Capítulo 10

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- Boa noite. - Dei o meu melhor sorriso, antes que voltasse minha atenção para trás, olhando o caminho pelo qual os príncipes sumiram. O arrependimento bateu forte. Deveria ter aproveitado a oportunidade e ido junto.

- O que está fazendo? - Sua pose era firme e seus olhos insistentes.

- O mesmo que você. Indo para o jantar.

- Não teste minha paciência, não sou nenhuma tola. Não tente se safar e me conte a verdade. Estava espionando a princesa Diana e seu irmão? - Aquilo era um bom sinal. Então ela me pegou só enquanto estavam os dois.

- Não. Por que faria isso? Quando cheguei eles estavam conversando e apenas não quis me intrometer. Poderiam achar que estava fazendo o que você acabou de insinuar.

- Que isso não volte a acontecer. - Suas mãos agarraram meus pulsos com um aperto forte. Mesmo para outra cavaleira, Rachel tinha força. - As fadas se ofendem muito rápido e possuem uma audição sensível. Qualquer movimento, seja quebrar um galho, estalar a língua, derrubar uma folha na agua dessa fonte, qualquer coisa que produza som, poderia ter a entregado. E como ficaríamos? Mal chegamos e já colocaríamos a confiança da rainha Taliena a prova?

- Sinto muito.

- Sua estupidez poderia nos colocar em risco, compreende isso? Não faça mais bobagens do que já fez até agora. - Seu aperto aumentou, antes que me soltasse de maneira bruta, andando com seu vestido dourado. Os cabelos estavam presos em um coque mais frouxo do que o meu e usava joias para enfeitar-se. Depois dessa cena, acreditei em cada palavra do que Luara me disse, sobre a vontade de Rachel em me matar quando fui um pouco mais rude com a princesa Diana.

- Isso não voltará a se repetir. - Minha voz estava baixa, conforme a raiva se apoderava de mim. Ela era espiã da familia Dellanova, mas não possuía nenhuma autoridade sobre o grupo. Na verdade, a presença da mulher era desagradável e deixava todos incomodados. Entretanto, também não jogaria todo o meu esforço para entrar nos cavaleiros e subir de nível, no lixo. Não por conta de provocações ou por conta de uma mulher com personalidade mandona. Aguentar aquele mês seria complicado, mas não impossível.

- Mude essa expressão emburrada e me siga, nos levarei para a mesa onde todos estão se reunindo. - Mas, afinal, o que ela fazia ali?

...

Quando todos começaram a rir de alguma coisa ligada a esquilos, percebi que me senti totalmente desanimada ali. Talvez fosse a única, pois até mesmo Alef, que ainda se sentia retraído com a presença das fadas, conversava com Elleniz sobre os animais fantásticos daquele mundo. Meus olhos dançavam sobre todos os presentes, sentindo meu peito apertar conforme as expressões sorridentes dos demais eram guardadas pela minha memória. A alegria estava ali, estampada em seus rostos. Alguma vez tínhamos tido aquelas reações ou comunhão durante as demais missões? Meu corpo sentia saudade da luta e da batalha, algo que as fadas não pareciam gostar muito. Se...se meus amigos decidissem ficar ali, o que seria de mim? Mais missões no reino das fadas? Eles estavam se esquecendo de que deveríamos voltar?

Eu tentei me convencer de que estavam apenas aproveitando a viagem, mas nunca tinha os presenciado tão...aéreos. A guarda de meus companheiros estava baixa, o que significava que aquelas pessoas os distraiam. Não podia julga-los. Lembrava-me de Hollen conversando comigo durante o pequeno passeio no corredor dos quartos reais. Apenas alguns minutos e sua presença me fez ficar segura, quentinha, como se encontrasse uma cabana ideal e aconchegante em meio a uma floresta congelada.

- Senhorita Sana? Cavaleira? - A voz era distante, conforme eu voltava minha atenção para a realidade. - Sana? - Se tratava de Rosetta.

- Me desculpe, alteza. Sim?

O Beijo Da FadaWhere stories live. Discover now