• Saudades e Dúvida •

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Mário pegou o contato de Ângela, que pode após abraçar Amanda, voltar a caminhonete. Sabia que a noite seria mais longa que o normal, mas era sua missão atual de vida. Amanda e os outros, ficaram na pousada, planejando os passos a diante. Logo que chegou a vila, Ângela se despediu de Camilo, que agora entendia a situação e desejou sorte a velha amiga, que se encaminhou para sua casa, avistando Antonio sentado nas escadas em frente à porta. Passou pelo mesmo, com o sorriso doce e entrou na casa. Sabia que aquele olhar, que Antonio a lançou, era de curiosidade. Deixaria o mesmo tomar coragem para questionar. O que não demorou.

- Ângela? Por acaso, você conhece a mulher loira que chegou na ilha?

Antonio já havia entrado, e se sentava na cadeira da mesa, enquanto Ângela servia o café em duas xícaras. Se aproximou também da mesa, e sentou em frente ao homem, pronta para falar.

- Conheci hoje. Ela está acompanhando uma família. Qual o motivo da curiosidade?

- Eu não sei. Ela passou por mim hoje, e quando pude ver seu rosto, ela começou a chorar na praia. A família, faz bem a ela?

- Muito bem. A amam, e ela os amam. Mas não é o que tem te deixado aflito. O que mais?

- Ela... - pigarreou – Ela, é quase a mulher dos meus sonhos. Parece diferente, mas tão... Igual. Será que ela é atriz, ou conhecida? – Antonio tomou um gole do café quente – Se bem que eu não ando ligado em quem está na mídia. Mas pode ter sido alguém famosa, e eu não lembro.

- Bom, um dia perguntamos. Mas Antonio, sobre a sua família, não está na hora de voltar, falar com eles?

- Não sei se sentem alguma falta de mim. Eu não fui o melhor o tempo todo. Magoei demais meu irmão e minha cunhada. Por qual motivo eles iriam me querer perto?

Ângela não sabia exatamente, como iniciar o assunto. Conhecia Antonio a meses, e ele sempre fora gentil, paciente, amoroso. Mas essa conversa, não seria tão simples. Ângela estendeu sua mão direita, segurando a de Antonio. Olhou em seus olhos, e iniciou:

- Antonio, você é quase um filho pra mim. Sabe disso. Mas querido, sua família sente a sua falta. Seu irmão, está aqui na ilha. Com sua mãe e a esposa. Eles sentem sua falta, e sentem muita. Eu vou lhe contar agora, algo que eu também descobri hoje, e você precisa ser forte, como um dia eu vi você lutar para estar aqui. – Antonio cerrou o senho, criando rugas em sua testa. Porém, concordou, pois sabia que Ângela não era de medir palavras, como estava fazendo, ou manter aquele tom leve. – Querido, quando lhe contei sobre seu acidente, te afirmei que não sabia quais danos você poderia ter sofrido, pela forte pancada na cabeça. Era um ferimento profundo, do qual você se recuperou fisicamente, mas existe uma sequela. A noite com a qual você se lembra, não foi a última noite antes da viagem. Aquela noite, foi a anos atrás, Antonio. Muitos anos. Você me entende? – Não havia expressão, apenas um mover lento e curto de cabeça. – Ótimo. Antonio, seu acidente, foi realmente grave. Você foi o único que sobreviveu, e foi por Deus. Quando o encontrei, ferido, machucado, desidratado, eu pensei mesmo que você não fosse aguentar. Mas você lutou. E eu espero que lute hoje, para entender a situação.

Antonio se levantou, quase que com um pulo. Se moveu em direção a janela já aberta, e tentou respirar. A cabeça latejava, enquanto Antonio tentava entender o que estava acontecendo, se lembrar do que aconteceu. Ele estava na ilha a quase um ano, vivendo como se o mundo lá fora, não esperasse nada dele, e sua mãe, seu irmão, seus amigos, estavam o buscando.

Antonio sentiu, as mãos de Ângela em seu braço, ao se colocar em seu lado. Virou seu rosto para a mulher, e novamente para fora.

- Eu estou aqui, vivendo como se só a minha vida importasse, ciente de que não havia deixado nada para trás, que não soubesse onde eu estava ou meu caminho. E eu não me lembro da minha vida, em anos? Como eu posso ser tão estupido?!

- Antonio, você não se lembrava. Mal sabia seu nome completo. O importante, é que estão aqui. Querem conversar com você, te explicar a situação. Tudo bem? Você consegue?

- Sim. Eu consigo. Amanhã.

Antonio saiu, porta a fora correndo em direção à praia.

Que tipo de homem, abandona a família?

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