• Carta Onze •

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Hoje completam nove meses, desde a sua partida. Encerraram as buscas na ilha, por toda a região da floresta. Encontraram todos, exceto você. O que nos deu esperança de você estar vivo, pois também encontraram rastros de pedaços do avião intactos em direção à praia. Só faltam duas pequenas vilas, uma mais próxima a floresta e a outra da praia. Vão começar pela floresta, pois aquela faz mais sentido, pois ali poderiam ter ouvido o barulho do avião, pedidos de socorro, ou qualquer coisa. Iremos chegar a você amor. Eu juro.

Mas vamos de atualizações da nossa casa. Ella está ainda mais esperta esses dias, descobrindo o mundo a sua volta. Ela ama a voz da sua mãe, sempre abre o sorriso pra ela, principalmente quando ela fala de você, das suas lutas, de sua cantoria. Marcos veio aqui com o Cigano. Eles também amaram a nossa filha, e ela os amou. Ela sabe Antonio, reconhecer a todos que estiveram conosco. E nossos filhos? Eles são os melhores irmãos do mundo. Me ajudam constantemente, me permitindo respirar mais tranquila a cada dia, que cuido deles. O que me dá mais tempo de estudar esse maldito mapa de ilhas, implorando todo dia a Deus, para que você esteja em algum canto dali. 

Eu estou com saudades, e tamanha esta, eu sonho com você. Fico horas por dia sentada em frente à janela, olhando o sol se pôr contra as árvores atrás da nossa casa, sempre dando um aceno para o lago. Eu sei que ele está lá, sabia? Ainda tenho medo daquele jacaré, mas ele está lá antes da minha chegada, vai estar lá até descansar. Eu não me vejo mais sem a companhia dele, no fim de tarde e início da manhã. Digamos que ele me dá bom dia, me escuta chorar sobre você pela manhã. Me dá boa tarde, e me ouve praguejar sua falta. Ele sabe exatamente o que sinto e quando, como ritual dele também. Acho que ele também sente sua falta.

Antonio, talvez neste ponto, você já esteja cansado de ler esta frase, não entenda tão bem o motivo de eu seguir dizendo que espero sua volta, mas eu não posso desistir. Eu sei que as pessoas estão desistindo. Eu ainda ouço as conversas por esta casa, sem que me notem. Sou boa nisso até onde sei.

Sua mãe não consegue esconder o semblante de cansaço, enquanto conversa com minha mãe sobre as possibilidades. A poucos dias elas estavam conversando, apenas para decidir se seria melhor encontrar um corpo ou não encontrar nada. Meu estômago revirou, meu pulmão doeu enquanto eu puxava o ar. Que ideia é esta? Porque estavam com uma discussão assim? Você está aí, eu sei, eu sinto. Eu não estou louca, eu não estou ficando perdida na história da minha vida. Você está aí, Antonio! Eu não vou desistir, não nesta vida.

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