Visões ou futuro?

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Lolla

 Parei, atônita. Logan, no canto da festa, rodeado de pessoas, olhava, igualmente intrigado, mas não parecia surpreso.

 Me virei para Doug, e ia falar para irmos embora, quando alguém na festa berrou:

 - Tem um assassino na festa!!! - Senti meu estômago dar voltas, e me atrapalhar com as pessoas que se agitavam e corriam de um lado para o outro, tentando achar a saída. O dono da festa permanecia parado... Como... Como se esperasse por aquilo.

 Deixei Doug me levar pela mão, até a saída. Passei por Logan, que não fez nada para se despedir. Franzi a testa, vendo o rapaz que puxava minha mão, abrir a porta, e me empurrar para fora, como se algo ruim fosse acontecer se continuássemos lá dentro.

 O ar frio da noite, já se decaia. Era quase uma hora da manhã agora.

 A rua amontoadas de carros estacionados, agora ganhavam pessoas assustadas e desesperadas para irem embora, ligando o carro ou correndo a pé mesmo, de tão bêbadas que algumas se encontravam.

 Em poucos minutos, a rua estava vazia. Apenas sobrava a música baixa e agitada que vinha de dentro da festa, e algumas outras pessoas que posavam de corajosas e queriam continuar a festa, deixando o corpo da garota lá dentro.

 Douglas soltou o ar e se voltou para mim.

 - Vamos embora... Hoje aconteceu muita coisa para um dia só. - Estranhei seu tom, quase como culpa. Dei de ombros, e afirmei com a cabeça.

 - Sim... Tem razão. Está tarde tamb... - Parei de falar. Algo no canto do meu olho me chamou atenção. Me virei para o lugar afastado da calçada, e vi uma... Uma coisa... Encurvada....

 Abri a boca, intrigada, e me voltei para Doug, que olhou para onde eu olhava.

 O rapaz franziu a sobrancelha, e se virou completamente para lá. Aquilo que eu via, não parecia um ser humano... Parecia um bicho ferido... Vomitando. Não sei ao certo.

 Douglas começou a se aproximar. Tentei segura-lo, mas o mesmo se desvencilhou de mim, indo em direção a coisa.

 Mesmo que por impulso, fui atrás dele. Quanto mais eu chegava perto, mais eu distinguia uma imagem familiar.

 Arregalei os olhos quando percebi que era uma garota, aquela forma.

 O rapaz um pouco a frente, parou, confuso. Eu, continuei avançando. Mesmo sem querer, eu já sabia de quem se tratava.

 Com os cabelos por cima, caindo dos lados, as costas encurvadas e os joelhos cravados no chão.

 Agatha.

 Com as mãos para trás, vomitava. Vomitava sangue.

 ¨Samantha¨

 Prendi a respiração. O fantasma a minha frente, me observava com a cabeça tombada para o lado, em uma pose macabra. Suas pernas longas e finas, deixava tudo mais macabro ainda, chocando-se perfeitamente com o vermelho insano nos olhos dele. Tudo bem que Agatha disse que ele tinha a aparência assustadora, mas que não nutria medo por ele, talvez por o conhecer a mais tempo.

 Mas... Era impossível não tremer e não desejar morrer com a presença dele. Sim. Sua presença era tão perturbante, sua energia e sua aura eram tão suicidas, que fazia fervilhar de pensamentos de suicídio em sua mente, fazendo sentir o desejo de se jogar de uma escada, ou de uma janela.

 Engoli em seco, tateando o ar.

 - Não acha maravilhoso isso? Está com vontade de se matar, pequena Sam? Então porque não se joga da escada? Me poupe trabalho - Lee sorriu, arrastando um machado com pé.

 - Não existe idade para brincar de morrer. Vamos, acabe logo com isso - O fantasma continuou, se abaixando lentamente e pegando o machado do chão, banhado de sangue. Encarei o objeto que ele me oferecia agora.

 - Basta uma apunhalada, Sam. E seus sofrimentos acabam. Você encontra seus pais, e fica feliz com eles. Será livre. Será feliz. - Lee continuou, tocando minha mão, e a puxando, colocando o machado nela.

 Senti meus olhos marejarem. Porque não? Ficar com meus pais, acabar logo com tudo isso... Ser o que eu sempre quis ser. Uma pessoa normal.

 Mas então, como um choque, pulei, largando o machado, que caiu com estrondo no chão de madeira.

 Como poderia eu, ser normal e feliz, morta? Será que meus pais ficariam felizes com isso? Será que eu realmente os encontraria? Quem garante que eu não fique presa junto ao Lee?

 Mas por outro lado, escaparia de um sofrimento maior... Logan...

Apertei os olhos, abraçando minha cabeça com as mãos e a balançando. Não, eu não iria fazer aquilo. Eu tentava resistir, e ele colocava novamente a ideia de me matar em minha cabeça.

 - Eu não vou me matar! Pessoas precisam de mim, aqui! - Berrei, gaguejando, dando um passo para trás, esbarrando em Luke, que assustado, permanecia em silêncio, parado. Lee fez cara de desentendido, e deu um passo a frente, ficando cara a cara com Sam.

 - Agora entendi porque o otário do Logan, insiste em desejar te matar e ao mesmo tempo te amar. - Ele disse, rosnando. A cada olhar dele, mais eu me sentia atraída pela morte. Parecia que o mesmo colocava imagens de terror, imagens de sangue e medo em minha mente. Me fazendo pensar bem como seria se eu estivesse morta. Seria bom? Seria ruim?

 Senti minha garganta se fechando assim que ele sussurrou em meu ouvido:

 - Porque não tira essa dúvida, Sam? Será rápido. Você não vai sentir nada. - Sua voz áspera me contornava, praticamente fazendo meus sentidos se apagarem. Eu nunca pensei que um fantasma me faria ficar com tanto medo...

 Me contorci no nada, e apenas lembro de uma dor aguda, como se algo ultrapassasse minha cabeça, fazendo a mesma se abrir.

 Então me senti caindo. E caindo. E gritando.

 E tudo apagou.

 Era de noite. Eu parecia estar tendo uma visão.

 A luz da lua, iluminava o caminho de pedregulhos a minha frente. As árvores contorcidas, eu ouvia barulhos de grilos e outros bichos, que pareciam me rodear. Me encontrava no meio de uma floresta. Estava vestida com um vestido branco, rasgado e sujo. De sangue. Minhas mãos tinham sangue.

 Meu coração começou a acelerar aos poucos. E minhas mãos começaram a tremer, junto com minhas pernas.

 Por algum motivo, eu da visão, começou a correr desabaladamente, para algum lugar. Eu estava descalça, o que dificultava minha corrida, por causa das pedras pontudas. O vento parecia perfurar minha pele. Me dei conta de que eu estava chorando. Algo horrível tinha acontecido.

 Eu corria, corria, ignorando a dor das pedras em meus pés. Quanto mais eu corria, mais parecia chegar a lugar algum.

 Então alcancei uma parte da floresta, que parecia ter um fim. Mais parecia um abismo.

 No último ponto da floresta, eu parei na ponta de um abismo. Não havia mais para onde correr. E agora que eu havia parado, notei que eu mesma fugia de alguma coisa, ou alguém, que estava me perseguindo. E os passos dessa coisa estavam chegando perto. E mais perto. E meu coração agora estava a mil.

 Então uma pessoa surgiu do meio das árvores. Engoli em seco. Era Jack. e do seu lado, Alyce.

 Respirei fundo. Então era ali que tudo acabava. Ali. Voltamos ao ponto de partida. Apenas eu e eles. Novamente. Não tinha mais para onde correr. Era assim que minha vida acabaria, minha vida acabaria do mesmo jeito que começou,

 E não é para morrer, que nós nascemos?

 Sim, nascemos para morrer.

 Isso nunca será diferente.

 Eu, pensando nisso, eu da visão se virou e pulou, diretamente no abismo, que parecia não acabar. Eu só tive a sensação de ter uma faca atravessando minha barriga, e logo depois, de cair violentamente na água funda e fria do abismo.





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