Capítulo 03

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Sana.

Quando abrimos os olhos, já estávamos em um ambiente muito mais iluminado, com misturas das cores azuis e verdes. Quando me acostumei com aquela visão, percebi que me sentia mais leve, como se tivesse um peso nas costas durante todo aqueles anos da minha vida. Não entendi, mas aceitei.

- Não me toque! - O grito conhecido veio de Alef, que estava cambaleando para os lados. - Não preciso da sua ajuda! - Ele dizia aquilo para Ramom, que estava de pé o observando com a mão sobre a boca. A elevação das bochechas me mostrava que escondia o sorriso.

- Calma aí, pirralho. Você parece eu quando tomo mais de cinco copos de Néctar.

- Igual a você, eu nunca vou ser! Me recuso a parecer contigo! - Tentando permanecer de pé, toda a força do menino apenas serviu para que quase caísse de frente para o chão. Ramom foi mais rápido e o segurou.

- Era melhor ter vindo voando.

- Vai se fe...- E com um movimento perspicaz, o homem tampou a boca do menino, olhando para a fada. Talvez a palavra fosse proibida. Muito bem pensado.

- Olha a boca!

- Isso pode ser explicado. Alguns humanos são mais sensíveis a magia do que outros. - Erdem, o azulado, estava com as mãos sobre a cintura de Luara, que parecia ter o olhar bagunçado. - Isso vai passar com o tempo. Está tudo bem? - Sua atenção se voltou para a loira, que apenas assentiu com a cabeça, fechando os olhos. - Se segure em mim até sentir mais firmeza nas pernas.

Levantei minha cabeça, desejando muito ter um papel e um lápis para gravar aquele momento, Luara daria tudo para conseguir a pintura. Talvez depois nem se lembrasse do que acontecia ali. O som de um gemido foi o suficiente para puxar minha atenção. Forger se esticava como se tivesse acabado de acordar, suas costas estralaram com os movimentos.

- Parece que fiquei dormindo por dias em uma mesma posição. - Seus braços foram alongados para trás e para frente, estendendo os músculos.

- Não sei como a Sana está tão bem. - O comentário veio de Ramom, que apesar de tentar ajudar o garoto, também parecia afetado.

Só então percebi que era verdade. Nunca fui a mais forte do grupo, mas estranhamente estava com uma resistência muito maior, para não dizer completa. Não sentia nada demais, diria que me sentia até melhor do que antes de sermos teletransportados.

- É raro, mas algumas pessoas não sofrem dos efeitos. - A expressão do azulado também parecia confusa, me inspecionando da cabeça ao pés com atenção. - Entretanto, elas sempre tiveram algo em comum, entraram em contado anteriormente com a magia daqui, seja através de pessoas ou objetos. Você já conheceu alguém deste lado da linha? Ou comprou um objeto vindo daqui? Um objeto mágico?

- Não. Pelo menos, não que me lembre.

- Isso é muito estranho. Com certeza deve ter ficado com algum artefato.

- Até porque, encontrar pessoas daqui é bem difícil. Acho que os únicos que puderam ter esse privilégio foram os da alta nobreza. - Luara comentou, assim que conseguiu andar alguns passos sem cambalear.

- Conhece-los também é um privilégio. - O azulado respondeu, encarando fixamente a menina.

Não era possível...ele estava fazendo de propósito ou minha mente já tinha sido tomada pela malicia. Se minha amiga não se apaixonasse naquele instante, em alguns dias teríamos esse problema. Todos os seus relacionamentos anteriores foram curtos e não muito duradouros, os homens humanos odiavam mulheres mais inteligentes e que gostavam de falar e essa definição se encaixava perfeitamente nela. Quantos dias o azulado aguentaria antes que eu tivesse de consola-la novamente?Talvez os gostos daquelas criaturas fossem diferentes, caso contrário, teríamos um mal entendido dos grandes. Eu torcia para que Erdem não fosse uma imagem importante, muito menos solteiro. O melhor era conversar com Luara, mas conhecendo a mesma e como ela ficava quando se sentia atraída por alguém, não adiantaria muita coisa.

O Beijo Da FadaWhere stories live. Discover now