• Gelado •

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Dorea bateu na porta do quarto algumas vezes, mas não houve resposta. Decidiu entrar, pois precisava pegar outra mamadeira para Ella e a manta da menina, já que a temperatura havia caído alguns graus. Já era começo do fim de tarde, a brisa do mar estava mais forte ao norte. Sinal de temporal talvez? Olhou em volta, a carteira e o celular de Amanda estavam sobre a cômoda, a porta do banheiro encostada, fez com que Dorea imaginasse que ela estava lá. Chamou pelo seu nome, na senão houve resposta, assim se aproximou da porta batendo algumas vezes. Ouviu um murmuro baixo, seguido de outro pouco mais alto. Segurou a maçaneta e avisou que iria abrir; Ao olhar para dentro, viu Amanda de lábios roxos completamente molhada, tremendo e segurando com uma das mãos na beirada da banheira, se esforçando para erguer o colo. Não pensou duas vezes, ao segurar seus braços e passar os próprios por trás de suas costas, puxando Amanda para fora da banheira e a segurando em seus braços. Puxou duas toalhas, enrolando as duas em Amanda e voltou ao quarto.  Bochecha que estava do lado de fora, viu Dorea passar com Amanda no colo e entrou com um sobressalto atrás do amigo.

- Pega outra coberta, temos de tirar a roupa dela. Ela está tremendo, gelada, rápido!

Dorea afastou as toalhas, despiu Amanda e a enrolou na coberta que Bochecha pegou no guarda roupas. Enrolaram Amanda nela, no edredom e em mais uma coberta. Dorea sentou na cama, puxando Amanda para seu colo balançando o corpo da mulher devagar, enquanto Bochecha sentado ao pé da cama, com pesar nos olhos, voltou sua atenção a ele.

- Ela vai acabar se ferindo. Você sabe.

- Ela precisa de força, e ela vai ter se continuarmos com ela. Desde o início, sempre apoiamos os dois, principalmente ele na busca por ela, pelo Brasil quase todo. Não é agora que vamos desistir não é mesmo?

- Não, jamais! Ele está aqui. Vamos aliás ver ele hoje, Cigano já estava se preparando. Mas acha melhor ficarmos aqui? Cuidar dela?

- Melhor vocês dois irem. Eu fico aqui com ela e as crianças com as mães deles. Só não deixa ninguém mais a ver assim, e pede pra trazerem algo bem quente, ela precisa tomar.

- Ok Treinador. Já volto.

Amanda moveu lentamente o corpo, se aninhando sobre as cobertas pesadas. O corpo tremia, os lábios rígidos, os dedos dos pés e das mãos mal se moviam. Foram quase cinco horas naquela água, que ficava mais fria a cada instante, pois a porcelana não era o melhor condutor de calor. Ouviu a conversa baixa dos homens, mas não entendeu quase nenhuma palavra, apenas recobrou um pouco da própria consciência, quando sentiu o líquido quente em sua boca. Conforto, ela sentia conforto naquele cuidado. Em alguns minutos, já conseguia sentir os lábios novamente, os dedos já estavam se movendo de forma normal e o corpo havia parado de tremer. Dorea retirou uma das cobertas sobre seu corpo e Amanda se mexeu novamente.

- Dodo, você está aqui ainda?

- Estou sim. Sabe que eu sempre estarei aqui menina.

- O que aconteceu?

- Você estava na banheira, gelada, bem gelada. Te colocamos aqui quentinha. Como você está?

- Bem. Quentinha agora.

Amanda sentiu o rosto corar. Dorea foi quem a achou primeiro em São Paulo, quando Antonio procurava por ela, desde a sua partida de Nova York, na época em que ela tinha voltado do comitê de medicina. O amigo sempre torceu pelos dois, até mesmo quando Amanda não torcia por ninguém.

- Você comeu hoje?

- Comi sim, haviam algumas frutas aqui. E agora estou tomando chá! Então eu estou comendo .

- Amanda. A quantos dias você não come mesmo? Comida? Ou você esquece que precisa de alimentos, para dar alimento a seu bebê? Ella precisa de seus nutrientes também menina. E não digo por maldade, Amandinha. Digo por cuidado. Por favor. Vamos jantar hoje? Sua mãe, sua sogra, as meninas, você e eu. Vamos comer algo decente hoje, e cuidar de você?

- Dodo, eu sei que não é maldade alguma vindo de você. – Amanda se remexeu, notando que estava nua e se fechou na coberta novamente citada pela timidez repentina – Eu aceito jantar. Vá lá dizer ao pessoal. Vou apenas me arrumar!

Dorea concordou e pode ir atrás dos citados. Amanda tirou as cobertas, levantou e colocou novas peças de roupa, um pouco mais quentes devido a temperatura. Sabiam que Antonio estaria com os amigos pelo restaurante da praia, e decidiram em conjunto que fariam o jantar na área interna, com as crianças pelo frio da noite. Pegou o casaco dos meninos e mais uma manta para Ella. Amanda sabia que precisava de cuidar de si, de melhorar para as crianças, mas precisava de forças para essa noite e os dias que viriam. Ella precisava da mãe. Ruan precisava. Yan precisava. Ela não podia negligenciar os filhos. A culpa começava a queimar a mente de Amanda.

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