 

Tem alguém aí? - Volume 1 Onde histórias criam vida. Descubra agora