• Egoísmo •

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O bip insistente do alarme, já estava deixando Amanda irritada. Estendeu o braço esquerdo em direção a mesa ao lado de sua cama, batendo na tela do celular, enquanto ao fundo, Ella fazia barulhos baixos enquanto brincava com os próprios pés. Abrindo os olhos, incomodando com a claridade do ambiente, ela se virou encontrando a filha perdida nos próprios estímulos. Ergueu o corpo, aproximando da filha e começou a brincar com as mãozinhas entrelaçando seus dedos aos dela. A menina, apertava os dedos de Amanda com força, tirando um riso baixo e fraco da mulher. Em instantes, sentiu a cama se mexer. Yan e Ruan, subiram devagar pelas pernas da mãe, se deitando ao seu lado.

- Mamãe, Yan e eu queremos falar com a senhora. – Os gêmeos se olharam por cima dos ombros da mãe concordando juntos – O papai está bravo com a gente?

A hora chegou.

- Queridos... Façam um favor a mamãe? Pega o tablet aí na gaveta.

Ruan esticou o braço, pegando o eletrônico e o entregando a mãe. Amanda abriu o site de notícias, e suspirou fundo.

- Meus meninos, o papai sofreu um acidente. Vocês sabem disso, não é? – Os dois concordaram novamente. – Perfeito. O papai, machucou a cabeça com força. Ele lembra de poucas coisas, de alguns anos atrás. E infelizmente, a mamãe, vocês e a Ella, ainda não voltaram a mente do seu pai. Estamos com calma, cuidando dele, tudo bem? Logo ele volta pra nós, como sempre foi. Aliás, hoje eu vou conversar com ele! – Amanda soltou um riso maior, segurando os filhos e os puxando pra si – O papai só está confuso. Mas ele ainda os ama, confiem na mamãe.

Os dois meninos se aconchegaram a mãe. Não entendiam com perfeição, como o pai podia não lembrar deles, mas confiavam na mãe. Amanda, sempre foi sincera com os filhos, e tudo o que ela dizia, se resolvia. Eles podiam aceitar isso.

- Mamãe, podemos ver ele? Ruan não o viu ainda, mas eu vi ele. Podemos?

- Eu vou conversar com ele hoje, e depois podemos ver isso. Eu prometo que seu pai vai lembrar de vocês. A Mamãe vai fazer de tudo.

Os meninos levantaram e começaram a pular na cama, empolgados com a ideia de poder estar de novo com o pai, contando um ao outro sobre o que contariam primeiro. A luta, o jogo, o aniversário, a viagem até a ilha e como estavam gostando do lugar.

Ella seguia entretida em seus pés. Como era bom a inocência.

Amanda, ainda estava abalada pelo pesadelo. Ele lembrou da contagem de pintas em seu corpo, desde que ele a encontrou, meses após Nova York em Curitiba, e a reconheceu pelo mesmo detalhe. O medo tomou conta de sua mente. E se ele realmente achasse que era um golpe? Que ela era apenas a mulher que escondia o nome e fugiu dele quando começou a sentir que o amava? Não. Ele não era mais esse homem.

(...)

18 horas antes.

- Ângela, o que você sabe sobre ela?

- Antonio, eu a pesquisei na internet. Você ela aparecem em tudo. Veja.

Ângela entrega o celular a ele, com diversas reportagens. Desde o casamento, os gêmeos, a clínica, as viagens, tudo o que faziam, era notícia. Como uma médica do Paraná, conquistou o coração do empresário de Miami, que jurava não querer mais amar. Livros escritos sobre eles, um fã clube. Ângela também mostrou a ele, o perfil dela no Instagram. Foros dos dois, das crianças e de uma menina. Um bebê chamado Ella. Antonio devolveu o celular a Ângela, as mãos suando e a cabeça doendo na nuca novamente.

- Eu tenho filhos, Ângela?

- Tem sim. Três crianças. Dois meninos e uma menina. Nasceu pouco depois do acidente.

- Ângela... Eu tenho filhos.

- E uma esposa. E ela é formidável. – Ângela se aproximou dele, segurando a sua mão e sentou ao seu lado. – Antonio, Camilo e eu não damos certo como marido e mulher. Eu não sabia o motivo, até conhecer essa mulher. Eu morreria por Camilo, mas ela vive por você. Vá hoje, converse com ela.

- Não é uma mentira... E eu a deixei sozinha, com filhos, sem respostas. Eu fui um grande egoísta Ângela, e ela não merece continuar amando uma pessoa desprezível, que abandonou os filhos e a esposa grávida. Fiquei ficado em viver longe da minha família, e deixei sozinha alguém que não merecia.

- Antonio, você não sabia! E eu sei que ela entende essa situação.

- Eu não sei quem é ela. Não sei quem são essas crianças. Eu sei apenas de uma coisa Ângela... Eu a abandonei. Não mereço o amor que ela sente, diz sentir ou acha que sente. Um infeliz eu sou! Isso sim!

Antonio levantou da escada, andando em direção à frente da casa. Camilo passou pelo rapaz, que mal o cumprimentou. Chegou a Ângela, a vendo desolada olhando para o chão.

- O que houve? Ele passou por mim e quase me levou voando.

- Eu tentei ajudar e acho que piorei. Ele é um cabeça dura, precisa entender que não tem culpa do que houve.

- Ihhh... Vai dizer que tu deu com a língua nos dentes?!

- É. Pode falar que avisou.

Camilo foi até Ângela, se colocando de joelhos a sua frente. Segurou no rosto da Amanda, e o ergueu pra si.

- Ângela, você só quis ajudar. E eu admiro seu coração por isso. Eu te amo minha Angel, e sempre vou amar do jeito que você é. Até me aceitar de volta nessa casa, nessa vida e ao seu lado. Você sabe. Então, não se culpe por amar e acreditar no amor, pois você tem o coração pro amor. Eu te amo querida!

- E eu te amo Milo! Obrigada querido.

Os dois entrelaçaram as mãos, e Camilo se ergueu, sentando ao lado dela. Abraçou Angela e a puxou para seu ombro. Essa história não teve fim, e eles não acabariam assim.

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