• Ella •

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Contrações... Quanta dor eu sinto agora e só queria sua mão aqui, seu apoio, seu colo. A dor vem e eu não consigo me mover, tentando raciocinar os meus próximos passos, enquanto estou apoiada no sofá e no próximo minuto, a dor enfim da contração passa e eu posso andar. Grito pela casa chamando minha mãe. Ela me ouve, entende o que está acontecendo, e a correria começa em nossa casa. Sua mãe com o tempo sempre perfeito, chega nesse exato momento, já gritando para o motorista. Tudo acontece rápido, mas eu não respiro direito. A contração, a movimentação... Por Deus Antonio, como eu queria a sua mão aqui pra segurar a minha, a sua forte mão pra aguentar meus apertos, seus olhos para me falarem tudo o que só nós iríamos entender.

Mas agora, aqui nesta sala, eu volto a ser um bebê perdido e sem ação. Eu choro e não sei se é pela dor, pela alegria da nossa filha vindo pra nós, ou pela saudade que sinto de você. Mamãe me ampara enquanto vamos pra maternidade e sua mãe já está em contato com o nosso médico, avisando que estamos estamos à caminho, as contrações parecem muito mais fortes do que as do gêmeos, e eu não lembro de sentir tanta dor assim. Mas eu sou forte Amor. Eu serei forte. Nossa filha também é forte. Quer vir ao mundo, explorar este mundo. Por favor, que eu chegue a tempo nesse hospital. Eu não posso ter essa filha em um carro, e não posso ter ela sem você Antonio. Por favor. Volte.

Chegamos e todos já estão ali, me segurando, ajudando, colocando em uma maca, podendo fazer os primeiros exames e pro nosso desespero eu ainda estava com pouca dilatação apenas muita contração. Nossa filha quer vir, está bem a vontade para vir, mas não está tudo pronto. As horas passam e meu corpo demonstra o cansaço. Eu não aguento comer, a água que bebi, eu já coloquei tudo pra fora. A dilatação não aumenta, some te as dores. A felicidade se perdeu em meio a tanta dor, e eu não consigo mais discernir o que dói mais hoje. Essa contração, ou a mera que aconteceu com você, seja o que foi. Meus olhos pesam, minha respiração corta. QUE INFERNO ANTONIO, EU PRECISAVA DE VOCÊ AQUI AGORA!

Meus gritos ecoam pelo hospital, rostos assustados se voltam para mim neste quarto. O desespero toma conta e eu só quero que essa criança nasça eu só quero ela fora de mim, eu não aguento mais. Ouço as vozes do médico, da equipe, e continuo a fazer força, agarrando a lateral da cama, com a raiva que me consome. Eu abafo os gritos mordendo meu lábios inferior e a cada nova contração eu só sei empurrar.  Eu só quero ela longe de mim agora, pois ela me lembra você até na dor, eu sinto ela me rasgar, me ferir, meu corpo tremer, meu peito dói pela força ao respirar. Meus dedos já estão machucados, eu sinto cada parte do meu corpo doer.

NÃO BASTAVA SÓ VOCE ME PONDO A MERCÊ DA DOR ANTONIO, TINHA QUE ME DEIXAR SOZINHA COM UM FILHO QUE ME CAUSASSE AINDA MAIS DOR, POIS ELA CLARAMENTE SABE QUE O PAI NÃO ESTA AQUI!

Outra respiração pausada, outra força, e nasceu. Eu ouço o choro da nossa filha e me provoca um novo enjoo. O mesmo choro que me causa angústia, tristeza... Eu não quero ouvir mais nada dela agora, eu não quero pegar ela no colo, eu não quero amamentar essa criança, eu não quero. Ainda estão me costurando, eu consigo ver os olhares preocupados. Droga, quando essa dor vai passar?

Olho para o lado, e eles estão levando nosso bebê pra longe de mim. Finalmente a vejo, e meus olhos não saem dela. Os olhares são ainda preocupados... Deus, o que será que ouve? Eu fiz algo errado? Eu vou perder você também querida? Está tudo bem? Eu não ouço nada além de burburinhos, enquanto minha mãe se afasta soltando minha mão. Oh não, eu precisava agora de uma mão... A sua... Eu... eu procuro ver entre frechas o bebê mas está difícil, tudo está... Difícil, e sinto a minha visão ficar cada minuto mais escura, quando ouço algo sobre perder muito sangue, o que me faz tremer. Eu perdi muito sangue? O que? Sinto meu corpo esfriar e tudo se apaga. Aos poucos, meu corpo começa a tremer muito. Minha boca está seca, meus pelos estão arrepiados e a dor em meu colo... Isso seria normal? Não lembro disso no primeiro parto. Isso não aconteceu. Eu sei dos riscos, Ana me falou algo sobre durante a gestação. Mas eu não consigo lembrar. Ok, começam a gritar e eu realmente precisava de você agora. Entendo algumas palavras enquanto o quarto gira e vejo a minha mãe voltando. Segure a minha mão, mamãe... Eclampsia, sim... Ana me falou disso.. Mas... Meu corpo trava, enrijece e eu perco os sentidos. Apagão.

Ella Figueiredo Meirelles

16:24 – Horário de Brasília.

Peso: 2,987, 36CM.

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