• ANTONIO •

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Dor. Era tudo o que Antonio sentia. Seu corpo doía, os olhos doíam pela claridade, o zumbido no ouvido doía a cada beep da máquina ao seu lado, monitorando seus batimentos e sinais. Olhou ao redor, se deparando com um quarto de paredes verdes e brancas, com cortinas amareladas, duas poltronas verdes acompanhando o tom da parede e uma porta de madeira aberta. Tentou virar o rosto, mas sentiu o pescoço arder pelo movimento seguido do arrepio na coluna, queijo surpreendeu ao notar o braço arranhado e enfaixado. Beep's mais altos, uma figura esguia apareceu na porta, com um sorriso radiante em seus lábios. A mulher, já com uma certa idade, se aproximou de Antonio apoiando a mão em sua testa e pegando o estetoscópio com a outra mão, encostando a ponta gelada em seu peito.

- Olá! Estávamos esperando você acordar. Foram dias difíceis sabia? Você lutou muito. Deve ter um motivo para ter tanta força. – A mulher olhou novamente Antonio, os olhos perdidos e confusos – Vou fazer o seguinte, como você acordou, vou explicar com calma o que houve, até onde sabemos. Se você concorda, pisca, tudo bem? Não precisa forçar a fala ainda.

Antonio respirou fundo, sentindo a pressão no peito o esmagar com uma sensação que ele já havia sentido, mas não recordava. Piscou, confirmando o sinal pedido pela mulher.

- Ótimo. Bom, do começo. – A mulher puxa uma cadeira que Antonio não havia visto, que estava ao lado da cama se sentando ao seu lado. – Encontramos você perto da praia. Estava com os pés machucados, ferimentos em seus braços, costas, peito é uma batida na cabeça, que lhe deu alguns pontos. Não encontramos documentos, ou algo assim com você. Mas o trouxemos para cá. Cuidamos de você nesses dez dias, e você lutou filho. Lutou muito! – A mulher segurou a mão dele, e Antonio teve sentiu o amargo na boca. A sensação era boa, era forte, mas faltava algo. Um calor, a vibração, ele conhecia a sensação e não era aquela. – Você não teve ferimentos graves, o que parece ser uma benção. Deus cuidou de você! Pelo o que entendemos, caiu um avião nas proximidades da floresta, e só encontramos você até agora, aqui na praia. Não sabemos muito sobre você, mas gostaríamos. Eu vou lhe dar um pouco de água, e você tenta falar, tudo bem? Pisque para mim.

Antonio piscou, com força. Ângela, a enfermeira que cuidou de Antônio por esses dias, pegou o algodão com água que estava tampado ao lado da cama, e aproximou dos lábios de Antônio, molhando sua boca e permitindo que o mesmo começa-se a engolir pequenas gotas. Em poucos minutos, Antonio conseguiu balbuciar algumas palavras, e logo foi ficando mais alto. Quando finalmente sentiu que podia falar, Antonio não sabia o que dizer.

- Tudo bem filho. Vamos a algumas perguntas. Qual o seu nome?

- Antonio, se não estou enganado.

- Ótimo! Eu me chamo Ângela, e estou aqui com você. Se lembra do avião? Do acidente?

- Não. Me lembro de um casamento, do meu irmão eu acho. Não tenho certeza. Onde estou?

- Você está em Bonvien. Somos uma ilha quase independente, com pequenas vilas espalhadas. Nossa vila é de pescadores, não temos muito acesso ao mundo exterior. Mas podemos procurar uma forma de te levar para fora, voltar a sua realidade agora que acordou. O que acha?

A última lembrança de Antônio, era uma briga. Bebeu demais no casamento do irmão, Mario, e não conseguiu conter as palavras ou o soco que deu em um dos padrinhos. Se lembrava de dizer a família que iria viajar, tirar um tempo para organizar a mente e seu coração. Então, ele tomaria esse tempo.

- Ângela, eu no momento, não tenho um lugar para voltar. Posso ficar por aqui um período? Você me ajudaria a ficar?

- Claro garoto. Minha casa é humilde, mas tem espaço. E todos aqui já querem ver você bem, vão gostar de saber que você acordou.

- Obrigada Ângela. Espero poder retribuir os cuidados.

- Eu sei que vai. Agora, vou pedir mais alguns exames e logo você pode sair daqui, ok? Ai te mostro a cidade e minha casa.

Antonio concordou. Sabia que algo lhe faltava, e imaginou que seria esse reencontro com si mesmo, a parte que lhe faltava. Após exames, dois dias em observação e uma alta com autorização e cuidados administrativos com Ângela, Antonio foi para a casa da mulher.

Meses nesta cidade, ajudando com a pesca local, e nas horas vagas, com aulas de jiu-jítsu para crianças, Antonio começava a se sentir completo. Mas a sensação não passava. Faltava o choque. Faltava a eletricidade que corria em sua mão, em seu peito.

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