• Álbum de Casamento •

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Amanda já estava sentada, a mais de uma hora após a entrevista, quando ouviu o bater na parede baixo. Levantou seu olhar em direção à porta, e viu Antonio. De camisa preta, calças jeans surradas e cabelos um pouco mais compridos, a barba por fazer e os braços cruzados, o desejo se tornou latente em Amanda. Mas não era hora de pensar nisso.

- Entre.

Antonio que já estava a alguns minutos a observando, deu alguns passos à frente, passando assim por Amanda e se sentou na poltrona ao lado dela, ficando os dois com o olhar em direção a praia. Ele já havia contado novamente as pintas. Vinte e seis nas costas, que estavam desnudas no vestido azul. Alice. Ele já havia conhecido ela. Mas ela mentiu o seu nome. Primeiro engano. O tempo havia mudado, estava nublado e cinza, as primeiras gotas de chuva começavam a cair. Amanda estendeu a Antonio, o álbum de fotos do casamento.

- Eu não sabia por onde começar, então... Preferi começar por onde prometemos que o nosso amor iria acontecer, e não iria acabar.

Antonio abriu álbum, repassando as páginas em silêncio. Fotos de Amanda vestida de noiva, de Antônio em seu terno, a família, amigos, o altar, a festa. Mas nada daquilo, trouxe um resquício de lembrança a Antonio.

- São belas fotos.

- Sim. São.

Amanda respirava fundo e pesadamente. Era o pior dia possível, para aquela conversa. Yan estava gripado, a notícia vazada, a data da volta se aproximando. Muita coisa para apenas ela carregar sobre os ombros.

- Quanto tempo?

- Oi?

- Quanto tempo faz que isso aconteceu?

- Esse casamento, seis anos. Casamos antes no cartório, para oficializar e que eu pudesse ter o visto definitivo mais rápido.

- Então... Seis anos atrás. Aqueles meninos?

- Sim. Nossos.

- Nossos.

Antonio levantou, começando a rir.

- Olha. Fala sério! Eu nunca quis me casar, ter filhos. Você acha que algumas fotos, vão me convencer disso? Eu perdi a memória, mas entendo de Photoshop ainda. Fala. Quanto você quer pra sumir e me deixar em paz?

Amanda olhava atônita para Antonio. Golpe? Paz? Não. Isso não podia estar acontecendo.

- Espera. Do que você está falando?

- Ah! Você acha que é a primeira que vem com isso de eu ser pai? Eu lembro sim de você, Alice. Ficamos umas noites, mas nada mais. Se você engravidou e achou que eu seria otario de acreditar em tudo isso, você está enganada. Eu casei sim, a vinte anos atrás. Mas ficou ótimo como você colocou seu rosto, no da minha ex mulher. Porém, eu jamais cometeria o mesmo erro duas vezes. – Antonio chegou mais perto de Amanda, levando a mão até seu queixo e segurou o rosto dela – Você é bem gostosa, eu entendo por que eu te comi. Mas querida, não tem buceta no mundo que me fizesse querer casar. – Antonio se ergueu novamente, soltando o rosto dela e se afastou em direção à porta – Se os filhos são meus, e eu cometi esse engano, meu irmão irá cuidar disso. Adeus, Alice.

Antonio continuou andando pelo local, e avistou de longe a mãe e o irmão.

- Olha, eu não sei o que aquela mulher disse a vocês, mas eu não quero nada com ela! Resolva a questão dessas tais crianças, que ela diz serem minhas e pronto. Se forem mesmo, você dará toda a assistência. Mas eu não quero eles aqui. Todo ano vem uma dessas querendo me dar um golpe. Resolva!

Antes que qualquer um dos dois, pudesse dizer algo, Antonio saiu quase em disparada em direção a saída. Porém, Mário ouviu apenas o baque no chão. Quando se virou, Antonio estava caído, desacordado e com o nariz sangrando.

Amanda, ainda estava sentada, as mãos trêmulas e a sua única reação, foi deixar a xícara cair no chão. Esperava muitas reações de Antônio, mas não aquela. Encostou o corpo na poltrona, e a última coisa que viu, foi Regiane pulando a sua frente tentando segurar o seu rosto.

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