O que não é revelado...

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O sinal tocou. Em geral, minha aula estava agora cheia de visões de palhaços.
Eu passava a aula inteira me mexendo, olhando para os lados que nem uma estranha. Agatha parecia de divertir com a minha situação. Eu pensava em tudo, menos na aula. Cheguei a pensar até que a própria Agatha era quem estava causando tudo aquilo.
Mas a imagem do palhacinho voltou na minha mente. E eu percebi que não.
Eu ainda não conseguia captar as coisas que a Agatha dizia existir. Ela parecia muito segura da opinião que levava.
Dei uma última olhada em Logan, que me devolveu o olhar, sombrio... Diferente.
Lembrei da sua mão passando pelo meu pescoço. Levei a mão até ele, como se tivesse acabado de acontecer. Engoli em seco, e levantei, arrastando minha bolsa pela ponta dos dedos. Eu estava vidrada. Quase não enchergava aonde eu ia. Era quase no automático. Só faltava eu bater de cara com a parede.
Agatha passou por mim, me tirando dos pensamentos malucos. Ela me olhou, revirou os olhos, e disse:
- Você não vai chegar a lugar nenhuma assim. - Eu a olhei, intrigada.
- Eu vivo sem entender o que você diz. Agora não foi diferente. - Respondi, puxando a bolsa para o ombro. Ela sorriu, debochada.
- Você precisa saber de tudo que está acontecendo. Muitas coisas estão próximas a acontecer. Nenhuma delas é agradável. - Ela disse, desviando o olhar para as paredes da escola.
- Mas eu simplesmente não sei o que está acontecendo. - Balbuciei.
- É exatamente isso.
- Oque?
- Vou te mostrar. - Agatha disse. Ela parecia contrariada em me ajudar, mas eu não ia recusar. Não agora.
A segui, saindo da escola. Em véz de pegar caminho para minha casa, me voltei para o outro lado, indo atrás de Agatha. Algo me dizia que eu tinha que ir junto com ela. E eu não ligava se isso me dava medo ou confiança.
****
¶Arya¶
Larguei o copo em cima da mesa, indo para a sala. Lolla estava sentada do lado de Luke, que resolveu sair mais cedo da escola apenas por causa dela.
Lolla se desvencilhou do abraço de Luke, e se encostou no sofá, desconfortável. Tudo estava em silêncio. Constrangedor. Ela se levantou, involuntariamente. Contraiu os lábios, e disse:
- Eu vou sair. - Luke ergueu os olhos, e franziu a testa.
- Como assim? Você quase acabou de ser... - Lolla ergueu a mão, não deixando ele acabar. Ela estranha. Quase como paranóica. Eu que não a culpava. Eu ficaria pior se quase fosse violentada pelo meu único melhor amigo. Ela suspirou, e depois deu meia volta.
- Onde... Onde você vai? - Luke perguntou. Ela parou um pouco. Depois respondeu:
- Preciso sair. Pensar. - E então sumiu da vista da porta.
Olhei para Luke, que pareceu envergonhado, e abaixou o olhar para o chão. Engoli em seco, e sentei do lado dele. Ficamos em silêncio por alguns segundos. Só depois que a cachorra da Lolla lambeu minha mão, e eu soltei um riso, Luke disse:
- Coitada da Lolla.
- É, coitada mesmo. Mas... Duvido que ela não tenha gostado. - Eu disse, escondendo um sorriso. Ele se virou para mim com uma cara intrigada, e eu comecei a gargalhar.
- Bobão. Estou brincando, é claro. - Ei disse, entre risos. Ele olhou para o teto, tentando esconder um sorriso no canto da boca.
- Não estranhe. Eu costumo ser meio maluca mesmo. - Balbuciei. Ele se voltou pra mim, e disse:
- Tudo bem. Prazer. Meu nome é Luke. Não tivemos tanto tempo para conversar afinal. - Eu sorri, sentindo meu rosto queimar.
- É... Meu nome é Arya.
- Pude perceber. - Ele disse, com uma voz mimada.
Talvez pudéssemos ser grandes amigos...
Ou não.
****
¶Júnior¶
Encarei minhas mãos ensanguentadas. Subi o olhar pela minha blusa um pouco rasgada na manga. Alguns respingos de sangue serpentiavam nela.
Trinquei os dentes.
"Eles te odeiam..." - A voz serpentiou na minha cabeça.
"E agora você não passa de um bebê chorão." - Eu ouvi. Apertei os olhos. Ali estava tão escuro...
"Você não consegue. Está condenado o bastante na sua vida. E tudo o que você faz agora é remoer seu passado". - Ele sussurrou friamente. Levantei do chão, andando pela sala. Se eu pudesse sair dali... Se eu pudesse falar com ela...
Não importa. Eu já estava sem vida a muito tempo. Aprisionado a muito tempo. Abandonado a muito tempo...
Cerrei os punhos, dando um soco no teclado do piano, que fez um barulho sonoro.
Ele riu. Eu não podia fazer nada além de lembrar daquele terror... Daquela falta de ar.
Nos últimos segundos que eu pude viver.
O ódio voltou a minha mente.
Ela sabia que eu não ia deixar assim. Por isso me aprisionou ali.
Eu já esperei por muito tempo.
Não me importarei de esperar mais um pouco.
Tamborilei os dedos em cima do teclado, arrancando algumas notas de música.
"Eu sei o que você fez e o que você irá fazer. Agora quero que você saiba o que eu vou fazer. E não vai ser nada agradável para você. Isso eu garanto. Não irei ficar preso aqui para sempre. E quando eu sair, você aguarde sua morte. Ela está marcada com letras do meu próprio sangue.
Pianista".
Eu escrevi, jogando o papel sujo para o chão escuro, ouvindo ele pegar com uma gargalhada.
****
¶Logan¶
Finquei o pé no chão.
"Você se livre quando estou distante, não é? Mas você não está, imbecil". - Ele sussurou com a voz arrastada.
Levei o copo de vodka a boca, mesmo contra minha vontade. Era impossível me segurar.
Eu suava frio. Não. Eu não estava livre. Eu ainda tinha feito aquilo.
"Vamos. Você sabe porque eu estou aqui". - Eu ouvi ele dizer, com a voz gélida.
Eu engoli a vodka por vontade dele.
- P-para matar a Sam. - Eu respondi, forçadamente.
Tentando controlar eu mesmo, levei a mão a cabeça, tonto.
- E-eu não quero. Não posso... - Eu balbuciei, dessa vez com dificuldade.
Minha mão abaixou rapidamente, e a outra tacou o copo de vodka longe.
- "Eu vou acabar com você seu idiota. Você não tem como lutar contra mim. Lembresse disso. Você faz oque eu mandar. Não consegue lutar." - Sua voz gritou estridente. Fechei os olhos.
Eu precisava da única pessoa que eu não podia ver.
Que eu não conseguia ver.













Tem alguém aí? - Volume 1 Where stories live. Discover now